Uma coisa é fato nesta nova reviravolta que vive o Tocantins: o cenário pré-eleitoral mudou. A principal das mudanças é que o governador interino Wanderlei Barbosa (sem partido), cuja candidatura dependia de inúmeras variáveis, agora tem o Poder nas mãos e, se a Justiça mantiver o afastamento do governador Mauro Carlesse (PSL), ele vai disputar a reeleição. Esse é o único fato certo destas pré-campanhas. Ou seja, do dia 19 para o dia 20, Wanderlei foi de alguém com baixa expectativa de efetivamente ser candidato a governador para o mais provável nome das eleições do ano que vem.
Comum nessas viradas de mesa: foi com Carlesse em 2018, com Sandoval Cardoso em 2014 e Carlos Gaguim em 2009. Se o Palácio, que estava imerso em dúvidas quanto ao seu candidato, agora já tem uma definição mais clara, como fica a oposição?
Por lá, a indefinição ainda persiste. Todo mundo quer, mas competitividade nem todos vão conseguir. Ronaldo Dimas (Podemos), Laurez Moreira (Avante), Eduardo Gomes (MDB), Osires Damaso (PSC), Paulo Mourão (PT), Edison Tabocão (PSD) e Ataídes Oliveira (Pros) precisam acelerar ainda mais as articulações em busca de apoio. Sim porque a competitividade está condicionada à quantidade e à qualidade da sustentação que o pré-candidato obterá até as convenções de julho.
Parece muito tempo, mas não é. Ainda mais considerando que março será um mês estratégico porque é na revoada da janela partidária que ficará evidente a força de cada postulante. A partir de abril até julho, todos os governadoriáveis, com seus generais a postos, entrarão num cabo-de-guerra para provar quem tem mais chances reais de enfrentar o nome do Palácio. É desse jogo que sairão as composições que darão musculatura às candidaturas sobreviventes. Claro, sempre haverá aquele que insistirá no erro de achar que sozinho vencerá. Terminará menor do que começou — como já afirmei antes, o pior tipo de derrota eleitoral.
Olhando mais de perto a oposição, o grupo que começa a se descolar e mostrar mais consistência é o de Gomes, Dimas e Laurez. O jogo para o senador parece — e reforço: parece — ter se tornado pouco vantajoso. Ele seria um nome difícil de ser batido com apoio do Palácio. Juntando sua capilaridade pelo Estado com a da máquina, é provável que quase se chegaria ao WO que Gomes almejava.
No entanto, com Wanderlei praticamente certo na disputa, a leitura é outra. O senador passa de o mais competitivo nome para se tornar o mais importante aliado nas eleições de 2022. Neste momento, ele pende o apoio à dupla Dimas-Laurez, da qual tudo indica que sairá o cabeça de chapa e o vice.
Agora é o governador interino que tenta construir o WO, buscando atrair Gomes para o grupo situacionista. Sinais que chegam são de que é pouco provável que Wanderlei seja bem-sucedido nesta empreitada.
Fora dessas duas correntes, Palácio de um lado e Gomes-Dimas-Laurez do outro, creio que restará pouco para os demais pré-candidatos. Uma possibilidade é se unirem a um desses dois lados mais robustecidos. Ou então, juntos, tentarem ofertar uma terceira via ao Estado. No entanto, a relação de forças no Tocantins, com cerca de 50% do eleitorado submetido à liderança dos coronéis locais, não dará muito espaço para que uma chapa alternativa tenha elevada competitividade. Mas se esse grupo se fragmentar ficará pior, aí que as chances dele será menor.
Como na disposição anterior, nesta nova distribuição das peças pelo tabuleiro, Gomes continua sendo o fiel da balança. Ainda que agora a possibilidade de ele ser o candidato tenha diminuído consideravelmente. Se o senador pender para o governo, Wanderlei se torna quase imbatível; ser caminhar mesmo, como se projeta, com Dimas e Laurez, esses dois se capacitam a fazer frente ao Palácio.
Mas veja: Gomes não é carta fora do baralho. Afinal, mais uma vez retomando o personagem fantasmagórico de Nelson Rodrigues, o Sobrenatural de Almeida pode aparecer novamente. No Tocantins, tudo é possível. Até o que hoje consideramos impossível.
Nossa história mostra isso.
CT, Palmas, 3 de novembro de 2021.