Não faz muito tempo que uma posse no Tocantins foi manchada pelo surgimento de duas faixas de governador. Uma manobra rasteira para desqualificar o que estava saindo. Ficou no ar uma falta de espírito de grandeza.
Teve um Sete de Setembro que governador e prefeito de Palmas se estranharam na disputa por espaço na tribuna de honra. Ainda lembro do episódio mais recente de que o comandante da Capital não queria aceitar o titular do Palácio Araguaia num evento que promovia com a presença de um ministro, que precisou ameaçar ir embora para que o embirrado “desembirrace”.
[bs-quote quote=”Todos os espíritos baixos medievais parecem ter encarnado de uma só vez no País. Antes que digam: personificados à esquerda e à direita” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/07/ct-oficial-60.jpg”][/bs-quote]
Recentemente, no interior do Estado, um prefeito disparou vários tiros na casa de um vereador. Motivo? Uma discussão em grupo de WhatsApp.
Esses lances do tipo Papa-Léguas x Coiote sempre foram muito comuns na política do Tocantins. Desde sempre, quem estava no Poder ou chegando a ele com força tentava humilhar publicamente o adversário. Ou então isso ocorria numa pré-campanha eleitoral, sem o menor respeito às instituições ou à liturgia do cargo. Na disputa fratricida entre marcelismo e siqueirismo, em meados dos anos 2000, as demonstrações de incivilidades – de lado a lado – eram diárias.
A falta de diplomacia e elegância, diga-se, é hoje a marca da política brasileira, com péssimos exemplares que escorrem do Palácio do Planalto e permeiam Estados e municípios. Atualmente, as principais demonstrações de grosseria na relação institucional vêm de cima. O debate público não se dá pelo mérito. Tem que alvejar a primeira-dama da França, o pai da Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU ou do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil.
Do campo das relações institucionais, a incivilidade avança contra a democracia, quando vemos o prefeito do Rio de Janeiro ressuscitando a figura obscura do censor que tanto mal causou ao País nos idos da ditadura militar, ao querer decidir pelos pais o que seus filhos devem ou não ver ou ler. O próprio alcaide incorporou o Leviatã hobbesiano.
São algumas demonstrações do blackout moral, democrático e civilizatório que o Brasil vive. Todos os espíritos baixos medievais parecem ter encarnado de uma só vez no País. Antes que digam: personificados à esquerda e à direita. A extrema direita hoje apronta porque está no Poder, mas a esquerda deixou também suas manchas, como corrupção fora de todos os padrões mundiais e históricos e a tentativa de controlar Ministério Público e a imprensa — até com ameaça de deportação do jornalista americano que disse o óbvio, que o presidente da ocasião gostava de uma cachacinha um pouco além da conta.
Por tudo isso, o bom exemplo de civilidade demonstrada pelo governador Mauro Carlesse (DEM), pelo vice-governador Wanderlei Barbosa (PHS) e pela prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), no desfile de Sete Setembro, é digno de nota. As divergências têm seu espaço e tempo, que não são no exercício de um cargo que exige responsabilidade e equilíbrio, sobretudo num período de crise nas contas públicas.
Os mandatários, em nome do mesmo povo que os elegeu, precisam se mostrar maiores do que essas disputas pequenas, se irmanarem dos melhores sentimentos, porque as dificuldades de nossa gente e do nosso País só serão vencidas à luz da união, da cooperação e da conciliação.
Diga-se: é esse espírito que deve sempre prevalecer quando paramos para celebrar o Dia da Independência.
CT, Palmas, 9 de agosto de 2019.