O médico Estevam Rivello Alves, conselheiro federal de Medicina, conversou com a Coluna do CT sobre a preparação do Estado para enfrentar a pandemia da Covid-19, o novo coronavírus. Ele revelou que numa reunião, acompanhado por um representante do Ministério Público Estadual, com o secretário estadual da Saúde, Edgar Tolini, na segunda-feira, 30, defendeu que o Tocantins tenha um ambiente dedicado a tratar da doença. Alves contou ter sugerido três possibilidades ao secretário.
Hospital de campanha, Centro de Convenções ou locação
A primeira seria montar um hospital de campanha com apoio do Exército. A segunda seria o Estado montar um ambiente específico no Centro de Convenções Parque do Povo Arnaud Rodrigues, em Palmas, que tem quase 4 mil metros quadrados já cobertos e com energia e hidráulica prontas. Outra possibilidade seria locar leitos de hospitais particulares para tratar exclusivamente da Covid-19.
Profissionais possíveis e imagináveis
O conselheiro avaliou que hoje no Tocantins há um quantitativo de médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem suficientes para atender a população. Porém, observou que é preciso otimizar os serviços porque o Estado pode precisar de todos os profissionais de saúde “possíveis e imagináveis” com a Covid-19. Alves disse que a experiência de França, Itália, Reino Unido e, especialmente agora, dos Estados Unidos ensinam que 45% dos profissionais que atendem no pronto-socorro e Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) “saem da batalha” acometidos pelo novo coronavírus. “Seja por uma coriza ou por morte”, afirmou. Segundo ele, uma alternativa que o Ministério da Saúde está colocando para aumentar a disponibilidade de recursos humanos é antecipar a colação de graus de estudantes do sexto ano de medicina. O conselheiro disse que tem ressalvas a respeito dessa proposta.
EPIs insuficientes
Uma preocupação mais urgente é a oferta de equipamentos de proteção individual (EPIs) para que os profissionais de saúde não adoeçam durante o enfrentamento da Covid-19. O médico disse hoje há problemas nesse campo porque não há EPIs suficientes nos hospitais do interior. Ele defendeu que o Estado não pode dizer agora que não encontra esses equipamentos, porque empresas no Brasil estão produzindo e podem ser buscados no exterior. Alves lembrou que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse em coletiva nessa quarta-feira, 1º, que os secretários estaduais não precisam ficar esperando o governo federal, mas devem eles mesmos fazer as compras.
Valorização profissional
O conselheiro defendeu ainda que é preciso valorizar o profissional da saúde. “Estão valorizando EPIs, equipamentos, menos o profissional que está prestando assistência”, avisou.
Temerário e arriscado
Sobre as medidas dos prefeitos dos principais municípios do Estado de flexibilizar a quarentena, o conselheiro do CRM disse achar “temerário” e “arriscado diante o cenário que se desenha”. “Nesse momento, se for tomar partido político, cada um vai ter a sua causa, mas não é o momento de a gente fazer isso. Os principais países do mundo, que desenham a saúde com muita responsabilidade, indicam que o isolamento é a principal forma de a gente conter esse problema”, defendeu o médico.
O que a gente quer?
Ele contou que se “constrange” ao “observar movimentos isolados no Estado, como carreata, solicitações para que o comércio retorne”. “O que a gente quer? Uma sociedade contaminada e um caos na saúde, ou uma sociedade que daqui a algum tempo consiga se reerguer e fazer com que o comércio volte a funcionar com as pessoas que nós amamos ao nosso lado?”, questionou.
Assista a seguir a participação do médico Estevam Rivello Alves no quadro Entrevista a Distância: