Farei a partir desta terça-feira, 28, três reflexões sobre a pré-campanha eleitoral do Tocantins. Começo pelo governador interino Wanderlei Barbosa (sem partido), que iniciou 2021 sob total incertezas. Dentro do governo Mauro Carlesse (PSL), como vice, não tinha espaço e, sem o apoio do Palácio, dificilmente conseguiria consolidar uma candidatura majoritária em 2022.
Numa ação do Sobrenatural de Almeida, personagem do Nelson Rodrigues, como já citei aqui, o Tocantins tem novo reviravolta no cenário político, o governador é afastado, Wanderlei passa a comandar o Estado e ascende como forte pré-candidato.
O governador interino sempre foi um político combativo. Ele protagonizou a primeira derrota da poderosa União do Tocantins, quando, no final de 2002, como vereador, venceu o grupo do então governador Siqueira Campos na eleição da presidência da Câmara de Palmas. Foi um dos seus principais aliados de Raul Filho na histórica vitória na disputa pela prefeitura da Capital em 2004, fato que representou mais um importante passo rumo ao desmoronamento da UT que se consolidaria em 2006. Wanderlei ainda apoiou o então governador Marcelo Miranda (MDB) nesse combate ao siqueirismo.
Apesar disso, sempre transitou fácil por todas as correntes políticas do Estado. Tanto que, já na Assembleia, para a qual foi eleito em 2010, compôs a base de Siqueira Campos (2011-2014).
Wanderlei é um político habilidoso, carismático, experiente e que vem se projetando pelo Estado ao longo da carreira. Prova disso é a eleição do filho Léo Barbosa (SD) para vereador em 2016 e, logo depois, para deputado estadual, o mais bem votado do Tocantins em 2018.
Dessa forma, atrair apoio à sua pré-candidatura à reeleição não lhe será difícil, ainda mais com a estrutura do Estado nas mãos. Este não é o grande desafio de Wanderlei. Na verdade, terá pela frente outros dois mais espinhosos. Um influenciará diretamente sua competitividade em 2022 e outro diz respeito ao futuro do Tocantins e ao desempenho do hoje governador interino num possível segundo mandato.
O primeiro imenso desafio de Wanderlei é não abusar da estrutura a ponto de atrair para si o desgaste dos outros dois “tampões”, Carlos Gaguim (2009-2010) e Sandoval Cardoso (2014). O loteamento da máquina do Estado entre deputados estaduais e concessões de benefícios a servidores a torto e à direita às vésperas das eleições foram dois erros deles muito criticados pela sociedade e que serviram de forte argumento para oposição na campanha. Isso somado ao fato anterior de terem sido eleitos por via indireta pela Assembleia geraram em Gaguim e Sandoval um desgaste muito grande e que não foi possível reverter no curto espaço de tempo que tinham disponível até as eleições.
Wanderlei começou em melhor situação, uma vez que também chegou ao cargo de vice-governador pela via do voto direto com Carlesse. Mas, como os outros “tampões”, tem pouquíssimo tempo até as eleições, o que tende a fazer com que busque o caminho mais rápido para construir uma candidatura forte. Porém, o risco de fracasso também aumenta por esta estrada mais curta.
Ele precisa evitar os erros à luz do dia cometidos no passado, quando se acreditava que a sociedade não observava e não reagiria. O governador sempre terá uma estrutura competitiva para disputar uma eleição e apoio de boa parte do eleitorado em função disso. O que deve fazer é que suas ações não contribuam para elevar sua rejeição a níveis estratosféricos, porque isso divide muito os eleitores e favorece os adversários.
Se ter a máquina nas mãos é positivo, tão importante quanto é saber até que ponto ela trabalha a seu favor e a partir de que momento pode contribuir para a sua derrota. Aquela história bem conhecida: o remédio pode curar ou matar. Depende da dose.
Uma grande preocupação da sociedade neste momento e, sem dúvida, o maior desafio de Wanderlei, uma vez que terá efeitos a longo prazo, é que o processo eleitoral não sacrifique o esforço fiscal dos últimos 3,5 anos. Nunca é demais lembrar que, até 2018, o Tocantins pagava seus servidores no dia 12 de cada mês, contava moedas para liquidar 13º, não repassava consignados, Plansaúde vivia interrompendo os serviços por falta de pagamento, fornecedores penavam horrores e não recebiam e o Estado não tinha um centavo para investimentos.
Com medidas saneadores duras, como o congelamento de data-base e progressões dos servidores, o Estado voltou a respirar sem ajuda de aparelhos. Mas a estrada para a sua recuperação plena ainda é muito longa e repleta de obstáculos.
Se o processo eleitoral entrar num vale-tudo, como se viu nos governos passados, nossa situação no final de 2022 pode ser até pior do que estava em 2018. Bom frisar aos sindicatos que os servidores sempre serão os primeiros a ser atingidos.
O governador Wanderlei já afirmou em várias ocasiões que não abrirá mão da responsabilidade fiscal. Ouvir isso dele é de grande alívio porque o Estado tem papel crucial no fomento à nossa economia ainda incipiente e amplamente dependente do poder público. O que significa que se o Estado contrair uma gripe, o mercado sofrerá de imediato de pneumonia.
Além de que, com o governo novamente em ruínas, no caso de uma reeleição, essa bomba explodirá bem no colo do próprio Wanderlei.
O Tocantins é um Estado de futuro promissor. Temos tudo para alavancar nossa economia, gerar milhares de empregos, melhorar nossas rodovias, segurança, educação e saúde.
Para isso, é necessário compromisso (real, não no discurso) de nossos líderes com o Estado e elevado espírito público. O resto será consequência.
CT, Palmas, 28 de dezembro de 2021.