A Campanha da Fraternidade deste ano tem a “Superação da Violência” como tema, e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) chamou a atenção ao alertar que a corrupção também conta como uma ação violenta. Arcebispo da Arquidiocese de Palmas, Dom Pedro Brito Guimarães, fez coro com a entidade, mas também destacou que o cenário político “dividiu” o País. O religioso defende a atuação da Igreja na mediação para diminuir as “tensões” na política atual.
De acordo com o arcebispo, os temas das Campanhas da Fraternidade são escolhidos levando em consideração as sugestões da comunidade católica e uma análise das “necessidades e contingências” do País. Dom Pedro Brito revelou que a violência estava na pauta da CNBB já há alguns anos, e o agravamento da crise na segurança pública fez com que o assunto fosse alçado em 2018. O religioso citou a situação do Rio de Janeiro, que sofre uma intervenção federal; e trouxe dado da Conferência dos Bispos que diz que o Brasil é responsável por 13% dos assassinatos no mundo.
“O sistema de segurança pública está falido. Os dados são estarrecedores. O Brasil contribui com 13% de assassinatos no mundo todo, sem contar com outros tipos de violência, como a intolerância religiosa, de gênero, de cor e de partido político”, listou Dom Pedro Brito, defendendo a participação da Igreja no debate. “A violência é social, política, econômica. Está generalizada. Quem tem o poder de ajudar a gente a se reconciliar? A Igreja tem obrigação de dizer: vamos dialogar, acabar com as tensões e conflitos”, reforça.
Corrupção tira a comida
Apesar de destacar os números do País e a situação do Rio de Janeiro, o arcebispo cita que o Estado também sofre. “O Tocantins não é uma ilha de passividade. Esta violência é transversal”, avalia. Dom Pedro Brito citou alguns problemas enfrentados pelos tocantinenses, destacando em especial a questão do trabalho escravo, suicídio e violência urbana. A corrupção também não foi esquecida. “É uma violência porque tira a comida, o remédio da pessoa. A conta bancária [do corrupto] aumenta, enquanto o outro morre na fila do hospital”, disse o religioso ao se lembrar das recentes operações da Polícia Federal no Estado.
O cenário político pós-impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), na avaliação de Dom Pedro Brito, tem sido terreno fértil para a intolerância. “A violência está gratuita. A gente está sentindo que isso são as tensões, a politização. O Brasil se dividiu”, comentou. O arcebispo reforça que “agressões físicas e verbais que acontecem no Senado” contribui para a tensão. Para o responsável pela Arquidiocese de Palmas, a Igreja não deve entrar no mérito do debate, mas mediá-lo e conscientizar a comunidade religiosa e a população em geral.
Para o arcebispo, a relação da Igreja e o Poder Público deve ser amistosa, mas destaca que há espaços para críticas. “A gente procura conviver com as autoridades, respeitar, dialogar, mas certa liberdade nós temos. O valor é esse: não se deixar vender e nem comprar. Não ser opositor por oposição ou conivente por conivência. Vamos fazer debates como sempre fizemos, mas ser conivente não podemos. E ficar fazendo chantagem com o governo também não é função da Igreja. Vamos estar do lado do povo e da Justiça”, garante o religioso, propondo discussões com a Assembleia Legislativa e Câmara de Palmas.
Orientação
Dom Pedro Brito esclarece que a campanha é “um sinal”, “um pontapé”, e que os trabalhos serão elaborados pelos pequenos grupos católicos. “Até orientei os padres que moram em regiões periféricas. Eles sabem quem são os violentos, então porque não fazer uma reunião com as lideranças, associações de moradores e a Polícia para conversar sobre a violência naquele espaço? Esta foi minha orientação. Além de falar na Igreja também. Nós queremos superar a violência, ensinar as pessoas a se perdoarem, se amarem, a sentar para conversar”, concluiu.