Estas eleições estão muito atípicas mesmo. Nessa terça-feira, 4, passei em quatro rodas de discussões sobre as disputas de outubro. Antigamente, a primeira pergunta que me fariam era quem eu achava que venceria para governador. Claro, o principal cargo político do Estado, sobre quem recai a responsabilidade de administrar o presente e o futuro do Tocantins e que, por isso, tem total domínio da máquina pública, a grande fomentadora da nossa economia.
Contudo, não foi essa pergunta que me fizeram nas quatro rodas, de grupos políticos diferentes. A questão foi sobre quem seriam os vencedores das duas vagas de senador. Isso me chamou a atenção apenas no último grupo, já no final da noite. Fiz a observação de que a ordem de importância do processo eleitoral estava invertida e todos gargalharam, concordando.
[bs-quote quote=”Com o resultado da eleição suplementar, os erros na composição de forças na convenção, as desistências e desistência da desistência em 24 horas, a recusa em subir em palanques por causa dos próprios aliados, enfim, uma sucessão de tropeçadas amadoras da oposição elevaram a sensação de todo o meio político e de quem acompanha as eleições mais de perto de que a fatura para a disputa pelo Palácio Araguaia está liquidada” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Com o resultado da eleição suplementar, os erros na composição de forças na convenção, as desistências e desistência da desistência em 24 horas, a recusa em subir em palanques por causa dos próprios aliados, enfim, uma sucessão de tropeçadas amadoras da oposição elevaram a sensação de todo o meio político e de quem acompanha as eleições mais de perto de que a fatura para a disputa pelo Palácio Araguaia está liquidada. Mesmo aqueles que apoiam os candidatos da oposição — e conversei com vários deles nos últimos dias em encontros casuais —já admitem que uma virada nessa altura do campeonato é muito pouco provável.
A última carta é uma hipotética virada de mesa via Justiça Eleitoral. Acreditam que a operação da Polícia Federal na suplementar vai chegar em plenário este mês e que o governador Mauro Carlesse (PHS) será cassado. Quando a aposta se dá numa manobra dessa envergadura é porque a situação está ruim mesmo. É como o doente em estado terminal apostando numa intervenção divina. Algo desse tipo.
Ainda que houvesse uma decisão na esfera do Judiciário estadual, a ela caberiam recursos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com uma infinidade de manobras protelatórias possíveis, que não impediria a eleição, diplomação, posse, pelo menos uns dois ou três anos de gestão, e, lógico, muito mais instabilidade a um Estado combalido.
A alegação de que uma cassação em instância estadual faria a candidatura de Carlesse derreter também me traz uma série de dúvidas sobre a eficácia disso, diante do volume de gordura que todas as pesquisas têm mostrado que o governador acumula. Até que ponto perderia eleitores?
A decisão eleitoral ficaria para o segundo turno? Talvez sim, talvez não, dependendo de como o eleitor descrente com a política — “tudo ladrão”, diz ele — receberia a notícia. No segundo turno, em um Estado em que a liderança carrega os votos para onde vai e que está, em sua maioria mais do que absoluta, fechada com o Palácio, até que ponto esse fôlego extra para a oposição daria resultado?
Veja uma ilustração dessa questão dos líderes: o candidato do PSB, Carlos Amastha anunciou o apoio de três prefeitos do Bico do Papagaio na noite dessa terça-feira, 4: uma já o apoiava, a de São Miguel, Elizângela Alves; o outro é sobrinho de um de seus candidatos a deputado estadual, o de Sítio Novo, Alexandre Farias; e a terceira é esposa de um candidato a suplente de um de seus senadores, a de Itaguatins, Ivoneide Barreto. Ou seja, nada de novidade. Quase todos os líderes no Estado estão na campanha de Carlesse.
O que sobra de interessante mesmo é a disputa para senador. Ela é a que tem chamado mais a atenção do eleitor e dos operadores da política. Sobretudo após a saída do ex-governador Siqueira Campos (DEM) do processo, que se tornou mais equilibrado.
Quem vai ganhar as duas vagas para o Senado? Tenho algumas impressões, mas nada está definido e a reta final tende a se tornar muito empolgante. Deixo que cada um forme a própria opinião.
CT, Palmas, 5 de setembro de 2018.