O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, voltou à CPI da Covid no Senado nesta terça-feira, 8, e assumiu a responsabilidade pela não efetivação da médica infectologista Luana Araújo na secretaria do governo para combate à pandemia.
Araújo, que depôs na Comissão Parlamentar de Inquérito na semana passada, é contrária a teses defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro, como as do tratamento precoce e da imunidade de rebanho natural contra a Covid, e acabou dispensada após dez dias atuando informalmente como secretária extraordinária de enfrentamento à pandemia.
“O nome da Luana, apesar da qualificação técnica, começou a sofrer muitas resistências em face dos temas que são tratados aqui, onde há uma divergência muito grande entre a classe médica, e eu entendi que, naquele momento, a despeito da qualificação que a doutora Luana tem, não seria importante a presença dela para contribuir para a harmonização desse contexto. Então, em um ato discricionário como ministro, resolvi não efetivar sua nomeação”, disse Queiroga.
Segundo o ministro da Saúde, não houve “qualquer tipo de restrição” por parte da Casa Civil e da Secretaria de Governo (Segov) contra a indicação de Araújo, que dera uma versão diferente em seu depoimento à CPI.
“O ministro, com toda a hombridade que ele teve ao fazer o convite, me chamou e disse que lamentava, mas que a minha nomeação não sairia, que meu nome não teria sido aprovado”, afirmou a médica, que seria a primeira infectologista no Ministério da Saúde em cargo diretamente ligado ao enfrentamento da pandemia.
Até hoje Queiroga não nomeou um substituto para Araújo na secretária extraordinária de enfrentamento à Covid nem um infectologista – especialidade que estuda doenças infecciosas, como aquela causada pelo novo coronavírus – para o Ministério da Saúde.
De acordo com Queiroga, Araújo não teria o “perfil mais adequado para ficar à frente da pasta”. “Não houve óbices [empecilhos] formais da Segov e da Casa Civil, não houve óbices formais”, tergiversou o ministro, alegando que a médica não conseguiria “harmonizar” o debate sobre questões como o “tratamento inicial”.
Em seu depoimento, Araújo havia dito que a discussão sobre tratamentos precoces contra a Covid é “delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente”. “Ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento. É como se a gente estivesse escolhendo de que borda da terra plana a gente vai pular. Não tem lógica”, afirmara.
Questionado pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros, Queiroga também confirmou que o Ministério da Saúde não tem médicos infectologistas em seus quadros, mas disse que a categoria é ouvida sobre questões a respeito da pandemia.