Desde março enfrentamos no Tocantins a pandemia do Coronavírus. De lá pra cá, por razões sanitárias, escolas públicas, privadas, estaduais e municipais foram fechadas. Do ponto de vista da saúde pública, absolutamente assertiva a iniciativa, sob o espectro educacional, um grande problema. De acordo com um estudo do IEDE, 27% dos municípios da região norte do país não possuem qualquer estratégia educacional durante a pandemia, e do total destes municípios mais da metade não possui qualquer iniciativa para oferta de conteúdo. Este é um recorte do que vivemos na nossa região.
Evidentemente, o risco sob a ótica da saúde pública é muito grande. E neste cenário, nas últimas semanas, venho acompanhando todo o esforço do Estado e de alguns municípios em implementar novos meios, pautados nas novas tecnologias, para manutenção mínima do processo de ensino e aprendizado. É compreensível todo esse esforço, mas percebe-se uma ausência efetiva do monitoramento e dos seus resultados. Neste quesito, podemos aprender muito com alguns exemplos de gestão e monitoramento das ações para modulação dos resultados, como na cidade de Três Lagoas-MS, que além de implementar novos modelos de atuação educacional, está promovendo monitoramento e avaliações contínuas, já buscando o aprimoramento. Um avanço.
Sejamos justos, a pandemia comprometeu completamente todo esse processo. O foco foi primordialmente na manutenção básica de alguns serviços importantes para que se mantenha a vida da educação neste período: a alimentação de crianças e jovens e o acesso mínimo aos conteúdos didáticos disponíveis. Também é necessário registrar, meritocraticamente, a rapidez e o empenho das dezenas de milhares de profissionais da educação, bem como dos gestores que passaram por um processo de reinvenção continuada em tão curto período de tempo. Merecem aplausos.
Contudo, sob a ótica da efetividade das ações empreendidas, no processo educacional, muito ainda temos a construir e implementar. Primeiramente pelo simples acesso. Muitas famílias não possuem equipamentos adequados, acesso a internet banda larga, os pacotes de dados são limitados, etc. Pesquisa recente publicado pela Presença Online, mostra que 43% dos usuários de telefonia celular entre 17 e 60 anos utilizam pacotes pré-pagos limitados, e isso torna o acesso a vídeo aulas online de difícil consumo. As instituições de ensino, privadas e públicas, ainda promovem uma tentativa de adaptação dos próprios profissionais contratados para utilização dessas tecnologias como ferramentas de ensino. As famílias, lidando com o medo e o luto, bem como com as preocupações de natureza econômica e social, se viram diante do imenso desafio de ter que auxiliar diretamente nas aulas de seus filhos, o que demanda também uma preparação de natureza psicossocial que não pode ser realizada.
Pessoalmente, creio que todo esforço é válido, e que não poderíamos simplesmente adiar as iniciativas de promoção das atividades escolares, nivelando todos a mesma condição. As ferramentas estão disponíveis e muitos estão se esforçando para utiliza-las. Mas como há um comprometimento do processo pleno, já devemos iniciar o processo de discussão para o que estamos preparando para os próximos anos, especialmente 2021.
É preciso que todos, autoridades públicas, iniciativa privada, sociedade civil, iniciem um processo de discussão sobre o que promoveremos para recompor as perdas produzidas neste ano para os próximos. Talvez haverá a necessidade de que tenhamos efetivamente que promover uma intervenção educacional, garantindo reforço escolar permanente, a manutenção e aprimoramento das ferramentas agora criadas, a garantia do acesso a tecnologias práticas e mais baratas a exemplo da transmissão das aulas em canais públicos de televisão, etc.
Afinal, o maior aparelho social existente é a escola. Ela acolhe, alimenta e oferece conhecimento. Portanto, também deve ser foco político neste momento, pensando no presente e no futuro, e nos efeitos que a eventual inércia pode provocar na qualidade de formação de milhares de alunos. Muito foi feito em pouco tempo, e muito deverá ser feito agora, para que em 2021, com rapidez, possamos recuperar o que perdemos no ano que não aconteceu.
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RICARDO AYRES
É advogado e deputado estadual do Tocantins pelo PSB
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