Dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado) e do MapBiomas levantados pela Agência Pública e divulgados pela coalizão Vozes do Tocantins indicam que, se o desmatamento do bioma seguir a evolução atual, cerca de 108 municípios correm o risco de ficar sem água. O estudo destaca ainda que 74,5% do desmatamento do bioma ocorreu nas cinco bacias hidrográficas na região do Matopiba – polígono entre as fronteiras de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
VEGETAÇÃO NATIVA DAS BACIAS EM RISCO
O estudo detalha que o desmatamento da vegetação nativa nas bacias dos rios Araguaia, São Francisco, Parnaíba, Tocantins e Itapecuru chega a 599.007 hectares e implica na diminuição da capacidade de partilha e filtração de água nos estados de Maranhão, Piauí, Goiás, Bahia e Mato Grosso, além do Tocantins, que de acordo com os dados disponibilizados, ocupa a 2ª colocação em área de vegetação desmatada com 1.710,55 quilômetros quadrados (km²), ficando atrás apenas do Maranhão com 2.281,72 km².
ESCASSEZ HÍDRICA PODERÁ FICAR COMUM EM 30 ANOS
O estudo conclui que, se as taxas de desmatamento não tiverem uma redução drástica, a escassez hídrica será uma realidade mais comum em menos de 30 anos, o que afetará a própria agricultura, a produção de energia elétrica, a biodiversidade e o abastecimento de água das populações, especialmente durante as estações secas.
MAIS DADOS
De acordo com uma pesquisa realizada com o apoio da instituição membro da coalizão Vozes do Tocantins por Justiça Climática, Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e publicado na revista científica internacional Sustainability, o impacto do desmatamento pode gerar uma perda de água nas bacias hidrográficas do bioma em 23.653 metros cúbicos por segundo (m³/s) nos próximos 28 anos. Isto equivale a 34% dos recursos totais e cujo volume de água corresponde à vazão de oito rios Nilo.
RESPONSABILIZAÇÃO
Quilombola, ativista e agente da Comissão Pastoral da Terra de Araguaína (CPT-AT) na Defesa do Cerrado, Ludimila Carvalho defende que é preciso responsabilizar os causadores diretos pela destruição do bioma. “Esses números por si só são desesperadores, mas não é só sobre números, é sobre pessoas, povos do campo e da cidade, é sobre a biodiversidade, é sobre a água que bebemos e água é vida. Precisamos lutar juntos, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, assentados, posseiros, acampados, os povos cerradeiros. Resistir é a palavra de ordem. Denunciar também. Mas o que tem que ser feito urgentemente é paralisar quem está destruindo, essa é a única solução, o Cerrado é conhecido pela sua capacidade de se recuperar, se recompor, mas isso não pode ficar para amanhã, tem que ser agora”, pontua.