Alguém já disse que o poder é solitário. Isso deve ficar muito mais patente aos ocupantes de cargos de alto escalão quando é inadiável tomar decisão que vai mexer com a vida das pessoas. De uma forma ou de outra. Foi o caso dessa inquestionavelmente necessária prorrogação do decreto que manteve a suspensão das atividades não essenciais em Palmas até o dia 23. Não queria estar na pele da prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB).
Se ela cede à pressão dos empresários para abrir as lojas, deixaria a parte mais poderosa da cidade muito satisfeita. Tinha até desculpa para isso, a recomendação inócua do governo do Tocantins para que as atividades comerciais tenham o horário de expediente estendido, tirada de uma reunião da qual só participaram empresariado e secretários de Estado. Nenhuma entidade médica presente.
No entanto, como arcar com as consequências de uma decisão cômoda mais que, inevitavelmente, custará a vida de muito mais pessoas? Sim, a reabertura das empresas e o aumento da agitação pelas ruas, ônibus e lojas aceleraria ainda mais as já elevadas taxas de contaminação. Muitos mais ficariam doentes e precisariam de atendimento médico, leitos clínicos e UTIs. Mas não há mais nem um nem outro disponíveis. A taxa de ocupação hospitalar desta terça na Capital foi de 88,3%. Para leitos clínicos públicos e privados, chegou a 83,7% e de UTIs públicas e privadas a 93,8%. A taxa de ocupação dos leitos de estabilização na UPA Norte é de 103,2% e na UPA Sul, de 131,3%. Isto é, estão trabalhando com lotação acima de sua capacidade.
As consequências, não tenha a menor dúvida, seriam mais e mais mortes — tivemos nos boletins de sexta, 12, a esta quarta, 17, nada menos do que o relato de 25 mortes de palmenses. Querem mais? É isso? Estão achando pouco?
Por isso, faço meu reconhecimento público de que a prefeita Cinthia Ribeiro agiu com a coragem dos líderes, a maior virtude de quem ocupa cargos como o dela. É muito fácil nesta hora jogar para a galera, ficar de bem com o poderio econômico, mas o compromisso do líder é com seu povo, não com grupos. Nesse sentido, Cinthia deu exemplo que deveria ser seguido por outros prefeitos, que estou vendo que preferem outro caminho, o do afago, para se livrar da pressão.
Em outra frente, uma importante decisão do governo do Estado – esta sim – foi a instituição dessa força-tarefa “Tolerância Zero”, com as Secretarias de Segurança Pública (SSP) e de Cidadania e Justiça (Seciju), Polícia Militar (PM) e Corpo de Bombeiros (CBM), que precisam somar forças com as guardas municipais e fiscalização das prefeituras. É inadmissível que a sociedade aceite que gente gananciosa ou ignorante promova aglomerações neste momento em que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma das mais importantes instituições nacionais de pesquisa e desenvolvimento em ciências biológicas, vinculada ao Ministério da Saúde, aponta que o Brasil vive o maior colapso sanitário e hospitalar de sua história. No Tocantins, a Fiocruz diz que a taxa de ocupação de UTI Covid-19 adulto é de 96% e em Palmas de 98%.
Neste ponto sou absurdamente radical. Concordo que tem mesmo que impor multas de até R$ 20 mil e é uma grande ignorância dizer que o sistema de monitoramento de celulares e redes sociais é “uma invasão de privacidade”, quando nenhum dado pessoal será acessado. O objetivo é debelar as tentativas de gente incivilizada de promover festinhas clandestinas e coisas do tipo, que têm contribuído para adoecer e matar, sobretudo os mais idosos.
Por isso, o governo do Estado age no sentido mais correto, de usar dos meios da força e da inteligência para fiscalizar e da multa para inibir os bárbaros.
Único ponto que faço questão de insistir é que Estado e Prefeitura de Palmas precisam instituir, com a máxima urgência, um programa de socorro financeiro a trabalhadores e microempresários que ficam sem renda neste período de suspensão das atividades comerciais.
Afinal, não é possível que alguém aceite ficar em casa com a geladeira vazia, sem condições de alimentar os filhos. Isso é para ontem.
CT, Palmas, 17 de março de 2021.