O governador interino Wanderlei Barbosa (sem partido) completou quatro meses no comando do Palácio Araguaia no dia 20 de fevereiro. Até aqui vem cumprindo o script que lhe cabe: garantir segurança e estabilidade, ao impedir que a crise político-jurídico contamine a confiança da população e dos investidores.
Nas outras alterações abruptas de governo que assistimos, os próprios excessos de movimentação e concessões do governo tampão eram o suficiente para gerar desconfiança na sociedade. Todo dia, o titular da cadeira principal do Palácio autorizava benefícios que todos sabíamos que resultariam na crise fiscal que depois nos abateria.
Wanderlei tem se movimentado muito pelo Estado, mas não se vê as concessões irresponsáveis de outros momentos similares. O fato de uma categoria do funcionalismo neste instante estar cobrando de forma raivosa seu Plano de Cargos, Carreira e Subsídio (PCCS) só demonstra o que aqui se defende. Age com correção o governador. Nada contra as reivindicações de qualquer categoria, mas a concessão não deve ser movida pelo calor das eleições e, sim, calcada na capacidade do erário, a médio e longo prazos, dentro de uma política de planejamento que vise o desenvolvimento do Tocantins.
Nestes quatro meses, político habilidoso, Wanderlei atraiu líderes das mais diversas regiões para sua base e vem ganhando musculatura para seu grande desafio político de 2022, a busca pela reeleição. Resultado da credibilidade que conquistou também com a postura de um governante presente não só nos momentos festivos, mas, principalmente, nas dificuldades, como ficou evidente na tragédia das grandes chuvas que impactaram terrivelmente Miracema, São Miguel, Formoso e outras cidades.
O governador tem agido para atender reivindicações mais estruturais do que corporativas, como o caso da transferência dos recursos do transporte escolar diretamente para os municípios, na entrega de títulos do programa de regularização fundiária, nas ordens de serviço de pavimentação e recuperação de trechos viários e no importante investimento anunciado para os parques industriais do Estado, setor essencial ao desenvolvimento do Tocantins.
Porém, está cumprindo o pagamento das progressões dos servidores, um incômodo passivo que não pode ir se acumulando indefinidamente. Justamente a irresponsabilidade do passado, com PCCS’s sem qualquer conexão com a realidade arrecadatória do governo, gerou essa avalanche de progressões e data-base atrasadas, que precisa ser encarada, mas também redimensionada ao orçamento estadual para que não continue se expandindo.
O servidor precisa receber seus direitos dentro do ano, mas, para isso, os benefícios não podem ser maiores que a capacidade de pagamento do Estado. Do contrário, como temos visto, a conta não fecha, o que significa que o governo não poderá não pagar e o funcionalismo continuará sem receber. Por isso, ambos os lados precisam chegar a um denominador comum.
Até porque, como temos defendido desde as primeiras horas deste governo, seu maior desafio para 2022 é garantir a manutenção dos ajustes iniciados em 2018. Caso contrário, ainda que reeleito, ou melhor, quem conseguir vencer as eleições, ou não governará, ou, para governar, terá que vir com outro pacote de arrocho. E ninguém quer nem um, nem outro cenário. Afinal, já passamos, amargamente, por ambos.
Claro que vem as críticas sobre as ações do governo. Ser pedra é muito mais cômodo que vidraça. Além disso, os discursos pré-eleitorais devem recrudescer a partir de agora e será um complicador para a manutenção da estabilidade do Estado. Pela ótica da oposição, de qualquer município ou Estado, nunca a situação pode estar boa, afinal, por que o eleitor trocaria um bom governo? Assim, vale a filosofia mineira: se o adversário não tiver defeito, é preciso pôr algum.
Por isso, o cidadão tem que estar atento aos movimentos e falas que tentam tirar vantagem eleitoral, e se precaver para não ser usado de massa de manobra. Ao mesmo tempo, deve cobrar do governo responsabilidade nas medidas que toma em ano de eleições para que a conta não caia no colo do contribuinte quando as urnas se fecharem.
Com a chegada de março, a pré-campanha ganhará força e esse debate estará presente a todo momento.
CT, Palmas, 2 de março de 2022.