Uma reportagem especial da Agência Pública sobre os constantes governos interrompidos no Tocantins trouxe a revelação de que um delegado da Polícia Federal (PF) fez pressão para que uma testemunha colaborasse com as investigações da Operação Éris, uma das responsáveis por afastar Mauro Carlesse (Agir) do comando do Palácio Araguaia e que resultou em sua renúncia após a Assembleia Legislativa (Aleto) ter aberto processo de impeachment. A ação foi deflagrada com objetivo de responsabilizar suposta organização criminosa responsável por não só obstruir investigações contra aliados do ex-governador, mas também direcionar medidas contra adversários. A matéria é assinada por Rubens Valente e Ciro Barros.
CASO COLABORE, INVESTIGAÇÃO O IDENTIFICA COMO TESTEMUNHA
O alvo da pressão foi Thiago Emanuell Vaz Resplandes, delegado de Polícia Civil (PC) que gravou do próprio celular o depoimento de novembro de 2021 que prestou para o Duílio Mocelin Cardoso, delegado da PF que foi integrante da Operação Lava Jato. “A gente conversou com a PGR [Procuradoria Geral da República], o [delegado] Mauro [Fernando Knewitz], que coordena isso, tá mais a frente, e nossa posição era essa. Se vocês não colaborarem, a gente coloca ‘investigado’, cês têm ciência de tudo que estava se passando ali. Se vocês colaborarem a gente ouve vocês como testemunha, que para a gente é bom, para vocês também é muito bom”, propôs o agente federal.
TÔ TE FALANDO PARA PENSAR BEM NA POSTURA
As gravações feitas por Thiago Resplandes as quais a Agência Pública teve acesso indicam que Duílio Cardoso seguiu sendo direto na proposta. “Nosso objetivo não é vocês. Nosso objetivo é a galera lá. O quê que a gente está pensando? Vocês falarem as coisas, a gente ouve vocês como testemunhas. Esquece a condição de investigado e qualquer tipo de coisa. E aí vocês abrem pra gente toda aquela questão de apresentação dos nomes de delegados”, disse o agente federal, que teria revelado a pretensão da operação com demais investigados, como a demissão. “Eu só tô te falando isso pra você pensar bem na sua postura”, teria reforçado.
CASO EM ANÁLISE NA 1ª VARA CRIMINAL DE PALMAS
Apesar da proposta de Duílio Cardoso, Thiago Resplandes acabou denunciado pela subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, por suposta “falsidade ideológica em documento público”, corroborando a tese policial que acreditava ter afastado durante o depoimento que gravou. Inconformado com a promessa não cumprida da PF, Resplandes entregou a gravação à 1ª Vara Criminal de Palmas acompanhada de um pedido de busca e apreensão de provas que considera indispensáveis para sua defesa. No dia 30 de agosto, o juiz Rafael Gonçalves de Paula reconheceu a procedência do pedido. Em 5 de setembro, três peritos copiaram e entregaram o material ao juiz — que agora analisa os documentos.