O ácido desentendimento entre o governador Mauro Carlesse (DEM) e o deputado estadual Elenil da Penha (MDB) na manhã desta quinta-feira, 19, não deve ser visto como uma explosão de momento. É resultado de meses de desgaste de uma relação em que deputados dizem que têm dado mais do que recebido. Desde o primeiro duro discurso de um parlamentar contra o Palácio, realizado nessa quarta-feira, 18, Elenil parece ter apenas plasmado um sentimento de insatisfação que é generalizado na Assembleia.
[bs-quote quote=”Deputados reclamam que as emendas não estão sendo pagas como esperavam, que o número de pessoas que contrataram no Executivo caiu muito e ainda existe o tratamento dispensado por alguns secretários que, dizem os descontentes, se acham mais importantes que o governador” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/180-ct-oficial-180.jpg”][/bs-quote]
Foram vários os projetos enviados pelo governo que colocaram os parlamentares em choque com a opinião pública, como o congelamento das progressões, o Estatuto de Polícia Civil, e por aí seguiu. Se uma mão foi, a outra não veio, garantem os deputados. Reclamam que as emendas parlamentares não estão sendo pagas como esperavam, que o número de pessoas que contrataram no Executivo caiu muito em relação ao governo Marcelo Miranda (MDB) e ainda existe o tratamento dispensado por alguns secretários que, dizem os descontentes, se acham mais importantes que o governador.
Na reunião com os 15 parlamentares, na manhã desta quinta-feira, após a tensa diatribe entre os dois aliados e a saída dos chefes dos Poderes, Carlesse, ao ser questionado, sacou uma relação de emendas dos deputados. Conforme alguns deles, o governador informou já ter pago R$ 15 milhões dessas indicações da Assembleia e autorizado a liquidação de outros R$ 7 milhões, o que ocorrerá nas próximas semanas, de acordo com o fluxo de caixa.
Fora da reunião, os deputados reclamam de que alguns estão sendo privilegiados no tratamento, com uma quantia de emendas pagas muito maior do que dos outros. Porém, alguns desses que supostamente teriam tratamento diferenciado negam. O que dizem é que eles têm dedicado mais tempo e atenção à regularização de toda a documentação necessária para que os municípios possam receber os recursos, o que vem agilizando os pagamentos. Enquanto outros parlamentares, alegam esses disciplinados, deixam por conta dos prefeitos, que pouco se movem e não se preocupam em atender a burocracia. Apenas isso explicaria o motivo de uns estarem com mais emendas pagas, sustentam.
Contudo, mesmo esses poucos satisfeitos reconhecem que a relação entre governo e deputados já não é mais a mesma de meses atrás. O namoro entre Carlesse e deputados começou quando o hoje governador ainda era um deles e também reclamava do não pagamento das emendas — como presidente do Legislativo, várias vezes, pessoalmente, cobrou Marcelo Miranda.
O noivado veio quando Carlesse assumiu o comando do Palácio, com juras e promessas de que após sua efetivação no cargo tudo seria diferente. O casamento começou com a posse no segundo mandato em 1º de janeiro. Nesta quinta-feira ficou muito claro, pela tensa discussão pública, que a lua-de-mel chegou ao fim.
Assim, a proposta do Executivo para que os deputados assumam a paternidade do projeto de unificação das data-bases em 1%, para todas as categorias e Poderes, vai exigir mais do que a conversa que Carlesse passou até agora para manter essa relação de pé.
Tudo indica que para ter a fidelidade que espera, desta vez, o governador terá que demonstrar muito mais apreço.
Palmas, 19 de setembro de 2019.