Como sempre, a voz do bom senso do aloprado governo Bolsonaro é a do seu vice, Hamilton Mourão. Ele resumiu com exatidão a polêmica envolvendo o contingenciamento da Educação: “Nós, governo, não soubemos comunicar isso”. E não soube comunicar porque a primeira informação que chegou à sociedade sobre esse contingenciamento foi pela panfletária e patética guerra ideológica travada pela ala olavista, com aval do presidente aloprado e dos seus filhos, os “alopradinhos”.
[bs-quote quote=”Weintraub estava mais preocupado em derrotar o ‘marxismo cultural’ numa grande cruzada épica contra ‘os comunistas’ do que explicar aos parlamentares e ao povo brasileiro o que o MEC está fazendo” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
A notícia que originou o debate foi de que haveria “cortes” de verbas, não contingenciamento, e por conta da “balbúrdia” em três instituições: a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Depois a sociedade se deu com a informação de que o “corte” seria, na verdade, geral e irrestrito para todas as universidades e institutos técnicos federais.
Em seguida, o governo percebeu que havia uso semântico indevido e trocou “corte” por “contingenciamento”, e que não seria de 30%, mas de 3,4%. Isso porque, conforme o Ministério da Educação, o bloqueio de 30% dos recursos diz respeito às despesas discricionárias (não obrigatórias). Se considerado o orçamento total dessas instituições (R$ 49,6 bilhões), o percentual bloqueado, então, seriam os 3,4%.
Tarde demais. Os 30% se sobressaíram e os 3,4% ficaram muito pequenos para serem percebidos, e deixaram a impressão de que era uma mera tentativa eufemística dos aloprados bolsonaristas de tentarem reduzir o estrago que eles mesmos fizeram.
De toda forma, as universidades dizem que o contigenciamento é, na verdade, um estrangulamento. Veja o caso da Universidade Federal do Tocantins (UFT), que avisa que terá congelados R$ 19,8 milhões — no Instituto Federal do Estado (IFTO) serão mais R$ 13,4 milhões. O reitor da UFT, professor Luis Eduardo Bovolato, afirmou na Assembleia Legislativa nessa quarta-feira, 15, que só tem recursos para mais dois meses e meio.
A situação é preocupante, e fica cada vez mais a impressão de que esse contingenciamento tem jeitos e trejeitos de outro capítulo da estúpida batalha ideológica quixotesca dos Bolsonaros e seus templários, não uma medida técnica, pensada, planejada. Como disse um deputado na trágica tentativa de apresentação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, na Câmara, parece que o MEC quis punir as universidades por “mau comportamento”.
Sobre as explicações do ministro, elas foram abafadas por seu cinismo e despreparo político. Weintraub estava mais preocupado em derrotar o “marxismo cultural” numa grande cruzada épica contra “os comunistas” do que explicar aos parlamentares e ao povo brasileiro o que o MEC está fazendo. A única coisa que o ministro provou com a sua performance de cavalheiro templário contra o mau é que realmente se enquadra no tipo de maluco olavista tão valorizado pelo governo Bolsonaro. Weintraub se encaixa no exato perfil de seu presidente. A mão e a luva.
A esquerda populista, como sempre, soube usar o despreparo do ministro, provocando-o e tirando dele respostas destemperadas, que acabavam atingindo não só os detratores, mas todo o plenário. “Eu fui bancário, tive carteira assinada, ouviram? A azulzinha. Não sei se conhecem”, insinuou ele, numa referência à carteira de trabalho, deixando a impressão de ter chamado todos os deputados de vagabundos. Mas, na sua cabeça quixotesca, que só via moinho de ventos à frente, julgava ter atingido apenas os “esquerdopatas” num golpe certeiro.
Para piorar, nos Estados Unidos, aonde foi sem ninguém entender até agora porquê visitar um George Bush sem qualquer importância no atual cenário político americano, o presidente Jair Bolsonaro, também com sua armadura e escudo templários, atacava, como se fossem dragões, estudantes e profissionais da educação que foram às ruas protestar, ao classificá-los de “idiotas úteis” e “imbecis”.
Ele me lembrou na hora em que ouvi os então ministros da ex-presidente Dilma Rousseff, Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) e José Eduardo Cardozo (Justiça), que na noite de um domingo, em 15 de março de 2015, minimizaram os milhões de brasileiros que, naquele dia, protestaram por todo o País.
Um ano depois, Dilma estava fora do mandato pelas forças das ruas que só aumentaram desde a fala infeliz de seus ministros.
CT, Palmas, 16 de maio de 2019.