O empresário Elton Felix Gobi Lira, preso no Centro de Detenção Provisória de Icoaraci, em Belém (PA), jogou sobre o ex-presidente do PreviPalmas Max Fleury toda a responsabilidade sobre os investimentos de risco de R$ 50 milhões no Cais Mauá, de Porto Alegre (RS). Em cerca de três horas de depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do PreviPalmas, nessa terça-feira, 7, Gobi Lira contou ter ouvido de Fleury que o projeto era tirar R$ 200 milhões do instituto de Previdência do servidor da Capital e ainda teria dito ainda ao empresário que passou parte da comissão ao “chefe”.
Os membros da CPI só vão se pronunciar após analisar e cruzar o depoimento com as informações já colhidas durante as investigações. O CT, no entanto, conversou com o advogado Leandro Manzano, que defende o ex-prefeito Carlos Amastha (PSB) e acompanhou a oitiva de Gobi Lira com autorização da sistema prisional do Pará. Segundo Manzano, o empresário não soube dizer quem era o “chefe” a que teria se referido Max Fleury. “Quando ele falou em ‘chefe’ os vereadores da comissão insistiram perguntando se seria o então prefeito Carlos Amastha, e, depois de muita insistência, o Gobi Lira soltou apenas um ‘pode ser’, mas ficou claro que ele não sabia de quem se tratava”, avaliou Manzano.
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Conforme o advogado, o empresário, que hoje é réu em processo que investiga desvio de mais de R$ 30 milhões em recursos de fundos municipais de Pará, Tocantins, Santa Catarina, Amapá e Brasília, contou que tinha interesse em ampliar suas relações com dirigentes do PreviPalmas com o objetivo de fazer negócios. Para isso, contou ter cooptado um servidor do instituto para receber informações privilegiados. “Porque, nas palavras dele, o PreviPalmas era um instituto saudável, visto como incorruptível e tinha um prefeito, o Amastha, milionário e que não precisava de nada e não aceitava coisas erradas”, disse Manzano.
Foi esse contato que lhe informou que o PreviPalmas contrataria um consultor. Assim, Gobi Lira participou da licitação com o menor preço possível apenas com o objetivo de ter acesso ao centro de comando do PreviPalmas. Manzano contou que o empresário prestou serviços ao instituto por volta de 2015. Depois, sem conseguir negócios, preferiu não renovar o contrato. De janeiro a junho de 2017, tentou ainda negociar com o instituto, via Fleury. No entanto, foi preso pela primeira vez por suposto envolvimento em fraudes em fundos de pensão em junho daquele ano.
No período de consultoria, conforme o advogado de Amastha, Gobi Lira disse que tentou apresentar possibilidades de investimentos do PreviPalmas em diversos fundos, entre eles o Cais Mauá, ao então secretário de Finanças, Cláudio Schüller. “Ele disse que o Schüller ‘nem deu moral’, nas palavras dele, em 40 minutos de conversa”, afirmou Manzano.
No período de janeiro a junho de 2017, de acordo com o advogado, Gobi Lira disse também que teria definido percentuais de comissões de possíveis investimentos com o então presidente Max Fleury.
Queria a comissão
Mas aí veio a prisão em junho de 2017. O empresário ficou na cadeia de junho a dezembro de 2017. “Quando ele saiu da prisão foi tomar pé da situação e descobriu que o PreviPalmas tinha investido no Cais Mauá, que foi apresentado por ele ao Max Fleury”, contou Manzano, segundo ouviu do depoimento de Gobi Lira.
O empresário, então, foi para cima de Fleury para receber a comissão que julgava ter direito. “Segundo ele, o Max evitava conversar e depois de insistência disse ao Gobi Lira que não havia dinheiro para pagá-lo porque teve que repassar para o ‘chefe’, mas não disse quem era o ‘chefe’”, contou o advogado.
Foi aí, segundo Manzano, que vereadores da CPI passaram a insistir se o “chefe” seria o Amastha. “Depois de muita insistência da comissão se se tratava do prefeito, Gobi Lira soltou apenas um ‘pode ser’, deixando claro que ele não sabia de quem se tratava”, avaliou o advogado.
Manzano contou que o empresário disse que nas conversas que teve com Max Fleury ouviu do então presidente que o projeto dele era retirar R$ 200 milhões do PreviPalmas para investir em fundos de risco. “Mas pode ser também que o Gobi Lira esteja querendo complicar a vida do Max, porque ele demonstrou que tem raiva do ex-presidente do PreviPalmas por conta da comissão que achava que tinha para receber”, especulou Manzano.
Pautar a imprensa
Sem receber a comissão, Gobi Lira, então, disse que passou a municiar a imprensa do Tocantins sobre as operações de risco no Cais Mauá. “Ele disse que queria criar um fato eleitoral e que políticos começaram a demonstrar interesse nisso, mas não quis dar nome de nenhum deles”, afirmou o advogado.
Nesse período em que o caso Cais Mauá estourou, Gobi Lira contou ter procurado o então secretário de Finanças, Christian Zini, que buscou orientação, preocupado em recuperar os R$ 50 milhões do PreviPalmas. “Ele disse que sentiu que Zini não sabia de nada e também deixou claro no depoimento que nunca esteve com o então prefeito Carlos Amastha”, ressaltou Manzano.
Desmentido
Segundo o advogado, o empresário desmentiu o que consta de seu depoimento à Polícia Federal do Pará, na ocasião de sua segunda prisão, quando teria afirmado que Amastha teria demitido a então presidente do PreviPalmas, Wally Aparecida Macedo Vidovix, por ela não atender a seus pedidos. “O Gobi Lira contou que, de quatro horas de depoimento à PF, reduziram a fala dele a quatro páginas e que não disse que Amastha fez alguma pressão ilegal”, disse Manzano.
Segundo ele, o que ocorreu foi que a prefeitura teria feito repasse maior para o PreviPalmas e que a gestão queria que Wally devolvesse o recurso adicional. Ela consultou Goby Lira, então consultor, e ele explicou que não funcionava dessa forma, com devolução automática, e que havia todo um rito que precisava ser respeitado. “A Wally é muito dura, correta e resistiu ao pedido para devolver imediatamente o recurso adicional, e, por isso, segundo o empresário, ela foi exonerada. Não tem qualquer relação com fundos de pensão”, destacou Manzano.
Sem gravação
O advogado disse que constatou “um erro sério” da CPI no depoimento de Gobi Lira. Segundo ele, o juiz que autorizou a oitava proibiu qualquer forma de gravação. “Então, os técnicos da Câmara só fizeram alguns apontamentos e depois farão a transcrição do depoimento a partir da interpretação deles, e isso não é condizente com as regras de depoimento, que prevê a transcrição simultânea”, questionou.
Manzano disse que pediu questão de ordem para falar sobre esse tema, mas foi proibido de se manifestar pelo presidente da CPI, vereador Milton Neris (PP).
Condução coercitiva
Max Fleury evitou até agora, de todas as formas, depor à comissão que investiga os investimentos de risco do PreviPalmas. No entanto, foi intimado por oficial de Justiça e terá que comparecer à CPI às 14 horas do dia 21, sob condução coercitiva.
O ex-presidente do PreviPalmas estava no comando quando o instituto fez um investimento de R$ 30 milhões no Cais Mauá, através da Icla Trust, antiga NSG Capital, a mesma que geria o Fundo BFG, das churrascarias Porcão, e que deu prejuízo de R$ 330 milhões ao Instituto de Gestão Previdenciária do Tocantins (Igeprev).
Ainda sob seu comando, o PreviPalmas fez outra operação de R$ 20 milhões no Fundo Tercon. As duas aplicações nos últimos meses de 2017. No dia 15 de março de 2018, o titular da 6º Relatoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE), conselheiro Alberto Sevilha, emitiu recomendação ao então prefeito Carlos Amastha para que afastasse Max Fleury da presidência do instituto. Pressionado, o dirigente enviou uma carta a Amastha no dia 16 de março do ano passado entregando o cargo.