Após a Polícia Civil (PC) concluir que a morte do servidor municipal Wagner Fernandes de Araújo foi resultado de um acidente doméstico, a família enviou uma nota à imprensa nesta quinta-feira, 12, para comunicar que não concorda com o resultado das investigações, que, conforme destacam, tomaram conhecimento somente através da imprensa. “Antes de convocar uma coletiva, por uma questão de humanidade, deveria ter apresentado o conjunto probatório apurado à família, a maior interessada no esclarecimento”, criticam.
Lesões não indicam queda, mas fortes agressões
A nota defende que a conclusão da investigação “contraria todas as informações” repassadas pelas equipes médicas à família. “As informações dão conta de que Wagner tinha traumatismo craniano, com afundamento de crânio, além de hematomas, escoriações e um corte na orelha esquerda, os quais não indicariam se tratar de uma queda, mas de fortes agressões”, relata.
Elucidação rápida, mas e Moisés?
Sobre a elucidação do caso, a família afirmou que a celeridade foi de “causar espanto”. “Não apenas a rapidez em concluir pela morte acidental, mas também a necessidade e a preocupação em convocar uma coletiva de imprensa para dar publicidade ao resultado, antes mesmo de dar conhecimento à família”, argumenta. Neste sentido, a nota aproveita para cobrar a mesma “efetividade e interesse” no caso de Moisés da Sercon, assassinado no dia 30 de agosto de 2018. Este deixou viúva Camila Fernandes, irmã de Wagner.
Determinação superior para agilizar investigação
Com Camila Fernandes (MDB) candidata a prefeita de Miracema do Tocantins, a família também a “midiatização” da morte de Wagner Fernandes feita com a convocação da coletiva. “Induzindo a uma politização do fato, o que não é e nunca foi do interesse da família”, diz. A nota ainda diz ser curioso tal celeridade em um momento em que o governador Mauro Carlesse (DEM) e aliados manifestaram apoio ao adversário da emedebista no pleito, o atual gestor, Saulo Milhomem (Progressistas). “Além do mais, em conversas com alguns policiais que acompanharam o caso, a família foi informada que havia uma determinação superior para que as investigações fossem concluídas ainda no decorrer desta semana, impreterivelmente, curiosamente, antes das eleições”, reforça.
Família não está convencida da conclusão da polícia
A família informa que decidiu acionar o Grupo Especial de Controle Externo da Atividade Policial (Cegep), do Ministério Público (MPE), para que acompanhe o caso, e relata que vai requerer acesso a todos os elementos probatórios colhidos nos autos do inquérito. “Havendo elementos suficientes, representará ao Ministério Público Estadual, por intermédio da Promotoria de Justiça de Miranorte, para que reabra a investigação, pois a família não está convencida da conclusão da polícia”, encerra.
De homicídio a acidente
Inicialmente, a Polícia Civil trabalhava com a hipótese de homicídio e na primeira chamada para a coletiva ainda sugeria esta opção. Mas uma errata da Secretaria de Segurança Pública (SSP) atualizou o caso como morte acidental. Conforme A Delegacia-Geral, oS elementos periciados não indicaram a presença de terceiros na residência de Wagner Fernandes, e arrombamento foi descartado. Ele ressaltou também que o servidor levou duas quedas, uma na sala e outra na cozinha, onde foi encontrado ainda com vida, próximo ao batente. O servidor faleceu na segunda-feira, 2, no Hospital Geral de Palmas.
Leia a íntegra da manifestação da família de Wagner Fernandes:
“NOTA À IMPRENSA
A família de WAGNER FERNANDES DE ARAÚJO, irmão da candidata a Prefeita de Miracema e viúva de Moisés Costa da Silva, Camila Fernandes, vem por meio da presente esclarecer a toda a sociedade tocantinense o seguinte:
- A família não foi informada oficialmente pela Polícia Civil sobre as conclusões da investigação, sobre os elementos de prova colhidos e as evidências apontadas pela Polícia para concluir pela ocorrência de morte acidental, tendo tomado conhecimento apenas por meio da imprensa, o que lamenta profundamente, pois entende que antes de convocar uma coletiva de imprensa, por uma questão de humanidade, a Polícia Civil deveria ter apresentado o conjunto probatório apurado à família, a maior interessada no esclarecimento da causa da morte de Wagner;
- A família não concorda com o resultado das investigações, haja vista que contraria todas as informações que foram passadas pelas equipes médicas que acompanharam Wagner Fernandes, desde o primeiro atendimento, até o atendimento ocorrido no HGP, onde os médicos informavam que as lesões existentes eram compatíveis com agressão, e não com queda acidental, sendo, inclusive, orientados a proceder ao registro do boletim de ocorrência.
- As informações dão conta de que Wagner tinha traumatismo craniano, com afundamento de crânio, além de hematomas, escoriações e um corte na orelha esquerda, os quais não indicariam se tratar de uma queda, mas de fortes agressões.
- Muito embora seja louvável a celeridade na investigação de crimes por parte da Polícia, fato é que neste caso específico é de causar espanto, não apenas a rapidez em concluir pela morte acidental, mas também a necessidade e a preocupação em convocar uma coletiva de imprensa para dar publicidade ao resultado, antes mesmo de dar conhecimento à família.
- A família gostaria muito que esta mesma celeridade, efetividade e interesse fossem aplicados à investigação da morte de Moisés Costa da Silva, com mais de dois anos e dois meses sem uma resposta.
- É preocupante essa midiatização, com convocação de coletiva de imprensa, para apresentação da conclusão do caso por parte da polícia, justamente num momento de disputa eleitoral, induzindo a uma politização do fato, o que não é e nunca foi do interesse da família, curiosamente pouco depois de o Governador do Estado, e outras autoridades estaduais manifestarem apoio à reeleição do atual gestor em Miracema, cuja militância e apoiadores políticos têm se utilizado do fato para fazer sensacionalismo político através das redes sociais, para atingir a candidata Camila Fernandes.
- Além do mais, em conversas com alguns policiais que acompanharam o caso, a família foi informada que havia uma determinação superior para que as investigações fossem concluídas ainda no decorrer desta semana, impreterivelmente, curiosamente, antes das eleições.
- A família esclarece que encaminhará representação ao GECEP – Grupo Especial de Controle Externo da Atividade Policial, do Ministério Público Estadual para que acompanhe o caso, bem como requererá acesso a todos os elementos probatórios colhidos nos autos do Inquérito Policial, bem como outros que a família possa levantar e, havendo elementos suficientes, representará ao Ministério Público Estadual, por intermédio da Promotoria de Justiça de Miranorte, para que reabra a investigação, pois a família não está convencida da conclusão da polícia.
Respeitosamente,
A família de Wagner Fernandes de Araújo”