As cidades brasileiras têm buscado por todos os meios medidas de conter o avanço da Covid-19 que não seja a suspensão das atividades não essenciais. O resultado é frustrante, e estão aí os mais de 331 mil mortos e mais de 13 milhões de contaminados para confirmar que não foram bem-sucedidos.
Totalmente compreensível essa tentava de conciliar as coisas, porque a preocupação é salvar empresas e empregos, tão fundamentais à saúde econômica. Contudo, nunca se pode perder de vista que a vida humana deve ser prioridade, porque, do ponto de vista do mercado, sem ela não há consumo. É básico. De outro lado, falta boa vontade de Estados e municípios em sacrificar parte de seu esforço fiscal para garantir a sobrevivência das pessoas em curtos períodos em que a economia precisa ser fechada.
Não é impossível. Se União, Estado e municípios juntarem forças, podemos fazer um lockdown de dez dias e garantir renda aos mais frágeis. No entanto, falta vontade política. Da mesma forma que o empresário, com razão, não quer perder faturamento, os governos também agem para não abrir mão de receita. E não é hora de o Poder Público se preocupar com isso. Por que só o empresariado deve sacrificar seu faturamento?
Por isso tenho insistido que a pauta dos que vão à rua protestar para abrir a economia está errada. Estão pedindo pelo “direito de morrer”. E milhares estão morrendo. No Tocantins, dezenas, todas as semanas. A pressão tem que ser para o Poder Público, em todas as instâncias, se sacrificar para que as pessoas possam ficar em casa por dez ou quinze dias pelo menos, para que reduzamos drasticamente as contaminações e a ocupação de leitos.
Araraquara (SP) derrubou os índices de contaminação e mortos com dez dias lockdown — de verdade, não um faz de contas para parecer cientificista na mídia.
Temos agora também o exemplo de Palmas, que não fez um lockdown, mas suspendeu as atividades não essenciais por cerca de 20 dias. O levantamento da Coluna do CT junto aos boletins epidemiológicos mostrou o resultado desse esforço. Do dia 6 de março, data em que entrou em vigor a suspensão das atividades não essenciais, para o dia 13, foram 2.007 novos casos da Covid-19 na Capital, crescimento de 6,7%. Na semana seguinte (de 13 para 20 de março), as medidas duras começaram a surtir efeito: já foram 1.750 novos casos e alta de 5,5%. Do dia 20 para 27 de março, a Capital registrou 1.472 novas confirmações da doença, expansão de 4,9%; e nesta última semana, de 27 para sábado, 4, o número de novas positivações caiu para 924, que representaram um crescimento de apenas 2,6%.
Algumas cidades do Tocantins precisam urgentemente reforçar as medidas porque a transmissão continua em ritmo muito alto, casos de Porto Nacional e Paraíso. Enquanto na última semana (de 27 de março a sábado), registraram alta de novos casos de 8,5% e 7,4%, respectivamente, a média do Tocantins estava em 3,5%, em Palmas, 2,6%; e em Araguaína, 2,5%.
Exemplos como de Araraquara e Palmas provam que, sem vacinação em massa, a única forma de reduzir mortes, novas contaminações e aliviar o sistema de saúde é pelo isolamento social, ainda que tenha um custo altíssimo para a economia.
Qualquer outra medida é paliativa, fazer de conta que está agindo. Simular que se preocupa com a vida de seus cidadãos.
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Post Scriptum
Parabéns à PM – A Polícia Militar do Tocantins está de parabéns por impedir a realização de duas partidas pela 6ª rodada do campeonato tocantinense de futebol, programadas para estádio Rezendão, em Gurupi, nesse domingo. Na quinta-feira, 1º, a Federação Tocantinense de Futebol já havia ignorado solenemente o decreto e realizou dois jogos. Um desrespeito absurdo e intolerável.
Dor eterna – Pelo vídeo que postou nas redes sociais no sábado, 2, data dos três anos de sua renúncia, o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB) mostra que não consegue superar a dor da perda.
Reze-se em casa – Faço minhas as palavras do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Marco Aurélio Mello: “O maior altar que nós temos é o nosso lar. Reze-se em casa”. Esta insistência de igrejas em colocar em risco a vida de seus fiéis com cultos presenciais é totalmente anticristã. É um culto a Mamon, não ao Deus Supremo.
Culpa é de bolsonaro – Como mostrou a pesquisa do PoderData, não colou a tentativa do presidente Jair Bolsonaro de jogar a culpa do caos da pandemia que ele criou nas costas de governadores e prefeitos. A culpa é dele. Não é só a minha opinião, mas a de 44% da população brasileira. Apenas 16% responsabilizam o governador do seu Estado e 8% os prefeitos.