Acabamos de chegar de uma viagem dolorosa, após o inesperado bater à porta da nossa família e meu cunhado Eloísio Aparecido Borges, o nosso Capu, repentinamente ser levado para o plano espiritual aos 53 anos. Servidor dedicado da Prefeitura de Teodoro Sampaio (SP), todas às vezes que eu estava por lá me pegava para fazer um tour para mostrar os avanços da cidade. Era a grande alegria nas reuniões familiares. Tudo dava ocasião para alguma graça. Perto de Capu não havia tristeza.
Com seu irmão e meu outro cunhado, Elinho, Capu me arrumou o primeiro emprego com carteira assinada, como fiscal agrícola numa plantação de cana, onde eles eram coordenadores dos trabalhos. Fiquei apenas duas ou três semanas na função. Logo me transferiram para o escritório, o que me deixou muito aliviado, já que não tinha nem de longe o vigor físico de meus cunhados.
[bs-quote quote=”A existência não deve ser gasta apenas em acumular, construir bens materiais, mas principalmente em usar o que conquistamos para contemplar o mundo à nossa volta e as pessoas que nos são caras” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/07/ct-oficial-60.jpg”][/bs-quote]
Esse foi meu assombro de uma passagem tão repentina: Capu sempre representou para mim um monstro em termos de força e vitalidade. De todos nós, jamais apostaria que ele seria o primeiro a nos deixar. Sempre achei que Capu estaria no sepultamento de quase todos nós. Mas é a vida e seus desígnios.
Num momento estamos debruçados sobre o dia-a-dia do trabalho, da política, da economia, da agitação dos bastidores que me prende de manhã, de tarde e de noite. No outro, quando o imprevisto chega, tudo para e parece perder o sentido.
Deixamo-nos levar por essas tormentas porque sabemos que nossos familiares também seguem em suas correrias, com problemas não diferentes dos nossos, mas fortes o suficientes para que nos finais de ano nos encontremos, confraternizemos e comemoremos as vitórias e choremos as eventuais derrotas, que, na verdade, não nos são mais do que aprendizados para continuarmos a romagem. Por isso que a perplexidade nos abate nos momentos de perdas: sim, a vida termina, e a qualquer momento! Quer dizer, pelo menos aqui neste plano.
Saio da pauta da política neste meu retorno para esta reflexão que considero fundamental em nossas vidas. Vivo este momento de querer curtir mais as pessoas queridas. Talvez isso seja mais forte em nós que deixamos nossos Estados e transferimos a nossa vida para milhares de quilômetros de distância. São poucos os momentos que temos para, fisicamente, aproveitar nossos pais, irmãos, sobrinhos, cunhados, sogros, amigos, todos aqueles que deixamos tão distantes de nossas vistas, mas que não saem de nossas mentes e corações.
Nessa agitação da rotina, é preciso dominar o tempo para também dedicarmos alguns minutos diários para aqueles que amamos. A existência não deve ser gasta apenas em acumular, construir bens materiais, mas principalmente em usar o que conquistamos para contemplar o mundo à nossa volta e as pessoas que nos são caras.
“Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?” (Mateus 6:25), perguntou Jesus, num claro e óbvio tom de afirmação, em palavras que ecoam há mais de 2 mil anos, mas ainda não conseguimos assimilar plenamente seu significado em nossas vidas.
No último tour que Capu fez comigo no final do ano, conversamos muito, rimos demais e ele revelou que lutava para transformar a mente e compreender mais sua família para desfrutá-la em paz e harmonia. Rude por um lado e de um coração imenso de outro, meu cunhado teve um funeral cheio de testemunhos de pessoas simples que ele socorreu nos momentos mais difíceis. Esses depoimentos de seu caráter e força moral foram o maior patrimônio que deixou. Quase todos estavam lá para agradecer, se despedir e, sob o derramamento de muitas lágrimas, confirmar que perdemos um ser humano excepcional.
Até o reencontro, irmão. Obrigado por tudo.
CT, Palmas, 6 de setembro de 2019.