Durante as eleições de 2018, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) falou que fechava o Supremo Tribunal Federal (STF) apenas com um jipe, um cabo e um soldado.
Em setembro deste ano, o mais aloprado da família, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSL) disse que a transformação do Brasil não virá por via democrática.
No início desta semana, Eduardo voltou à baila para dizer — atenção: da tribuna da Câmara — que se a radicalização das oposições do Chile chegar ao Brasil, “a gente vai ver a história se repetir”. Ficou meio nas entrelinhas que ele se referia aos anos de chumbo.
[bs-quote quote=”Se houvesse qualquer ato que fugisse à normalidade, há remédios constitucionais muito bem definidos para a ação do Estado. Assim, não a que se falar de forma alguma em rasgar a Constituição sob qualquer argumento que seja” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
Para quem ficou na dúvida, o deputado esclareceu na patética entrevista que concedeu à jornalista Leda Nagle e que chocou o País nessa quinta-feira, 31: “Se a esquerda radicalizar a esse ponto, vamos precisar dar uma resposta. E essa resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada via plebiscito, como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada”. Logo em seguida, ainda em defesa do ato que afundou o Brasil no que o jornalista Elio Gaspari chamou de “ditadura escancarada”, em sua rede social Eduardo exaltou o ídolo da família Bolsonaro, o torturador covarde coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
É simplesmente inadmissível que um parlamentar defenda o fim da democracia sem que seja punido. Ao assumir o mandato, ele fez um compromisso de defesa da Constituição e, por extensão, da democracia. Assim, é, antes de mais nada, um crime o que esse irresponsável cometeu ao sugerir uma volta do AI-5. Não existe imunidade parlamentar para defender o fim da democracia brasileira.
Ao se referir ao plebiscito que ocorreu na Itália, Eduardo não está falando do período democrático daquele país, mas dos anos 1920 e 1930 de Benito Mussolini, para se ter ideia da loucura do parlamentar brasileiro.
É preciso primeiro considerar que não há qualquer movimento, mínimo que seja, da oposição no Brasil. A esquerda está totalmente desmobilizada, até porque fechou a boquinha farta que havia para os financiadores da baderna do período Dilma Rousseff. Além disso, se houvesse qualquer ato que fugisse à normalidade, há remédios constitucionais muito bem definidos para a ação do Estado. Por isso, não a que se falar de forma alguma em rasgar a Constituição sob qualquer argumento que seja. É preciso que o deputado Eduardo perceba que quem radicaliza no Brasil não é a oposição, mas os Bolsonaro, que, dessa forma, conseguem abafar até mesmo as excelentes notícias de seu governo.
Se tem um lado positivo nessas manifestações bolsonaristas de intolerância à democracia é que elas estão conseguindo reunificar o País. O que se viu nessa quinta-feira, após a fala irresponsável do deputado, da esquerda à direita – inclusive, o PSL, partido do presidente da República e do qual Eduardo é líder na Câmara —, foi uma firme defesa da democracia.
Essa gente maluca pode até querer, mas como sempre defendi desde as eleições, não vai encontrar ambiente na sociedade brasileira para colocar em prática suas tendências autoritárias, com exceção dos seguidores fanáticos e politicamente analfabetos. A democracia brasileira está madura, nossas instituições estão consolidadas e os homens e mulheres de bom senso não se sujeitarão a qualquer tentativa de retrocesso.
A cada maluquice de um dos Bolsonaro e de seu séquito de cegos, surdos e loucos me convenço mais de que saímos da cleptocracia para cair na idiocracia.
CT, Palmas, 1º de novembro de 2019.