Encontrar o fio da meada em uma obra de construção política é como um desafio de engenharia da construção civil: definir projeto, escolher material e equipe, mas, fundamentalmente, conquistar gente para sonhar com a casa pronta.
Fazer isto estando à frente de uma gestão é trabalho dobrado, já que implica convencer a população de que a gestão merece uma segunda oportunidade.
Partindo dessas premissas, podemos afirmar que o jogo eleitoral já começou, mas a entrada em campo exige uma estratégia bem elaborada.
[bs-quote quote=”Expor o desejo de apenas derrotar alguém, acima de todas as demandas sociais, pode ter sido um erro perigoso, que nos remete a uma outra pergunta: por que o eleitor compraria a ideia de derrotar a Prefeita Cinthia? Apenas por ela ter se livrado do Amastha?” style=”default” align=”right” author_name=”EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS” author_job=”É deputado estadual licenciado” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/eduardo-siqueira-60.jpg”][/bs-quote]
Nesse ponto, é possível afirmar que existe uma enorme diferença entre a postura da chefe do Poder Executivo municipal de antes e a da Cinthia de agora. Definitivamente, ela conseguiu mostrar ao cenário eleitoral de Palmas que será uma candidata competitiva e que vai requerer dos demais pretendentes que encontrem logo uma justificativa razoável para tirá-la da cadeira de prefeita, mostrando como isso vai beneficiar o cidadão.
O principal opositor da prefeita, seu ex-companheiro político e atual desafeto, Carlos Amastha, deu a ela uma grande contribuição, ao conceder uma importante entrevista. Ele cunhou uma frase que chamou a atenção ao dizer que o seu principal objetivo para as eleições 2020 era “derrotar” a Cinthia, a quem chamou de traidora.
Ora, o que o cidadão tem a ver com rusgas e rompimentos políticos? O eleitor já se acostumou e está mais do que enfadado com os tais rompimentos.
Cabe, portanto, falar de um projeto no qual o cidadão se sinta parte integrante, algo que o faça sonhar. O próprio Amastha venceu uma eleição assim, vendendo sonhos e projetos. Expor o desejo de apenas derrotar alguém, acima de todas as demandas sociais, pode ter sido um erro perigoso, que nos remete a uma outra pergunta: por que o eleitor compraria a ideia de derrotar a prefeita Cinthia? Apenas por ela ter se livrado do Amastha?
Para o eleitor, essas brigas fazem parte dos jogos de poder e de ego; se o ex-prefeito Carlos Amastha pretende mesmo ver eleito o ponderado e sensato vereador Tiago Andrino que saia de cena e deixe o moço trabalhar.
A prefeita Cinthia, por seu lado, tratou de organizar sua base na Câmara Municipal e de trazer, para perto de si, o senador Eduardo Gomes, grande articulador e, seguramente, o melhor operário da política estadual hoje. Fez o mesmo em relação à articulada senadora Kátia Abreu, que vem apoiando a prefeita e participando de atos solenes do paço municipal.
Assim, embora no Brasil costumem dizer que o ano só comece após o Carnaval, o bloco da prefeita Cinthia já está em plena avenida. Talvez, ela tenha desligado a TV e calçado um par de botinas, já que melhorou muito as suas relações em todos os níveis políticos e sociais.
Na questão partidária, além de convites para a sua filiação, ela também avançou, quando encaixou o experiente secretário Rogério Ramos em uma agremiação partidária, mostrando que siglas e grupos políticos não lhe faltarão para a disputa.
A bola agora está com os demais pretendentes ao cargo de prefeito. Dentre eles, não falta gente com experiência, assim como não faltam os já cansativos autodenominados representantes do “novo”.
Sentado em uma mesa no Palácio Araguaia, o vice-governador Wanderlei Barbosa é uma máquina de trabalhar. Caberá a ele esclarecer se terá a máquina governamental ao seu lado, unindo todo o secretariado e os demais escalões a seu favor, ou se herdará dela o peso de possíveis desgastes na capital do funcionalismo público.
Daí para a frente, seria obrigatório elencar o grande número de candidatos. Porém, em eleição de um só turno, quanto mais deles houver, melhor para a prefeita ver divididos os segmentos de oposição a ela. Vamos lá: deputado Valdemar Jr., Tiago Andrino, Raul Filho, Marcello Lelis, Gil Barison, Delegado Hudson, Milton Neris, Joseph Madeira, Professor Júnior Geo, Cavalcante, deputado Eli Borges e o pastor Nelcivan (anotem este nome). Nomes não faltam…
Eleição fácil ou resolvida? Jamais! Há uma frase que elucida bem essa equação: existem mil maneiras de se perder uma eleição antes do dia, mas nenhuma de se ganhar antes da divulgação dos primeiros resultados, quando se dá aquele estrondoso silêncio após o fechamento das urnas, às 17 horas, e o conhecimento das prévias, quando alguém já terá conseguido chegar na frente.
Daqui até lá, além da água das chuvas, muitas águas virão. Fatos inesperados, redes sociais ativas, mudanças partidárias, sangue, suor e lágrimas escreverão a história da próxima vitória. Se alguém deseja mesmo desalojar a prefeita de sua cadeira, é bom que trate de organizar um projeto que envolva o eleitor, que agrupe quem tenha votos na capital e ofereça uma opção viável que demonstre existir mais do que uma simples revanche, uma vontade de derrotar alguém.
Palmas é uma capital de muitas tribos e diferentes extratos sociais. Quem pretende comandá-la, além de competente, há que se mostrar pronto, à altura do desafio.
EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS
É deputado estadual licenciado, foi prefeito de Palmas, deputado federal, senador e secretário de Estado no Tocantins
palmas14777@icloud.com
(Afastado da política, Eduardo Siqueira Campos escreverá quinzenalmente neste espaço)