O Ministério Público Estadual (MPE) recebeu na sexta-feira, 17, representantes dos povos indígenas Krahô, Apinajé e Karajá-Javaé para levantar as principais demandas. Os trabalhos foram conduzidos pelo Centro de Apoio Operacional às Promotorias da Infância, Juventude e Educação (Caopije) e pela Promotoria de Justiça da Educação. Todos os relatos recebidos durante o evento serão analisados e encaminhados para as promotorias competentes, para que busquem soluções para as questões.
FORNECIMENTO E QUALIDADE DA ÁGUA
Nas aldeias Krahôs as escolas também sofrem com a falta de água potável. A maioria utiliza a água do poço artesiano que existe na aldeia, que não consegue abastecer os moradores e as escolas. Na aldeia Boa Esperança, do povo indígena Javaé, o problema é a qualidade da água que, de acordo com o cacique Mikael Javaé, é imprópria para o consumo humano e está adoecendo as crianças. Segundo ele, um laudo técnico da Universidade Federal do Tocantins (UFT) comprova o excesso de ferro e manganês na água consumida pelos indígenas, o que pode causar problemas renais a quem consome.
ISOLAMENTO DAS ALDEIAS
Irregularidades na conservação das estradas e pontes, bem como a falta de acesso a transporte adequado, colocam muitas aldeias em situação de isolamento, afetando não apenas o transporte diário, mas também a entrega de serviços essenciais. A falta de uma balsa funcional na aldeia Rio Vermelho, a necessidade de reconstrução das bases e cabeceiras de algumas pontes também foram enfatizadas como prioridade imediata.
EDUCAÇÃO PRECÁRIA
Conforme o órgão, os povos indígenas relataram que as escolas locais enfrentam desafios significativos de infraestrutura, com algumas operando em condições precárias e sem acesso a recursos pedagógicos adequados. A carência de profissionais de educação e a falta de equipamentos e conectividade são barreiras adicionais que impedem a oferta de uma educação moderna e inclusiva. Também faltam profissionais principalmente nas áreas de serviços gerais, manutenção e vigilância que garantam a segurança e manutenção dos materiais, estrutura e equipamentos escolares.
REGULARIZAÇÃO DO TRANSPORTE E ALIMENTAÇÃO ESCOLAR
A necessidade de transporte escolar adequado e constante, de distribuição regular de alimentação escolar, kits didáticos e pedagógicos e de programas de capacitação para professores, bem como a discussão sobre uma educação que valorize a cultura indígena conforme especificidade cultural das diversas etnias também foram destacadas como essenciais para garantir a autonomia e o desenvolvimento sustentável das comunidades.
ESTADO SERÁ ACIONADO DE IMEDIATO
O promotor Benedicto Guedes destacou como um dos encaminhamentos pontuais que solicitará, de imediato, informações ao Estado sobre a situação do transporte escolar nas aldeias para subsidiar procedimentos que garantam a resolução dos problemas. Também foi informado que tramita na promotoria regional especializada em educação um procedimento administrativo que trata da qualidade da alimentação escolar nas escolas localizadas em aldeias indígenas. A secretária dos Povos Originários e Tradicionais do Tocantins, Narubia Werreria também participou da reunião e se comprometeu a levar as demandas ao conhecimento do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos).
AÇÕES JÁ REALIZADAS
A analista Laidylaura Pereira, do Caopije, apresentou dados sobre o trabalho que foi realizado na Comarca de Itacajá. Em fevereiro, a equipe do centro de apoio esteve em algumas aldeias para realizar inspeções na estrutura de atendimento social, da saúde e educação, constatando os problemas sofridos reiteradamente pela população indígena, apresentados durante a reunião. A juíza Luciana Costa Aglantzakis apresentou o projeto “Círculos Restaurativos para Prevenção de Conflitos Envolvendo Povos Indígenas”, que busca estimular o protagonismo dos povos originários e reduzir o endividamento nas comunidades por meio de educação financeira.