Em Palmas para cumprir agenda como candidato à presidência da República, Ciro Gomes (PDT) conversou com a imprensa na manhã desta sexta-feira, 24, antes de evento com militância e apoiadores no Ahãdu Eventos. No discurso, o pedetista que disse na última visita ao Tocantins esperar apoio do Partido dos Trabalhadores (PT), agora condena a estratégia da sigla em manter na disputa o ex-presidente Lula da Silva (PT), que cumpre pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
A crítica aos petistas aconteceu após Ciro Gomes ter sido questionado sobre a possibilidade de receber parte dos votos dedicados ao ex-presidente quando houver a cassação do registro dele. “Eu sou uma pessoa que aposta na inteligência do povo, e o que a cúpula do PT está fazendo é uma espécie de fraude”, disparou. Para o presidenciável pedetista, a cúpula do partido “agita a candidatura do Lula para explorar a boa fé da maioria do povo”.
“A gente sabe que o Judiciário não vai permitir, o Lula não é candidato. Daqui a pouco haverá a grande frustração – porque mais cedo ou mais tarde vai ser declarado inelegível -, e aí a tentativa da cúpula do PT é produzir uma comoção”, disse Ciro Gomes sobre a estratégia do Partido dos Trabalhadores de estender ao máximo a candidatura do ex-presidente para trocá-lo posteriormente pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), com a Manuela d’Ávila (PCdoB) de vice.
“Não representa nenhuma proposta”
Ciro Gomes também falou de outro favorito na sucessão presidencial segundo pesquisas de opinião, o deputado federal carioca Jair Bolsonaro (PSL). O pedetista disse que o adversário “não representa nenhuma proposta”, e destacou a habilidade dele de “capitalizar” o sentimento de insatisfação do eleitor brasileiro. “Bolsonaro, que é um político profissional, capitulou este sentimento, e vai falando o que as pessoas querem ouvir”, comentou o candidato antes de alertar o eleitorado. “É hora do brasileiro prestar atenção, botar a mão na cabeça. Nós não podemos errar”, acrescentou.
Ao comentar o fato de ser contra o porte de arma no Brasil, Ciro Gomes citou Jair Bolsonaro como um exemplo da ineficiência da proposta. O pedetista afirmou que o adversário na corrida presidencial já chegou a ser assaltado no Rio de Janeiro, mesmo estando armado e sendo “capitão do Exército” e “treinado por uma das melhores academias do mundo”, citando as Agulhas Negras.
Ciro Gomes também criticou a proposta do economista da campanha de Bolsonaro, Paulo Guedes. “Ele é a favor do fim do subsídio. Os neoliberais acham que o subsídio distorce o capitalismo. Ora, o Brasil tem a maior taxa de juro do mundo. Na ponta, se cobra 41%. Imagina, se você acaba com o subsídio, em 12 meses o agronegócio acaba, fecha. Não tem agricultura que bate 41% de juro”, decretou o candidato, ressaltando que o agronegócio tem certa simpatia pelo projeto do PSL ao Palácio do Planalto.
Tocantins
Em relação às carências do Tocantins, Ciro Gomes apontou a infraestrutura como algo que merece atenção com “urgência”. “Quero fazer com que a Ferrovia Norte-Sul cumpra o papel estratégico para a qual foi imaginada. Como tem uma empresa só explorando, o frete não é mais eficiente. É preciso estimular que o direito de passagem, que já está garantido na Lei, seja praticado para haja um frete mais barato”, exemplificou o candidato, que também disse ser necessário a conexão entre modais de transporte.
Questionado sobre a questão da agricultura, Ciro Gomes afirmou que delegará o tema à candidata a vice-presidência da chapa, a senadora tocantinense Kátia Abreu (PDT), citada como “a melhor cabeça” da área. “Tem muita sensibilidade com a questão da agricultura familiar, do pobre do sem terra. E é isto que queremos fazer, ao invés de estimular o conflito, achar um caminho de harmonizar esses interesses legítimos de quem produz e trabalha no Brasil. Então, ela que vai mediar para mim todas estas questões referentes ao agronegócio, logística”, anotou.
Em pauta no Congresso Nacional, a flexibilização do uso dos agrotóxicos foi colocado a Ciro Gomes como um tema de divergência que tem com sua vice, Katia Abreu. O presidenciável disse não ser o caso neste ponto, mas defendeu que os dois não tem “obrigação de pensar igual”. “Pelo contrário, como ela é muito mais capaz do que eu em certos assuntos, ela me orienta”, comenta. Entretanto, sobre o tema, o candidato disse haver, na verdade, uma convergência de pensamento com a senadora.
“Estamos muito aborrecidos, os brasileiros todos, com as burocracias e a corrupção das estruturas do governo brasileiro. E a pretexto desta justa queixa, estamos começando a procurar puxadinho, ou atalhos, que são estúpidos. Não se pode tirar da definição de licenciamento de agrotóxico a agência que cuida da saúde humana. Isto, evidentemente, não é possível, não podemos concordar com esta iniciativa, mas estamos completamente sensíveis com a necessidade de agilizar os processos de habilitação daquilo que for sadio para a comunidade”, comentou.
Flerte com o centro
Na entrevista à imprensa, Ciro Gomes ainda flertou com o centro. “A virtude está no meio. Nem o socialismo bruto, que tira a vitalidade da iniciativa privada; nem o liberalismo insensível, que produz milhões de miseráveis e pobres. É preciso achar convergência. E isto, modernamente, é um projeto nacional de desenvolvimento que concretamente atenda a gente do povo”, afirmou o presidenciável do Partido Democrático Trabalhista (PDT).
Ao falar isto, Ciro Gomes citou os principais projetos de governo. “Neste momento, superar o endividamento das famílias, ajudando 63 milhões de brasileiro com o nome sujo no SPC; restaurar a condição de competição no mercado financeiro para que se restaure a condição de financiamento empresarial, que hoje está colapsada; consertar a conta pública para restaurar a capacidade de investimento; e por fim retomar uma ideia de política industrial e de comércio exterior em grandes complexos em que o Brasil pode ter protagonismo mundial”, elencou.
Um dos últimos assuntos abordados pelo presidenciável foi a reforma política. Questionado, Ciro Gomes defendeu o projeto, mas ponderou para o fato de que o cenário político brasileiro é resultado da escolha da população. “Nós precisamos fazer uma reforma política, mas lembremos sempre: todos os políticos que estão aí estão eleitos por nós, menos o [Michel] Temer. Portanto, nós precisamos, com muita humildade, pedir a Deus que ilumine o nosso povo para que dê valor ao seu voto. Faça dele um uso consciente. Não se apaixone por político, a gente deve se apaixonar por artista”, encerrou.