Os especialistas em marketing eleitoral dizem que a transferência de votos de um líder badalado para seu candidato ocorre, mas não é muito alta. Claro que ter um bom cabo eleitoral é importante, mas o eleitor sabe que “rei morto, rei posto”. Assim que se senta à cadeira e segura na caneta, tudo muda, afinal, não se trata de um clone do antecessor. Por isso também a população sempre vai avaliar o perfil daquele que o líder popular está lhe oferecendo.
É o drama que vão viver vários bons prefeitos do Tocantins, entre eles dois se destacam, o de Araguaína, Ronaldo Dimas (Podemos), e o de Gurupi, Laurez Moreira (PSDB). Ambos têm gestões bem avaliadas e transformaram suas cidades. Muitas e importantes obras realizadas, contas em dia, muitos projetos em andamento. Como dar sequência a tudo isso e evitar qualquer forma de retrocesso? Essa é a pergunta que imagino que os dois prefeitos — afinal, o “produto” que construíram consumiu oito anos de suas vidas — e os munícipes devem estar se fazendo.
[bs-quote quote=”É necessário que o candidato a candidato não só tenha conhecimento, competência, responsabilidade e capacidade de liderança, mas que transmita isso à população” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
A lógica dos políticos das antigas era trabalhar superficialmente por seu candidato e torcer silenciosamente para a oposição vencer. Assim, raciocinavam, a população logo sentiria falta e eles voltariam como Napoleão Bonaparte entrando em Paris após o exílio, ovacionados por seus concidadãos. Conhecendo Dimas e Laurez, não acredito que apostem nisso. Creio mais que olhem as prefeituras que comandarão até dezembro de 2020 com preocupação diante de todo o esforço que empreenderam para colocá-las na situação em que se encontram.
Assim, se apostar num retorno lá na frente pelo fracasso do sucessor está fora de cogitação, como fazer para definir o candidato ideal? O básico é um perfil que conheça profundamente a administração, que tenha acompanhado pari passu toda saga de recuperação das contas, a peregrinação por Palmas e Brasília em busca de recursos e a luta árdua contra toda a burocracia que atola projetos essenciais ao desenvolvimento dos municípios.
Mas só isso não basta. O segundo ponto fundamental é ter liderança, responsabilidade e competência para dar continuidade à execução de projetos, à constante necessidade de buscar de mais e mais recursos. Se faltarem esses requisitos, os prefeitos podem colocar uma Ferrari nas mãos de um péssimo motorista e eles vão atropelar o primeiro transeunte que atravessar seu caminho, levar multa por furar o sinal vermelho e até capotar e destruir o carro.
Liderança, responsabilidade e competência são virtudes excelentes, mas ainda não são o suficiente. Os candidatos a candidato precisam ter carisma na medida certa para passar à população a segurança de que poderão dar continuidade às boas gestões. Esse ponto se baseia no velho e eficaz axioma que diz que a mulher de César não apenas deve ser, mas também parecer.
Inclusive, os candidatos a candidato devem ter mais a virtude do carisma do que os próprios padrinhos. Dimas e Laurez não são os melhores exemplares de políticos carismáticos do Tocantins, mas, pela história e imagem de seriedade que construíram ao longo de suas vidas públicas, chegaram ao comando quando as gestões de seus municípios enfrentavam uma situação de absoluto descrédito. Ou seja, as marcas que tinham de austeridade e o semblante sisudo se encaixaram como luva no momento histórico em que disputaram as eleições.
Seus indicados se apresentam agora num cenário diametralmente oposto àqueles em que esses prefeitos concorreram. A situação de caos administrativo foi superada e os municípios entraram num ciclo virtuoso. A preocupação do eleitorado agora não é mais tirar a prefeitura do buraco — contexto, inclusive, propício para qualquer populista se apresentar com um discurso de facilidades e vencer, já que a população tende a estar menos exigente, diante da desesperança em que se encontra. O que essas cidades buscarão em 2020 é a continuidade de um trabalho bem feito. Por isso, os eleitores serão mais seletivos e precavidos.
Assim, é necessário que o candidato a candidato não só tenha conhecimento, competência, responsabilidade e capacidade de liderança, mas que transmita à população que possui essas virtudes. Esse é um problema para quem quer disputar as eleições do ano que vem e para os próprios prefeitos bem avaliados. Afinal, se não conseguirem encontrar um perfil que se encaixe nessas qualidades elencadas, pode surgir um nome na oposição no qual o eleitorado identifique essas condições necessárias.
E é aí que a oposição a esses prefeitos deve atuar. Não adianta atacar gestões bem avaliadas, porque é dar murro em ponta de faca. Os opositores vão ter que, humildemente, reconhecer o sucesso do governo adversário e convencer que são eles e não os pupilos da situação os que estão à altura de manter o bom trabalho realizado.
Quem conseguir persuadir a população de que pode dar essa continuidade é que vai vencer as eleições de 2020 nessas cidades. Se da situação ou da oposição, para o eleitor, não faz a menor diferença desde que o ciclo virtuoso não se encerre.
CT, Palmas, 21 de novembro de 2019.