Depois de meses de suspense, o governador interino Wanderlei Barbosa decidiu se filiar ao Republicanos, numa operação sigilosa capitaneada pelo secretário estadual da Governadoria, César Halum, membro do partido, pelo qual foi deputado federal. Wanderlei tinha vários convites, como de PP, SD, PTB, PDT e teria até o PSD, se assim o desejasse. Mas em todos eles havia risco estratégico que poderia comprometer ou prejudicar o projeto de reeleição do governador.
Eleito vice-governador pelo PHS, partido que deixou de existir por não ter alcançado a cláusula de barreira em 2018, Wanderlei chegou a confirmar que se filiaria ao PRB (hoje Republicanos), em dezembro de 2019, na época ainda presidido por Halum. No entanto, recuou e se direcionou para o PP, então sob comando do ex-deputado Lázaro Botelho. A mudança de comando da legenda, que em março passou a presidência regional para a senadora Kátia Abreu, fez o agora governador repensar.
Em setembro do ano passado, a assessoria de Wanderlei anunciou que ele se filiaria ao PDT, partido pelo qual já havia tido uma importante passagem. Com a reviravolta na política estadual com o afastamento de Mauro Carlesse (PSL) pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), o destino fez com que o governador interino revisse mais uma vez sua escolha. Afinal, a sigla de Ciro Gomes poderia gerar uma indisposição do Palácio Araguaia com o presidente Jair Bolsonaro — sempre é bom lembrar da profunda dependência que o Tocantins tem da União.
Com sua ascensão ao comando do governo do Estado, a filiação de Wanderlei virou, além de uma necessidade eleitoral, uma questão de Estado. Era preciso uma solução que garantisse solidamente legenda para que ele dispute a reeleição, mas sem que se torne refém de grupos políticos e muito menos que contrarie o governo federal.
Assim, basicamente, o governador precisava deter o comando do partido. E isso seria impossível com PP, da senadora Kátia Abreu, e com o PSD, sob a batuta do também senador Irajá. O SD é presidido por um aliado fiel, o deputado estadual Vilmar de Oliveira, mas o senador Eduardo Gomes (MDB), que, certamente, estará na oposição ao Palácio Araguaia, tem forte influência sobre o presidente nacional, Paulinho da Força. O PTB vive um momento de disputa interna ferrenha no plano nacional que irradia insegurança política para todos os Estados, ainda que a sigla garanta que as arestas estão aparadas. O PDT, como já mencionado, é oposição ao Palácio do Planalto.
Por isso, a escolha de Wanderlei pelo Republicanos foi salomônica. O partido garantiu a presidência regional ao governador, é aliado de Bolsonaro e tido como confiável na palavra empenhada. Na legenda de Halum, Wanderlei terá tranquilidade partidária para a disputa e ainda poderá garantir a ela até dois deputados federais, principal alvo de todas as agremiações hoje, por conta da divisão do imenso bolo de fundo partidário e eleitoral.
Uma foto para reflexão
A foto do pré-candidato a governador do Podemos (por mais alguns dias), Ronaldo Dimas, com o presidente Jair Bolsonaro (PL) é um sinal de que ele caminha mesmo para se consolidar na disputa de outubro. Considerando o peso do senador Eduardo Gomes para o governo federal, não há a menor dúvida de quem foi que abriu a porta do gabinete presidencial para o ex-prefeito de Araguaína.
CT, Palmas, 10 de março de 2022.