Nos últimos anos, o Tocantins tem se consolidado como um importante player no cenário das exportações brasileiras. O crescimento das exportações de commodities como soja, milho, carne bovina e ouro revela não apenas a robustez do agronegócio local, mas também a capacidade de adaptação dos produtores tocantinenses às exigências do mercado global. Esse avanço é resultado de uma rede diversificada de protagonistas, que inclui desde pequenos agricultores até grandes corporações, apoiados por políticas públicas e iniciativas sustentáveis que conectam o Tocantins aos mercados internacionais. Este artigo busca destacar os protagonistas desse crescimento econômico e sua relevância para a construção de uma economia regional mais competitiva e diversificada. No entanto, para sustentar esse avanço, é essencial refletir sobre os desafios enfrentados e as oportunidades que podem ser exploradas.
A diversificação da economia tocantinense resulta de uma articulação bem-sucedida entre pequenos produtores, grandes corporações e iniciativas públicas e privadas. O fortalecimento das cadeias produtivas no Tocantins tem sido impulsionado por investimentos em infraestrutura logística e inovação tecnológica. A expansão de rodovias e ferrovias tem facilitado o escoamento da produção, tornando o estado mais atrativo para investidores. Ademais, a adoção de práticas sustentáveis tem sido essencial para assegurar a competitividade dos produtos tocantinenses diante de consumidores globais cada vez mais exigentes.
As cooperativas e associações de produtores desempenham um papel estratégico na promoção de produtos locais e na capacitação da mão de obra.Nesse contexto, destaca-se o potencial da agricultura familiar como elemento fundamental para o desenvolvimento econômico do Tocantins. O estado abriga 372 assentamentos, que envolvem aproximadamente 23.000 famílias assentadas. Esses dados são provenientes da RAMT, um instrumento gerenciado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), utilizado para monitoramento, análise e como referência para os mercados de imóveis rurais no Brasil. Essas famílias ocupam cerca de 1.500.000 hectares de terras cultiváveis. Assegurar a esse grupo condições ideais de produção — como acesso a tecnologias avançadas, assistência técnica especializada e recursos financeiros adequados — pode ampliar de forma significativa sua participação na pauta de exportações. Esse fortalecimento é ainda mais relevante diante da crescente valorização da agricultura sustentável no mercado global, consolidando-se como uma moeda de troca estratégica e de alto valor nos mercados internacionais.
Assim como os médios e grandes produtores, principais responsáveis pelos atuais índices de exportação, a agricultura familiar também apresenta um vasto potencial de expansão nesse setor. Para integrar de forma eficiente esse segmento à produção voltada para o mercado externo, é fundamental investir na formação técnica dos produtores, aliada à adoção de novas tecnologias que promovam maior eficiência produtiva.
Em todos os segmentos econômicos, o acesso a financiamentos e a adoção de tecnologias inovadoras são essenciais para fortalecer a produção e garantir a competitividade dos produtos tocantinenses no mercado internacional. Contudo, apesar dos avanços conquistados, desafios persistem. Barreiras comerciais, oscilações cambiais e a intensa concorrência global demandam constante inovação e capacidade de adaptação. Diante desse cenário, a implementação de políticas de incentivo à exportação, aliada a investimentos contínuos em educação e capacitação profissional, torna-se imprescindível para assegurar a continuidade da expansão do Tocantins no comércio exterior e consolidar sua posição no mercado global.
De acordo com os dados do MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço – via plataforma COMEX, em 2024, mesmo com uma retração de 17,2% nas exportações — reflexo da queda na produção de soja —, o Tocantins totalizou US$ 2,494,8 bilhões em exportações, resultando em um saldo positivo de US$ 2,368,9 bilhões na balança comercial. Esse desempenho mantém o estado como o 15º maior exportador do país, com participação de 0,8% nas exportações brasileiras. A soja continua sendo o carro-chefe da pauta exportadora, mas o crescimento da participação do ouro, agora representando 5,1% das exportações, sinaliza uma importante e crescente diversificação econômica.
Ainda conforme o MDIC, entre os dez principais municípios exportadores, Porto Nacional liderou com US$ 460,3 milhões, seguido por Palmas (US$ 334,7 milhões) e Alvorada (US$ 190 milhões). Campos Lindos e Araguaína também desempenharam papel expressivo, com exportações de US$ 176,8 milhões e US$ 167,6 milhões, respectivamente. Complementam a lista Paraíso (US$ 153,4 milhões), Santa Rosa (US$ 151,8 milhões), Gurupi (US$ 128 milhões), Almas (US$ 127,1 milhões) e Guaraí (US$ 94,3 milhões).
Porto Nacional merece destaque especial por consolidar-se como o principal exportador do estado, especialmente pela produção e exportação de soja. Mesmo com uma retração de 24,8% em relação a 2023, o município manteve-se na liderança das exportações tocantinenses, reforçando seu título de “capital do mercado exportador”. Esse desempenho expressivo é resultado de investimentos em tecnologias agrícolas, expansão de áreas cultiváveis e melhorias logísticas, fatores determinantes para a competitividade internacional.
Entre os dez municípios que mais exportaram em 2024, apenas Araguaína, Gurupi e Almas se destacaram por produtos diferentes da soja. Araguaína e Gurupi têm na exportação de carne bovina sua principal atividade, reflexo da força da pecuária regional. Almas, por sua vez, apresentou um crescimento expressivo de 332,3% na produção de ouro em relação a 2023, saltando de US$ 29,4 milhões para US$ 127,1 milhões. A expressiva alta na exportação de ouro em Almas, impulsionada por uma empresa canadense, exemplifica como a exploração mineral pode contribuir para a economia local, desde que venha acompanhada de responsabilidade socioambiental. Ressalta-se que a exportação de ouro extraído das terras tocantinenses é transferida integralmente para a Suíça.
Para o futuro, é essencial que o Tocantins mantenha uma estratégia integrada entre o setor público, a iniciativa privada e a sociedade civil. Essa colaboração é fundamental para consolidar um crescimento econômico sustentável, especialmente por meio do desenvolvimento da agroindústria, que agrega valor à produção local. Identificar os protagonistas desse desenvolvimento e suas contribuições é necessário para traçar estratégias competitivas. A expansão no mercado internacional dependerá de um planejamento estratégico que promova a inovação e o compromisso com a sustentabilidade ambiental e inclusão social, aproveitando o potencial do estado para avançar economicamente.
JUSCELINO THOMAZ SOARES
É economista, especialista em Gestão Empresarial e Negócios
FRANCISCO VIANA CRUZ
É economista professor do IFTO e doutor em economia