Desde o discurso insano e irresponsável do presidente Jair Bolsonaro cresceu a pressão dos empresários sobre os prefeitos para que fossem flexibilizadas as medidas de restrições impostas para conter o avanço da Covid-19, o novo coronavírus. Veja o desserviço que um líder desqualificado como Bolsonaro presta a seu país. É muito triste que numa das maiores crises mundiais tenhamos alguém tão pequeno à frente da Nação: tosco, analfabeto funcional, anti-ciência, com uma mente medieval. Líderes como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também desdenharam da doença no primeiro momento, mas mudaram o discurso quando viram a posição da ciência e as trágicas experiências mundo afora. Já o nosso capitão continua sem entender o que está ocorrendo, por sofrer de uma miséria intelectual, e ainda coloca sua tropa de fanáticos para trabalhar contra a saúde dos brasileiros.
[bs-quote quote=”Precisamos, sim, retomar a atividade econômica, mas com responsabilidade, tendo a ciência como bússola, que neste momento é representada pelas autoridades sanitárias” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
De toda forma, esse o pronunciamento insano do presidente deu gás para o empresariado partir sobre os prefeitos e jogá-los contra a parede. O resultado é que poucos estão resistindo à pressão e tomam decisão econômica, sem considerar a ciência. Por mais que neguem, essa é a realidade. Não há uma autoridade sanitária séria que neste momento recomenda o fim do isolamento social. Por favor, esse negócio de que ouvi “um monte”, não. Dê os nomes para que possamos ouvir esses profissionais de saúde. Repito sem medo de errar: não há uma autoridade sanitária tida como séria que recomende o fim do isolamento social neste momento.
Como já dissemos aqui, entendemos perfeitamente a situação dos empresários. Não é fácil ver o faturamento cair absurdamente. No entanto, para tocar negócios e carreiras, antes, é preciso estar vivo. Por isso, considerar o que a ciência tem a nos dizer em meio a essa profunda crise é o mais importante.
De outro lado, como também já afirmamos aqui, esse desespero ocorre por falta de ação do Poder Público, que é lento ao anunciar medidas de socorro aos informais, micro e pequenas empresas. Nessa sexta-feira, 27, o governo federal acenou com um pacote razoável, mas que vai demorar até duas semanas para virar realidade. Duas semanas em meio à situação que nos encontramos é um século. Não conseguem entender que é para ontem.
Governos do Estado e municipais também só estão em medidas que ou são executadas com recursos da União, ou que gerem boas fotos e mídia positiva. Nada até agora de meter a mão no próprio tesouro e oferecer ajuda. Tudo muito lento e cheio de reunião para marcar reunião. O Estado brasileiro — em todas as instâncias — é um mastodonte gordo e preguiçoso, sem qualquer sentido de urgência.
Ainda me irritou a nota do governo do Estado dessa sexta que se esquivou da pressão dos empresários, jogando a responsabilidade sobre as medidas de restrições sobre os prefeitos. É dos municípios, verdade, mas não compartilhar essa responsabilidade com as prefeituras é errado. A administração estadual tinha que ter sido firme e voltar a reforçar a recomendação de isolamento social em alto e bom som, e não de forma tímida e medrosa como a nota fez. Porque se esse vírus se alastrar é no colo do Palácio Araguaia que a bomba vai estourar, com hospitais entupidos de doentes.
É importante ainda ressaltar que há estudos científicos e recomendações de importantes organismos nacionais e internacionais de que o isolamento social é a única arma disponível contra a disseminação da Covid-19. Não há remédio nem vacina. Também há interesse coletivo envolvido, ja que a pandemia pode vitimar milhares de pessoas e sufocar totalmente o sistema de saúde. Então, vem uma pergunta necessária: cadê as ações do Ministério Público Estadual para manter as medidas de restrições? Será que o empresariado está pressionando por lá também? Só perguntas.
Precisamos, sim, retomar a atividade econômica, mas com responsabilidade, tendo a ciência como bússola, que neste momento é representada pelas autoridades sanitárias. E elas estão sendo total e absurdamente ignoradas pelos prefeitos, que cedem às pressões do empresariado e, repito, tomam decisões única e exclusivamente econômicas. Líder tem que ser capaz de suportar pressão numa situação de crise profunda como esta, ou entregue o cargo para outro.
Então, que fique muito, mas muito claro para todo o Estado que, da mesma forma que são os prefeitos que estão tomando as decisões, que eles são os únicos responsáveis pelos desdobramentos do que vir a ocorrer a partir de agora. Que pelo menos tenham a hombridade de assumir isso e que depois não tentem terceirizar a culpa.
CT, Palmas, 28 de março de 2020.