Os dados do Pisa 2018, exame internacional de educação realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostram que os estudantes brasileiros não avançam em leitura, matemática e ciências. Nosso ensino continua patinando, apesar de toda a propalada valorização da educação nos governos do PT. O partido não tem por onde se justificar. Falta de tempo não foi. Afinal, ficou 13 anos no comando do País, tempo suficiente para mostrar resultados, que não vieram.
O pior é que o cenário não é dos melhores. O Ministério da Educação é um latifúndio improdutivo no governo Jair Bolsonaro. Desde o início, com o tal Ricardo Vélez Rodríguez e agora com o tal Abraham Weintraub, a pasta tem a frente bobos da corte. Ambos mais ocupados com a “guerra ideológica”, em combater a “cultura globalista olavete”, do que em fazer com que nossos estudantes aprendam de verdade.
[bs-quote quote=”Precisamos de uma educação que promova a criatividade, o pensamento crítico, que desperte a curiosidade. Mas não podemos abrir mão da disciplina nem o foco nos resultados” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
O atual titular ainda tem a preocupação adicional de puxar saco do chefe, “mitando” nas redes sociais. A falta de envergadura do ex-ministro e do atual mostra que Bolsonaro, como se espera do ser de mentalidade medieval que é, não dá o mínimo valor à educação. É a nossa maior tragédia nesses tempos obscuros.
O resultado da literal palhaçada do ministro Weintraub é que teremos outra década perdida pela frente, ainda que o atual governo fique apenas quatro anos (ou, pelo andar da carruagem, seria tempo demais?). Com o populismo petista e o populismo bolsonarista, a educação brasileira perderá 20 anos.
Não sou daqueles que defendem a militarização do ensino brasileiro, ainda que reconheça e admire o desempenho desse modelo de escola. No entanto, algumas características dessa experiência precisam ser refletidas e incorporadas no ensino público em geral. Destaco as duas principais: disciplina e resultado. Nelas estão o segredo do bom desempenho dessas escolas.
O modelo de educação adotado pelas escolas brasileiras é um fracasso retumbante, com heróicas exceções. Está totalmente equivocada essa visão libertária dos espaços de ensino, em que nada é proibido, que tirou toda a autoridade do professor (como consequência, ele, volta e meia, apanha em sala de aula, um absurdo impensável num passado não muito distante), em que o mestre e o aluno estão no mesmo nível hierárquico e de conhecimento, e ambos ensinam um ao outro. Uma imagem tola, digamos, bucólica e até ingênua, antes de mais nada, do ser humano.
Lá em meados dos anos 1990 eu estava no interior de São Paulo quando o então governo Mário Covas implantou a tal da progressão continuada, que, praticamente, eliminou a reprovação. Foi vendida como a panaceia da educação paulista. Na ocasião eu já havia dado o verdadeiro nome dessa pedagogia “libertadora”: fábrica de analfabetos. Não deu outra. Cinco anos depois tínhamos alunos na quarta e quinta séries que mal sabiam ler e escrever. Para os políticos foi excelente, porque passaram exibir dados que comprovavam a redução drástica da evasão escolar. Lógico, na base do “finge que ensina e finge que aprende”.
Sim, precisamos de uma educação que promova a criatividade, o pensamento crítico, que desperte a curiosidade. Mas não podemos abrir mão da disciplina nem o foco nos resultados.
O que assistimos nas últimas décadas foi uma ideologização do ensino, sem a mínima preocupação com resultado. Um cuidado enorme em formar black blocs, que combata bravamente “esse capitalismo selvagem e malvado, responsável por todos os males da humanidade”, e quase nenhum em formar um cidadão qualificado, que desenvolva capacidade crítica e use sua criatividade e todo o cabedal de conhecimento científico que lhe foi passado ao longo de anos para se incluir no mercado de trabalho e alcançar a verdadeira dignidade: um bom emprego e bem remunerado. De quebra, esse trabalhador altamente qualificado contribuiria com o desenvolvimento de seu país. Estamos entre os países com o trabalhador com menor qualificação, problema seríssimo para elevar a produtividade e competitividade do nosso setor produtivo.
No geral, qualificar nosso estudante não é prioridade. Claro, com exceção da camuflagem e da marketagem. Aparece no radar como pano de fundo, mero acessório. Daí não é difícil entender o resultado pífio do Brasil em exames internacionais, como o Pisa.
Precisamos levar a educação a sério, e isso se faz focado numa política de resultados. Para tanto, é fundamental resgatar a disciplina nas escolas. Nossas crianças precisam aprender a desenvolver sua criticidade e criatividade de forma disciplinada, com respeito à hierarquia. Sim, hierarquia. A sociedade sem ela é anarquia, e se uma geração não a reconhece, a culpa é de um modelo de criação em casa que tira o respeito aos pais e de educação que vê o professor como mais um, não como o mestre digno de referência, carinho e admiração.
Também é indispensável a valorização e a capacitação do professor. Melhor remuneração e revisão dos currículos de formação do magistério para além da visão estreita de “modelador de black bloc”.
Os que acham que o caminho atual está certo são facilmente combatidos: é só apontar os resultados ridículos obtidos pela educação brasileira nas últimas décadas.
A pior constatação é que esses 20 anos que estamos perdendo não são recuperáveis e atrasam ainda mais um país que sempre esteve na rabeira no que diz respeito a desenvolvimento, ciência e tecnologia.
CT, Palmas, 5 de dezembro de 2019.