Em algumas ocasiões defendi aqui que o ajuste das contas do Estado só seria possível se o Palácio Araguaia se dispuser a sacrificar sua popularidade pelo menos nos dois primeiros anos de governo. Cheguei a pensar em 2011 que o então governador Siqueira Campos tomaria para si essa missão, quando promoveu uma exoneração em massa de comissionados e contratados no inicio da gestão. Mas acabou recuando ao longo do tempo, e as contas continuaram se deteriorando.
Marcelo Miranda chegou a ensaiar medidas de contenção dos gastos, mas de forma muito tímida. Assim, o atual governador Mauro Carlesse herdou o Estado com 58% da Receita Corrente Líquida comprometida com a folha de pagamento.
[bs-quote quote=”O Palácio precisa continuar colocando a recuperação das contas do Estado como prioridade, por mais desgastes que isso gere ainda neste ano. Afinal, o Tocantins precisa estar acima dos interesses menores” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
Cheguei a pensar que mais uma vez o necessário ajuste continuaria sendo postergado sob o clima das duas eleições de 2018, a suplementar e a ordinária. No entanto, me surpreendeu o fato de o Palácio ter tido a coragem de implementar medidas austeras a partir de novembro daquele mesmo ano. Controle de gastos de combustíveis com a frota, congelamento de progressões, data-base de 1% e outras providências amargas, que já geraram alguns resultados, como o pagamento dos servidores no primeiro dia útil do mês — vinha sendo liquidado no dia 12 desde janeiro de 2015.
Por fim, chegou ao reenquadramento do Estado à Lei de Responsabilidade Fiscal, com comprometimento de 47,67% da Receita Corrente Líquida. O desafio agora é que esta nova situação fiscal do Tocantins seja reconhecida pela União para que o Estado tenha acesso ao financiamento de R$ 583 milhões para levar obras para todos os municípios.
Se por um lado, as medidas saneadoras são importantes para o Tocantins a médio e longo prazos, já que visam sobretudo recuperar a capacidade de investimento do Estado; de outro, no curto prazo, gera, inevitavelmente, desgastes políticos, já que exigem sacrifícios da sociedade e do funcionalismo, categoria que tem peso eleitoral significativo especialmente em Palmas.
Este é o contexto em que a pré-candidatura a prefeito da Capital do vice-governador Wanderlei Barbosa (PHS) sofreu um abalo nas últimas semanas e gerou toda a especulação de que ele teria desistido. Wanderlei negou, mas reconheceu o desânimo em dado momento e as dificuldades do Palácio com as medidas de ajuste das contas do ano passado.
O vice-governador tem uma longa e profícua história com Palmas, onde o pai, Fenelon Barbosa, teve a honra de ser o primeiro prefeito e Wanderlei foi vereador e presidente da Câmara. Quem o conhece, sabe que ele acalenta há um bom tempo o sonho de administrar a Capital. É legítimo, dada a folha de serviços prestada à cidade.
Os críticos apontam outros membros de sua família em cargos eletivos, como o irmão, vereador Marilon Barbosa (PSB), presidente da Câmara, e o filho, Léo Barbosa (SD), deputado estadual. Contudo, é preciso lembrar que entre os que o criticam há aqueles que, num passado não muito distante, aceitaram de bom grado o apoio de Wanderlei para se eleger. Além disso, o fato de ter familiares na política só confirma que a extensa folha de serviços do vice-governador deu frutos. Afinal, no sistema democrático, todos chegam a cargos públicos com votos. Se as pessoas estão insatisfeitas, não votam no político e seus aliados.
Mas não há como não reconhecer que o cenário eleitoral que se desenha para o Palácio é ruim, diante de todo esse processo de ajuste acima relatado. O principal instrumento para mudar essa realidade era ter conseguido a liberação dos empréstimos junto à Caixa ainda no final do ano para levar obras a todo o Estado, o que, sem dúvida, colocaria o governo como importante protagonista das eleições municipais de 2020. Não foi possível e a expectativa é de que esses recursos não saiam em tempo hábil para serem capitalizados eleitoralmente.
De toda forma, o Palácio precisa continuar colocando a recuperação das contas do Estado como prioridade, por mais desgastes que isso gere ainda neste ano. Afinal, o Tocantins precisa estar acima dos interesses menores.
No entanto, não há dúvidas de que, se se mantiver firme nesse propósito, o governo vai colher bons frutos antes do encerramento de 2022.
CT, Palmas, 2 de março de 2020.