Cinthia Ribeiro (PSDB) é a nova prefeita de Palmas. Ela assumiu de forma definitiva nesta terça-feira, 3, a prefeitura para terminar o mandato iniciado por Carlos Amastha (PSB), que renunciou para se dedicar à sua pré-candidatura ao governo do Tocantins. Em crise com a direção estadual do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), mas prestigiada pela nacional, a gestora tucana disse à imprensa que não descarta se licenciar da sigla para apoiar Amastha, o postulante ao Palácio Araguaia de sua preferência, “se necessário”.
A posição revelada à imprensa após assumir o Paço acontece em meio ao processo de expulsão aberto pelo diretório municipal tucano. Cinthia Ribeiro foi notificada a se manifestar no dia 28 de março pelo Conselho de Ética do PSDB. A sigla acusa a prefeita de infidelidade partidária por apoiar a pré-candidatura de Carlos Amastha ao Palácio Araguaia em detrimento da indicação tucana para o cargo: o senador Ataídes Oliveira (PSDB), que preside o partido no Tocantins.
Sobre esta situação com sua legenda, Cinthia Ribeiro indica que vai aguardar o cenário em relação ao pleito suplementar se consolidar, mas adiantou que não vai seguir Ataídes Oliveira. “Nós só temos pré-candidatos, não temos candidaturas oficiais, mas na medida que o senador do partido oficializar esta candidatura, me sinto confortável para, se necessário for, pedir licença do partido para poder ir ao palanque do candidato que vou apoiar”, decretou.
Apesar do atrito e do processo de expulsão que enfrenta, Cinthia Ribeiro disse estar confortável no PSDB. “Não vou analisar que este intervenho todo vem de uma pessoa”, comentou. A prefeita cita ter “apoio irrestrito” do presidente nacional da legenda e governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; e do setor feminino do partido, que, inclusive, prestigiou a solenidade de transferência do Executivo com a presença de Yeda Crusius, que preside o segmento.
Apesar de não citar Ataídes Oliveira, críticas ao senador não foram poupadas. “Acho que vivemos em uma era onde o exercício do diálogo deve realmente ser levado como critério máximo. E política nada mais é do que exercitar esta arte. Imposições, as coisas de cima para baixo, não acontecem. Um líder precisa ser respeitado, não temido. Se vou temer meu líder de me retirar de uma posição ou outra ele perde o meu respeito. As coisas não podem ser construídas desta forma”, disse.
Cinthia Ribeiro também disse que não vê inteligência na postura do senador. “Não acho interessante da parte de alguém que pretende colocar uma candidatura se fechar ao diálogo, principalmente excluindo a Capital. Nem um pouco inteligente. Qualquer pré-candidato a governador quer o apoio de Palmas”, disse a gestora municipal, que avisou: “Vamos ver até onde a corda estica”.
Gestão e secretariado
A prefeita de Palmas se reúne na manhã de quarta-feira, 4, para tratar das mudanças na administração, mas prega que haverá continuidade. “Não é uma gestão diferente do que nós já vínhamos fazendo”, avisou Cinthia Ribeiro. A tucana disse que ainda é cedo para falar de reeleição, mas avalia ser “extremamente necessário imprimir uma marca”. “Até porque todos precisam dizer a que veio”, diz.
Em relação ao secretariado, Cinthia Ribeiro diz que fará algumas substituições em pelo menos cinco pastas, inicialmente. Vão sair da administração aqueles que pretendem disputar algum cargo eletivo em outubro. A prefeita adiantou as saídas dos titulares da pasta de Desenvolvimento Econômico, Kariello Coelho; da Saúde, Nésio Fernandes; e do Turismo, Euzimar Pereira de Assis. Inicialmente, alguns nomes podem ficar à frente de mais de uma secretaria.
“Em algumas pastas alguns colegas vão ser substituídos, mas a maioria vai permanecer. E as mudanças vão sendo feitas de forma gradativa, na medida da necessidade. São substituições pontuais, mas bastante significativas”, comentou a prefeita.
Diálogo
Cinthia Ribeiro ainda tocou em dois pontos sensíveis em relação a administração de Carlos Amastha, indicando a abertura de diálogo como a solução para ambos os casos. Sobre a política tributária de Palmas, reacendida após o aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) que acabou barrado pela Justiça, a prefeita defende que o tema deve ser analisado com “muita discussão” e “critério”.
“Obviamente nossa arrecadação é que faz com que todas as mudanças, todo o trabalho de qualidade, possam ser implementadas. Então temos que olhar de forma bastante criteriosa e responsável”, resumiu.
A prefeita de Palmas também falou da insatisfação do funcionalismo, que chegou a protestar contra a administração durante a solenidade. Cinthia Ribeiro garante que retomará as conversas com as entidades sindicais.
“Uma das marcas que acredito que seja indelével para qualquer gestor é franquear o diálogo. Tem que encontrar uma afinidade com os sindicatos, tem toda uma negociação para que ambas as partes saiam ganhando”, finalizou.
Relembre a crise tucana
O processo do PSDB metropolitano acusa a prefeita de infidelidade partidária ainda por conta do episódio de abril do ano passado, quando Cinthia Ribeiro foi destituída da presidência metropolitana ao tentar formar o diretório do PSDB de Palmas. A comissão provisória tucana defende que a postura adotada atingiu a executiva estadual ao judicializar o caso. A liminar pedida pela gestora municipal foi negada pela Justiça na época.
A comissão metropolitana ainda aponta o fato de Cinthia Ribeiro ter declarado apoio Carlos Amastha, quando o PSDB tem seu nome na disputa pelo Palácio Araguaia, o senador Ataídes. Os tucanos de Palmas ainda lembram que a prefeita chegou a dar entrevista, fazendo a defesa da pré-candidatura do socialista. Além disso, conforme a direção do partido, a vice-prefeita teria exonerado um indicado do partido para cargo no município — o nome não foi divulgado.
Depois de tirar Cinthia Ribeiro da direção metropolitana, o senador Ataídes Oliveira também tentou destituí-la da presidência do segmento feminino do partido no Tocantins, mas foi barrado por uma dura nota do PSDB Mulher Nacional. “Total desrespeito”, afirmaram.