Como a coluna já havia avisado, com as águas de março fechando o verão que as coisas começariam a se definir. Na sexta-feira, 11, com a renúncia de Mauro Carlesse, o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) foi efetivado no comando do Estado e, nesse domingo, 13, o senador Eduardo Gomes (MDB) revelou, enfim, o que já se esperava: ele vai mesmo apoiar o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (Podemos) para o governo do Tocantins.
A definição da terceira via se dará mesmo aos 49 minutos do final das convenções, mas até lá é bem possível que alguns nomes já devem ir ficando pelo caminho. Temos neste momento o ex-deputado Paulo Mourão (PT), os empresários Ataídes Oliveira (Pros) e Edison Tabocão (PSD), o deputado federal Osires Damaso (PSC) e o ex-prefeito de Gurupi Laurez Moreira (PDT). Contudo, é pouco provável que qualquer um deles consiga atrair um número considerável de líderes expressivos para se elevar à competitividade dos grupos do Palácio e Dimas/Gomes — quem pode puxar um ou outro é Damaso, com emendas parlamentares, e Mourão, com prefeitos petistas.
E é a busca por esses líderes que vai marcar a pré-campanha a partir daqui.
Já descrevi em outras reflexões como se estrutura o modelo eleitoral do Tocantins: temos cerca de 50% do eleitorado nos 13 maiores colégios e os outros cerca de 50% nos demais 126 municípios. Nos primeiros, os eleitores têm mais autonomia para decidir em quem votam. São cidades comercialmente mais fortes, com uma planta industrial, universidades e, consequentemente, melhores renda e qualidade de vida. Tudo isso leva a uma postura mais crítica da população na escolha do seu candidato. Nesses centros maiores, os votos se pulverizam, porque a liberdade de optar por um ou outro é mais ampla. Ou seja, ao contrário do que pensam os socialistas, a plena liberdade se dá com mercado, não com Estado.
Nos demais 126 municípios, com comércio muito fraco, baixíssimos índices de desenvolvimento econômico, humano e social, mesmo que em diferentes graus, há uma dependência muito grande do poder público. Em consequência disso, a autonomia do voto é menor e o poder de influência dos coronéis locais, muito maior. Os números mostram que eles são “os donos” do voto. Mantêm grande parte dos eleitores com pagamento de água, energia e gás; distribuem cestas básicas e remédios, levam doentes aos médicos e até fornecem caixão na morte de entes queridos. Com isso, são recompensados com a fidelidade de seu eleitorado.
Não é por outro motivo que, em todas as eleições estaduais, a disputa mais importante dos dois grupos mais competitivos (Palácio e um de oposição com mais musculatura) é sobre quem consegue manter mais prefeitos em sua base.
Agora, então, começa a se travar uma luta ferrenha para segurar esses líderes na aliança e tirar os do adversário. O Palácio Araguaia leva ampla vantagem nisso, uma vez que há grande dependência dos municípios em relação ao governo do Tocantins e o chefe do Executivo estadual tem um “poder mágico”: o de nomear e exonerar.
Porém, do outro lado, o senador Eduardo Gomes conta com instrumentos poderosos que construiu ao longo dos últimos anos, em sua proximidade com o governo Jair Bolsonaro, do qual é líder no Congresso. Através da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Gomes tem canalizado milhões de reais para os municípios. Ainda tem o Projeto Calha Norte, recursos de emendas e todo o arsenal de convênios diversos de ministérios que podem fazer jorrar verbas federais por todo o Estado. Diga-se: liquidez que o governo do Tocantins não tem.
É bom ressaltar, contudo, que o poder de nomear de Wanderlei e o de conseguir convênios e recursos federais de Gomes têm a limitação temporal imposta pela legislação eleitoral.
Em relação ao perfil dos pré-candidatos, o ex-prefeito Ronaldo Dimas pode não ter o riso fácil, o abraço gratuito e a conversa frugal comum nos políticos. Apesar de introvertido, sua personalidade reflete seriedade e é um nome que tem muito a oferecer ao Estado, num momento de encruzilhada em que precisamos aprofundar muito mais os ajustes iniciados na gestão Carlesse e também planejar nosso futuro.
O que Dimas fez em Araguaína em seus oito anos e continua fazendo através de um discípulo fiel, o prefeito Wagner Rodrigues (SD), é uma demonstração clara de que competência lhe sobra para administrar o Tocantins. Se Gomes realmente abraçá-lo e usar do arsenal de que dispõe para segurar líderes ao lado deles e puxar outro tanto da aliança palaciana, o ex-prefeito será muito competitivo, e isso, não tenho dúvida, fará desta uma das disputas mais imprevisíveis de nossa história, semelhante à de Carlos Gaguim x Siqueira Campos em 2010.
Justamente porque no Palácio Araguaia está um político muito carismático, filho legítimo do Tocantins, querido por todos os lados — mesmo pelos adversários —, que transita por todas as correntes, que conta com a simpatia natural dos prefeitos e demais líderes e vive um momento de boa popularidade. Mais: agora com muita tranquilidade, diante da certeza de que não será mais desalojado do cargo.
Por isso, diga-se, Wanderlei avança nessa pré-campanha, a partir de agora, quilômetros à frente de Dimas em termos de apoio de líderes. Além de dois senadores — Kátia Abreu (PP) e Irajá (PSD) —, 21 dos 24 deputados assinaram a carta de apoio à reeleição do governador, numa iniciativa de Eduardo Siqueira Campos (UB); e prefeitos e vereadores, às dezenas, têm feito a mesma defesa.
A pergunta é se eles permanecerão com o Palácio em todo o processo ou se Gomes, com sua maestria, vai conseguir atrair muitos deles.
Pelo que já vi o hoje senador fazer ao longo desses 20 anos não duvido de nada. Mas que o governador tem uma grande vantagem em apoio de líderes neste momento, isso é inegável.
CT, Palmas, 14 de março de 2022.