O governador cassado Marcelo Miranda (MDB), afastado do cargo por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), rebateu as acusações feitas, em coletiva à imprensa, pelo governador interino, Mauro Carlesse (PHS), e membros de sua equipe, sobre a delicada situação financeira do Tocantins. O emedebista alegou que em seu último mandato recebeu o Estado “quebrado” e “sucateado”, com uma dívida de R$ 4 bilhões, que já teria sido 75% quitada.
“É gravíssimo que esse senhor e sua equipe venham a público distorcer os dados e a realidade, em função do medo de não sair vitorioso no processo eleitoral. O desespero demonstrado pelo senhor Mauro Carlesse só prova o quanto ele não possui capacidade de administrar a máquina pública. Se minha gestão foi tão desastrosa por que ele manteve em sua equipe de primeiro escalão nomes que faziam parte do nosso Governo?”, questionou Marcelo Miranda.
LEIA MAIS
— Marcelo e Carlesse cortaram R$ 109 mi da saúde por pastas “menos prioritárias”, dizem MPE e DPE
— BOM DIA – Um Estado sob calamidade e em clima de Fla-Flu
— Carlesse fala em dificuldades, defende empréstimos e culpa Marcelo por “caos” no Estado
— Dívida do Estado passa de R$ 1,3 bilhão; “Situação calamitosa”, avalia secretário
Marcelo afirmou que o quadro anunciado por Mauro Carlesse e sua equipe é fruto do cenário “comum” à maioria dos Estados brasileiros, diante da situação econômica pela qual o país vem atravessando. Para ele, a crise fiscal do Tocantins foi agravada após o humanista deixar de honrar compromissos e parcelamentos assumidos por sua gestão.
“Vale ressaltar, talvez pelo desconhecimento por parte deste governo interino, que a situação do Tocantins, apesar de não ser a ideal, já teve evolução considerável, comparada a dos demais estados da Federação, em todos os setores. Essa situação agravada se deve ao fato desta gestão interina ter decidido não honrar com compromissos e parcelamentos assumidos, que estavam em dia, e pagar apenas os gastos que ele e a própria equipe estão fazendo, totalmente sem controle, visando apenas conseguir votos”, acusou o emedebista.
Marcelo argumentou também que foi ele que, quando eleito em 2014, recebeu um Estado “quebrado” e “sucateado”. “Quando assumi não encontrei o Estado em condições ideais para ser governado, e a realidade, à época, foi amplamente divulgada para conhecimento público. Havia 4 bilhões em dívidas. A diferença é que, eu e minha equipe, procuramos não fazer dessas dívidas herdadas, nem das situações difíceis com as quais nos deparamos, razões para cruzarmos os braços, ou mesmo transformar aquela realidade em moeda eleitoreira diante da população. Nós trabalhamos e conseguimos, durante a pior crise fiscal que o País já passou, quitar 75% da dívida herdada, sem prejuízo dos serviços públicos básicos da população”, afirmou.
Dívidas já existentes
De acordo com o emedebista, as dívidas alardeadas pelo governo interino, que passam de R$ 1,3 bilhão, já existiam quando ele assumiu o Executivo estadual em 1º de janeiro de 2015. “No caso do Igeprev, por exemplo, este é um assunto que está nas mãos da Justiça para elucidar quem, de fato, desviou o dinheiro da garantia de uma aposentadoria tranquila para tantos servidores no Tocantins. Na nossa gestão fizemos foi recuperar milhares de reais que estavam investidos em fundos sem garantia e fazer o dinheiro render novamente em aplicações seguras”, frisou.
Servidores
Em sua manifestação, Marcelo também criticou as exonerações e classificou o tratamento de Carlesse para com o funcionalismo público de “desumano”. Segundo o governador cassado, a gestão do humanista tem atribuído aos servidores a alcunha de “cabos eleitorais”.
“Não adotei a política do desemprego, como o fez este governo interino que, no meu entendimento, fez uma ação sem qualquer critério, sem mesmo levar em conta as centenas de pessoas que engrossaram os números do desemprego em nosso Estado”, pontuou, acrescentando ainda que essa medida “impensada” foi responsável pelo caos em todos os hospitais públicos do Estado e prejuízo nas escolas.
Para Marcelo Miranda é “estranho” e “constrangedor” que Carlesse, especialmente por ocupar o cargo de presidente da Assembleia Legislativa, e por ser candidato a governador, “ainda não possua o real conhecimento das condições em que se encontra o Estado”.
“É lamentável que o governo interino que aí está, esteja se valendo de uma visão meramente eleitoreira, tentando entrar para a história do Tocantins pela porta dos fundos, forjando a democracia, sem conhecimento de causa, e desprovido de qualquer projeto de governo para o Estado do Tocantins”, criticou.
Avanços na gestão
Em relação à dívida anunciada pelo governo interino na área da Saúde, de mais de R$ 138 milhões, Marcelo explicou que a situação já foi “bem pior”. Ele afirmou que quando assumiu encontrou um déficit de 30% e que agora esse valor é de apenas 8%. “Para chegar nessa redução fizemos negociação para redução das dívidas, cortes em aluguéis e criamos uma comissão de atenção a fornecedores e do colegiado financeiro”, explicou, ao ressaltar os “avanços” do setor.
“Nós conseguimos dobrar o tamanho do HGP, retirar as tendas, entregar os equipamentos necessários para a UTI Pediátrica de Araguaína, implantar o Integra Saúde e reformar diversos centros cirúrgicos e prontos socorros. Além disso, mantivemos a regularidade do abastecimento de insumos e medicamentos nos hospitais e movemos ação na Justiça para garantir o abastecimento de remédios oncológicos”, lembrou.
Marcelo também elencou outros setores que, segundo ele, tiveram melhorias durante sua gestão. Além das ações na saúde, o emedebista aponta que sua gestão recuperou mais de 3 mil quilômetros de rodovias, inaugurou novas escolas, investiu na capacitação dos professores, fomentou a agricultura familiar e fortaleceu as cadeias produtivas do estado. Ainda na área rural, afirma, o governo se destacou com as ações da regularização fundiária e por meio de programas que deram acesso à água para milhares de pessoas, como o “Água para Todos”.
Sobre o débito de R$ 4,2 milhões com os donos de caminhões-pipa, Marcelo informou que estava pagando “em dia” as parcelas do valor que foi negociado com os prestadores de serviços. “É um absurdo que esta gestão interina não esteja cumprindo o acordo de parcelamento da dívida com o abastecimento de água dos caminhões pipa. Quando assumimos em 2015, havia uma dívida enorme que foi parcelada em cinco anos. Nunca deixamos de pagar as parcelas, que agora não são mais honradas, mesmo tendo dinheiro em caixa. Quando eles assumiram havia 6 milhões”, afirmou.
Marcelo lembrou ainda sobre as melhorias em outros setores. “Na área da habitação, entregamos mais de 2 mil moradias para famílias carentes e servidores públicos. Ainda deixamos mais de 2.800 unidades habitacionais para serem entregues. Construímos e reformamos delegacias, entregamos veículos e equipamentos e promovemos a nomeação de candidatos aprovados em concursos públicos e também realizamos o maior concurso da história da Polícia Militar, com mais de 1.000 vagas, paralisado por causa da instabilidade política que o Tocantins atravessa”, pontuou.
Entenda
Levantamento feito pela equipe do governador interino constatou que a dívida do Estado com fornecedores, Plansaúde, consignados, duodécimos e Instituto de Gestão Previdenciária (Igeprev) é de quase R$ 1,3 bilhão. O secretário estadual da Fazenda, Sandro Henrique Armando, avaliou a situação como “calamitosa”.
Já Mauro Carlesse falou que a equipe está enfrentando “muitas dificuldades” para ajustar a máquina pública, defendeu a liberação dos empréstimos com a Caixa Econômica Federal e culpou Marcelo Miranda por deixar “caos” no Estado.
“Nós estamos vivendo um momento complicado. Mas fica muito claro que quem causou essa situação não fui eu e nem os meus secretários. O problema da Educação, da Saúde, da Segurança Pública não é nosso. É do gestor que saiu e deixou esse caos no Estado”, culpou Carlesse, acrescentando que sua gestão vai trabalhar para atender a população no que for possível.
Não é de agora o conflito existente entre Carlesse e ex-governador Marcelo Miranda. Na Assembleia, o deputado incomodou quando modificou a destinação dos empréstimos solicitados pelo Palácio Araguaia. Como presidente, o humanista não colocou em votação, mesmo com a pressão do Executivo, medidas provisórias importantes, como a que concedia subsídios do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em combustíveis para empresas de transporte público.
O candidato ainda desarquivou o pedido de impeachment contra o então governador apresentado pelo presidente do Sindicato dos Servidores Públicos do Tocantins (Sisepe), Cleiton Pinheiro. A Procuradoria da Assembleia Legislativa chegou a definir um rito do processo, que não foi executado. A medida foi considerada uma forma de pressionar Marcelo e o Palácio Araguaia para que liberassem as emendas parlamentares.