Palácio Araguaia e Prefeitura de Palmas não têm uma história de parceria duradoura desde o final do governo Nilmar Ruiz (2001-2004), quando a ex-prefeita pertencia à União do Tocantins. Nilmar conviveu em harmonia com os governadores de sua época, Siqueira Campos, que saiu em 2002, e Marcelo Miranda, que assumiu em 2003, foi reeleito em 2006 e cassado pelo TSE em 2009.
Em 2005, o então petista Raul Filho ascendeu ao Paço na terceira tentativa, em 2004 — havia sido derrotado em 1996 e 2000. Marcelo apoiou a reeleição de Nilmar, portanto, era adversário da nova gestão. Com o rompimento da União do Tocantins, os dois chegaram a ensaiar uma aliança mais consistente, porém, não saiu da tentativa. Algumas ações conjuntas isoladas e só.
Com Carlos Gaguim (2009-2010), Raul teve melhor parceria, mas durou pouco. O sucessor de Marcelo foi derrotado por Siqueira (2011-2014), com o qual o ex-petista não teve uma relação tempestiva, como era de se esperar, dado ao histórico de divergências dos dois, mas também não foram muito próximos.
O sucessor de Raul, Carlos Amastha (2013-2018), tinha com o Palácio Araguaia uma relação que beirava a inimizade. Na campanha de 2012, ele enfrentou Marcelo Lelis, o nome de Siqueira para aquelas eleições. Lelis, na época, mais do que adversário, era visto como inimigo. Da mesma forma, Eduardo Siqueira Campos, tido como o primeiro-ministro da gestão do pai.
Com a renúncia de Siqueira, o então prefeito se aliou ao governador tampão Sandoval Cardoso, e dois iniciaram uma estreita parceria. Sobrevoavam os céus de Palmas de helicóptero e davam até coletivas conjuntas. Mas, de novo, como entre Raul e Gaguim, foi voo de galinha, uma vez que Sandoval ficou apenas alguns meses no comando do Palácio Araguaia (de abril a dezembro de 2014).
Derrotado, Sandoval saiu e assumiu, de novo, Marcelo Miranda. Amastha ensaiou uma aproximação com o novo governador, com direito a audiências e algumas aparições públicas, e só. O rompimento veio logo porque o então prefeito passou a ir às redes sociais atacar o governo do Estado, cobrando a falta de repasses de recursos, sobretudo para a saúde.
O ápice dessa péssima relação ocorreu em fevereiro de 2016, quando Amastha tentou impedir que Marcelo Miranda subisse no palanque no inesquecível Dia Z do Zika, diante de um perplexo ministro do Trabalho e Emprego, Miguel Rossetto, que chegou a exigir que o prefeito autorizasse o governador no evento ou também se retiraria – dois anos depois, nas eleições de 2018, com ambos fora do mandato, Amastha se recusou a subir no palanque em Sítio Novo por conta da presença de Marcelo.
Com a segunda cassação do emedebista pelo TSE, o então presidente da Assembleia, Mauro Carlesse (PSL), assumiu o Palácio Araguaia quase ao mesmo tempo que a vice-prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) passou a comandar o Paço da Capital, com a renúncia de Amastha para disputar o governo do Tocantins. Carlesse virou governador em março e Cinthia prefeita em abril de 2018. No período eleitoral – nas eleições suplementar e ordinária – os dois tiveram uma relação distante, até porque a prefeita apoiava seu antecessor, então aliado e hoje inimigo.
Depois das eleições, houve também uns ensaios de aproximação, com algumas audiências divulgadas com muito barulho, mas ficou nisso. Como Amastha com Marcelo, Cinthia também recorreu algumas vezes ao Twitter para atacar o governo Carlesse.
Em todo esse rosário agora desfiado, Paço e Palácio puxaram para lados opostos. Isso é muito ruim, sobretudo, para a Capital, que precisa do Estado e tem com ele algumas pautas comuns. Neste aspecto, se a parceria entre Palmas e Palácio desta vez florescer, a cidade tem muito a ganhar.
A vantagem que o governo do Tocantins deve estar vislumbrando é mais política, uma vez que o apoio da prefeita da Capital, com a força da máquina, pode ser uma ajuda e tanto num processo eleitoral como o de 2022.
No entanto, no meio político, a avaliação é que uma coisa é a parceria administrativa, outra são as eleições do ano que vem. Para vários pensadores da nossa vida pública, a manifestação de aparente conformidade do senador Eduardo Gomes (MDB) — enxadrista do Tocantins que mais conhece esse tabuleiro –, com o ingresso de Cinthia na base de Carlesse, é prova cabal de que esse jogo ainda está sendo jogado, e que falta muito para terminar a partida.
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Post Scriptum
Combinar com o ministério – Tem muitos deputados e vereadores no Tocantins e Brasil afora apresentando requerimentos para que várias categorias sejam consideradas prioritárias na vacinação contra a Covid-19. Precisam combinar com o Ministério da Saúde. Só ele para definir isso. O resto é só factoide.
Movimentos pré-eleitorais – Desde o agravamento da crise da Covid-19, as movimentações pré-eleitorais estavam estagnadas. Nas duas últimas semanas esboçaram reações: Carlesse mudando de partido e se fortalecendo com a adesão de Cinthia, Amastha almoçando com o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas. Mas a expectativa é de que só ganhem mais velocidade dentro de cerca de três meses.
Sem varejo – Como o pedido de Amastha contra Cinthia, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), deve estar recebendo centenas neste momento. Tudo quanto é adversário quer os prefeitos de suas cidades na CPI da Covid. Como o Parlamento vai resolver esta questão? Se ficar dando atenção ao varejinho, não dará conta do principal. Pacheco parece ter construído um Frankenstein para afundar a CPI.
Rede preferida dos jornalistas – Uma pesquisa global que ouviu 2.482 jornalistas em todo o mundo revelou que o Twitter é a rede mais usada pelos jornalistas (76%) e a que consideram mais valiosa para o seu trabalho. Além disso, é a rede que mais usam para se informar, perdendo apenas para os jornais e revistas online. A pesquisa, chamada State of Journalism 2021, é uma iniciativa anual da plataforma digital Muck Rack. Ela foi realizada entre os dias 11 de janeiro e 8 de fevereiro. Sem dúvida, o Twitter é a melhor de todas as redes sociais.
CT, Palmas, 14 de abril de 2021.