No dia 26 de fevereiro, Milão lançou a campanha “Milão não para”, que estimulou os moradores da cidade a continuar as atividades econômicas e sociais, mesmo com a pandemia do novo coronavírus. A preocupação era evitar a recessão. Na época, a Itália tinha 258 infectados e 12 mortes. Passados exatos 30 dias, o número saltou para 80.539 casos de contaminados pela Covid-19 e 8.165 óbitos. A província de Milão é mais atingida, registrando 32.346 pessoas contaminadas e 4.474 mortos. “Ninguém ainda havia entendido a virulência do vírus, e aquele era o espírito. Trabalho sete dias por semana para fazer minha parte, e aceito as críticas”, resignou-se o prefeito da cidade, Giuseppe Sala.
Essa triste experiência italiana tem muito a nos ensinar quando, sob total angústia e incertezas de curtíssimo prazo, os empresários pressionam os prefeitos a relaxarem as medidas de restrições da atividade econômica. É compreensível esse desespero, diante de uma iminente realidade de que boa parte das micro e pequenas empresas corre sério risco de ser dizimada por conta das ações de combate à Covid-19.
[bs-quote quote=”Prefeito, governador e presidente que decidir sem considerar o parecer dos especialistas, está assumindo para si a responsabilidade sobre o que possa ocorrer. Depois esperamos que não se tente terceirizar a culpa. Ela é toda sua. Só sua” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
Porém, é bom sempre considerar que, sem vida, não é possível tocar negócios e carreiras, e o que os especialistas têm dito é que o País precisa desse isolamento social para que o que se está vendo na Itália e Espanha não se repita por aqui.
Algo contra a retomada da economia? Nada. Sou totalmente favorável e estou muito preocupado, inclusive, com o faturamento da minha empresa. Contudo, é preciso considerar que nossa bússola é a ciência, representada neste momento pelas autoridades sanitárias. Qualquer decisão tomada sem que o setor de saúde dê o seu aval é precipitada. E prefeito, governador e presidente que decidir sem considerar o parecer dos especialistas, está assumindo para si a responsabilidade sobre o que possa ocorrer. Depois esperamos que não se tente terceirizar a culpa. Ela é toda sua. Só sua.
O empresário que resolver abrir precisa ir para a sua loja e ficar nela com seus funcionários por todo o expediente. Abrir, colocar em risco a vida dos trabalhadores e voltar para casa para se isolar com a família é uma indescritível covardia. Não há outro termo para tamanha ignomínia.
Tudo isso está ocorrendo, em grande parte, por falta de alternativas, que deveriam partir das autoridades em todas as instâncias: municípios, Estados e União. Também é muito bonito para elas dizerem-se “preocupadas com a vida das pessoas” e em nenhum momento falar de isenção de impostos enquanto durar a quarentena, não colocar linhas de créditos a juros negativos e de forma desburocratizada — e temos Banco do Povo no Estado e em Palmas — à disposição de informais, micro e pequenos empresários. Em Brasília, eles marcam reunião para chamar outra reunião e marcar outra reunião.
Não estão entendendo que o problema é para ontem. Só em Palmas, quase 60% das empresas não terão dinheiro para fechar a folha — atenção, autoridades! — este mês. Não é em maio, junho ou dezembro, mas a folha de abril, dentro de até dez dias.
Sem essas alternativas do Poder Público, que quer ganhar aprovação popular sem sacrificar a receita, resta mesmo o desespero ao empresariado. Por isso, a angústia dele é totalmente compreensível.
Mas o risco de ver milhares de vidas humanas ceifadas é uma realidade que não pode ser ignorada.
CT, Palmas, 27 de março de 2020.