Claro que cada eleição tem suas especificidades, mas existem algumas lógicas que são comuns a todas elas. Uma é que quem está com a máquina na mão leva vantagem. O município, Estado e a União prestam serviços públicos – atendem a população na saúde, educação, transporte, segurança, habitação e infraestrutura. Assim, ainda que haja crítica em relação à atuação do Poder Público, sempre a prestação desses serviços vai gerar dividendos eleitorais.
Além disso, o chefe do Executivo é privilegiado por mídia espontânea. Como consequência da prestação desses serviços públicos, é procurado por jornais, sites, rádios e TVs. Ou seja, aparece publicamente muito mais do que seus concorrentes. E a coisa funciona como em toda exposição de personalidades. Uns vão odiá-lo, outros o verão com indiferença e ainda haverá os que se simpatizam pela figura.
Portanto, é óbvio que quem detém a máquina sempre leva a vantagem sobre seus concorrentes. Contudo, quando num processo eleitoral há o confronto direto e um gestor é visto com muitas fragilidades pela opinião pública – e o que é muito comum para quem está no comando da máquina, sendo sistematicamente alvo de seus adversários –, a tendência é de que dificilmente seja reeleito. Porque os votos se concentram praticamente em dois blocos. Como é pouquíssimo provável que o gestor tenha a maioria ao seu lado, ele perde a disputa. Isso ocorreu no Tocantins em 2010 com Carlos Gaguim x Siqueira Campos e 2014 com Sandoval Cardoso x Marcelo Miranda – haviam outros concorrentes, mas sem nenhuma expressão eleitoral, como o resultado mostrou. Duas exceções à regra: em 2006, com Marcelo x Siqueira, mas porque representou um momento atípico na história do Estado, com o rompimento da hegemonia da União do Tocantins; e o segundo turno da suplementar de 2018, com Mauro Carlesse x Vicentinho Alves, um momento específico, de fragilidades do Estado pela cassação e com um nome novo diante do eleitorado, que, por ter assumido o governo havia muito pouco tempo, não vinha sendo desgastado sistematicamente pelos adversários.
Por outro lado, quando se tem vários candidatos competitivos, os votos se diluem em mais grupos, o que favorece quem está com a máquina nas mãos. Com o decorrer da campanha, é natural que todas as candidaturas cresçam até certo ponto. A questão é até quanto as oposições conseguem crescer para superar quem detém a máquina e já está em vantagem no processo?
O certo é que quantos mais candidatos competitivos estiverem na disputa, mais os votos se dispersam e mais quem domina a estrutura pública se favorece.
Uma outra coisa seria se houvesse segundo turno em Palmas. Aí o natural era mesmo todo mundo, com sua vaidade avolumada, disputar e compor na etapa seguinte das eleições. Não é o caso da capital do Tocantins. Ainda não teremos segundo turno.
Este é o contexto em que começam estas eleições de Palmas, com absurdas 13 candidaturas colocadas, o que só mostra como a vaidade e interesses outros, como ter o fundo partidário nas mãos, imperaram nas retas finais das articulações. Uma inequívoca prova da total falta de maturidade dos líderes. Desses nomes que se aventuraram, sete, pelo menos, tem potencial eleitoral de médio para alto. Ou seja, os votos estão completamente pulverizados.
Diante desse cenário, a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), só tem a comemorar. É fazer seu beabá de campanha e esperar a votação do dia 15 de novembro. Há ingênuos na oposição que já me asseguraram que vai ocorrer uma natural polarização. Significa que os espertalhões avaliam que os eleitores, no decorrer dos debates, vão escolher um candidato para concentrar os votos e ignorar os demais, mesmo aqueles vistos com alto potencial eleitoral. Pura bobagem.
Uma possibilidade mais pé no chão, se houvesse maturidade, é que grande parte dos aventureiros retirasse suas candidaturas no decorrer da campanha, quando as visse fazendo água. Mas, com os egos inflados, vão preferir perder do que abdicar da disputa. Isso já ocorreu várias vezes em Palmas. Em 2008 chegou a se tentar um chamamento para o voto útil, quando Marcelo Lelis acelerou na reta final e Nilmar Ruiz perdeu espaço. Sem entendimento, Raul Filho foi reeleito. Em 2016, o mesmo Raul teve uma derrota judicial decisiva na semana das eleições e só faltaram implorar para ele retirar o nome e declarar apoio a Cláudia Lelis. Mas o ex-prefeito chamou coletiva e se manteve no páreo. Carlos Amastha foi reeleito.
Com esse magote de candidaturas, nas quais a vaidade é a maior do que soma de votos de todos eles juntos, será muito difícil a oposição vencer em Palmas. Lembrando que a última vitória dela na Capital foi em 2004, com Raul filho, que, pelo PT, derrotou a então prefeita Nilmar Ruiz, numa eleição polarizada. Havia outros candidatos, mas também sem qualquer expressão eleitoral.
Claro, como se disse no início, cada eleição tem suas especificidades. Podem surgir fatos novos que mudem tudo e Cinthia não seja reeleita. Mas sem essa excepcionalidade, como saímos das convenções, o resultado destas disputas está bem previsível.
CT, Palmas, 18 de setembro de 2020.