O engenheiro baiano Thadeu Pinto, com 35 anos de experiência na área de saneamento, está há três meses na presidência da BRK Ambiental do Tocantins. Ele chegou ao comando num momento delicado da empresa, quando a concessionária responsável pela água e esgotamento sanitário de 47 municípios tocantinenses é questionada por vereadores, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Associação Tocantinense de Municípios (ATM). No entanto, o novo presidente avalia que a BRK não vive um momento de crise. “A gente não considera isso uma crise, mas um movimento natural”, afirma ele em conversa com o CT na quarta-feira, 19, na primeira manifestação sobre a enxurrada de críticas dos últimos meses contra a companhia.
Dos 47 municípios atendidos pela empresa, 5 já estão com Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em andamento na Câmara. Em Palmas, os vereadores desistiram da CPI, mas extinguiram dois aditivos ao contrato da BRK com a prefeitura. “A gente está à disposição da câmaras de vereadores para poder prestar as informações que forem necessárias e contribuir com esse debate. Eu tenho certeza que, com isso, a gente vai eliminar todo e qualquer desconforto que haja com relação a esse tema”, minimizou.
Thadeu Pinto confirma que a empresa realizou as chamadas “obras complementares”, previstas pelos aditivos firmados na gestão de Carlos Amastha (PSB), em Palmas, mas disse que o valor não foi de R$ 57 milhões, como afirmam os vereadores da Capital, mas de R$ 40 milhões. Como os parlamentares defendiam, o presidente da BRK disse que o dinheiro foi gasto em obras sem qualquer relação com o saneamento — lama asfáltica para recapeamento de avenidas do centro da cidade, construção do Parque dos Povos Indígenas, meio-fio, entre outras.
O presidente da concessionária assegura que esses custos “não foram nem serão levadas para a tarifa” de água. Com a extinção dos aditivos pela Câmara, a BRK ainda deixou de repassar R$ 70 mil mensais para um fundo de cultura, também previstos no acordo firmado pela ex-concessionária, a Odebrecht Ambiental, com Amastha. No entanto, Thadeu Pinto desconversa quando questionado sobre a contabilização desses R$ 40 milhões pela empresa. Apesar de a companhia não ter a intenção de recuperá-los na tarifa, ele afirma que o dinheiro também não é doação ao município nem prejuízo para a BRK. “Nós entendemos como um compromisso contratual que foi estabelecido e que foi cumprido”, limita-se a dizer.
Mesmo afirmando que a extinção dos aditivos não representa nada de prático para o saneamento — já que previa basicamente as “obras complementares” e a remuneração do Comitê Gestor composto por secretários de Amastha, que recebiam, cada um, mais de R$ 2 mil por reunião que participassem —, o presidente revela que o decreto legislativo aprovado pela Câmara de Palmas está sendo questionado por uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) pela Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais. “O fato dela [Câmara de Palmas] desfazer um ato do Executivo, isso cria um vício de início que pode, se isso servir de incentivo nos 47 municípios para ações dessa natureza, trazer uma grande instabilidade regulatória”, defende.
[bs-quote quote=”Em momento algum ventilou-se a possibilidade, já no âmbito da BRK Ambiental, de se levar (para a tarifa) esse compromisso assumido de uma forma legal, ou seja, com transparência, através de termo aditivo, assinado pelas partes, pelo antigo controlador e pelo poder concedente” style=”style-1″ align=”right” author_name=”THADEU PINTO” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/06/Thadeu-Pinto-60.jpg”][/bs-quote]
Thadeu Pinto ainda diz que não tem nenhum problema de ser fiscalizado pela Agência de Regulação de Palmas (ARP), mas que não podem existir dois entes fiscalizatórios, já que essa tarefa é realizada também pela Agência Tocantinense de Regulação (ATR). “Nós não temos nenhum problema em ser fiscalizado ou prestar contas a quem quer que seja. Deixo isso aqui muito claro. O que a gente não pode perder de vista é que, numa prestação regionalizada de serviço, esse olhar sobre a tarifa unificada e a viabilidade global da prestação do serviço nos 47 municípios não pode ser apenas visto pela ótica deste ou daquele município. Então, o papel da Agência Tocantinense de Regulação é exatamente esse”, sustenta.
O presidente da BRK Ambiental ainda defende que a tarifa de esgoto — 80% da tarifa de água —, um dos pontos mais questionados pelas câmaras de vereadores, não é cara. Segundo ele, em alguns Estados, a cobrança é de 100% da tarifa de água.
Leia a seguir a íntegra da conversa do CT com o presidente da BRK Ambiental, Thadeu Pinto:
CT — A discussão toda envolvendo a BRK começou na Câmara de Palmas, quando os vereadores afirmaram que os dois aditivos feitos na gestão Carlos Amastha permitiram duas coisas: a realização de “obras complementares”, sem qualquer relação com o saneamento, e o pagamento de secretários municipais que participavam do tal comitê gestor, que indicava essas obras. Os vereadores afirmam que esses investimentos somaram R$ 57 milhões e que a empresa pretende colocá-los na tarifa. Esses aditivos realmente previam isso e vocês têm a intenção de colocar esses investimentos na tarifa?
Thadeu Pinto — Esses aditivos de Palmas que geraram essa obrigação de obras complementares, como você bem falou, é anterior à chegada da BRK aqui, em abril de 2017, mas constituíram obrigações, já que foram legalmente realizadas através de termos aditivos e tudo mais. Ou seja, constituíram obrigações da concessionária que nós temos que cumprir. Esse é um ponto.
Em Palmas, o total de valor de obras complementares somam R$ 40 milhões…
CT — Então, não os R$ 57 milhões?
Thadeu Pinto — Não, são R$ 40 milhões em obras complementares, que já foram realizadas e mais uma previsão de repasse para um fundo cultural do município. As obras complementares, elas já foram todas realizadas…
CT — Que foram o Parque dos Povos Indígenas, a lama asfáltica para recapeamento do centro, meio-fio, etc…
Thadeu Pinto — Isso… Já foram todas realizadas e agradeço a oportunidade de esclarecer que, mesmo sendo consideradas pela BRK como uma obrigação constituída contratualmente, essas obras complementares que não tem nenhuma relação com o saneamento, ou seja, com abastecimento de água e esgotamento sanitário, não foram nem serão levadas para a tarifa.
CT — Quanto é para esse fundo cultural?
Thadeu Pinto — Esse fundo cultural, que foi suspenso através do decreto da Câmara Municipal, enquanto não havia esse decreto suspendendo os efeitos desses dois aditivos, o repasse era da ordem de R$ 70 mil por mês, o que a empresa vinha fazendo regularmente. A partir da edição desse decreto nós, então, suspendemos o repasse até haja uma decisão contrária.
[bs-quote quote=”Já pensou se em cada uma das 47 cidades, as câmaras de vereadores começam a instituir leis e obrigações com relação ao nosso contrato? Qual a segurança jurídica que nós temos, então, para seguir realizando os investimentos necessários para que se dê um passo importante para a universalização do serviço?
” style=”default” align=”left” author_name=”THADEU PINTO” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/06/Thadeu-Pinto-60.jpg”][/bs-quote]
CT — Agora, a BRK é uma empresa, vive de lucro, e não há pecado nenhum em relação a isso. Vocês, então, estão absorvendo um custo de pelo menos R$ 40 milhões. Vocês fizeram isso com que intuito? Se não havia intenção de resgatar esse valor através da tarifa, foi filantropia da empresa?
Thadeu Pinto — Como nós chegamos aqui no Estado em abril de 2017, esses compromissos foram firmados anteriormente à nossa chegada…
CT —Mas quando vocês chegaram já tinham conhecimento desses compromissos?
Thadeu Pinto — Sim… Nós chegamos, tomamos conhecimento desse compromisso, mas em momento algum ventilou-se a possibilidade, já no âmbito da BRK Ambiental, de se levar [para a tarifa] esse compromisso assumido de uma forma legal, ou seja, com transparência, através de termo aditivo, assinado pelas partes, pelo antigo controlador e pelo poder concedente. Então, constituía-se uma obrigação legal e em momento nenhum houve de nossa parte a intenção ou o pensamento em levar esse gasto de obras complementares para a tarifa.
CT — Então foi uma doação da empresa ao município…
Thadeu Pinto — Não, não é uma doação. Nós entendemos como um compromisso contratual que foi estabelecido e que foi cumprido. E isso tem que estar registrado de uma forma muito transparente em nossa contabilidade. Está registrado, inclusive, em nossa contabilidade…
CT — De onde sai esse dinheiro então? De um fundo filantrópico de vocês…
Thadeu Pinto — Não, não é de um fundo filantrópico nosso. Ele hoje é considerado como nosso custo, um custo de outorga que foi assumido pelo acionista anterior e constituído numa obrigação contratual que estamos cumprindo…
CT — Então é um prejuízo que vocês estão tendo…
Thadeu Pinto — Não é… não é… acho que não se trata de considerar isso como um prejuízo, como doação, apenas como uma obrigação contratual que nós temos que levar em consideração.
CT — Está certo… Então, não há nenhuma possibilidade de isso entrar na tarifa em momento algum? De vocês terem pedido…
Thadeu Pinto — Nenhuma obra complementar que não tenha nenhuma relação com o nosso imobilizado operacional e abastecimento de água e esgotamento sanitário, não foi e não será levada para a tarifa.
CT — O senhor me disse que é um homem que tem 35 anos de experiência na área de saneamento, inclusive na gestão dessa área. O senhor avalia que esses dois aditivos foram um bom negócio para a empresa?
Thadeu Pinto — Não se trata de ser ou não um bom negócio… Do ponto de vista da BRK Ambiental foram compromissos firmados anteriormente à nossa assunção na concessão e que nós estamos cumprindo por ser uma obrigação legalmente constituída…
[bs-quote quote=”O modelo de prestação regionalizada pressupõe uma tarifa única aplicada nos locais onde você presta o serviços. Essa planilha de custo, portanto, vê o conjunto dos municípios e não apenas este ou aquele município
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CT — E como a empresa viu essa decisão da Câmara de aprovar o decreto legislativo suspendendo os dois aditivos ao contrato?
Thadeu Pinto — Não nos cabe de maneira nenhuma estar fazendo juízo de valor com relação aos atos da Câmara de Vereadores. A nossa posição, como empresa, é que cumprimos o que está estabelecido, mas através da Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais, existe uma Adin [Ação Direta de Inconstitucionalidade] protocolada no TJ com relação a esse tema, porque a gente precisa ter uma segurança regulatória muito grande. Até porque existe a necessidade de se investir para poder avançar mais e mais com saneamento em todas as cidades em que a gente atua no Estado do Tocantins, onde são 47 municípios, e, sem essa segurança, põe em risco a realização desses investimentos. Já pensou se em cada uma das 47 cidades, as câmaras de vereadores começam a instituir leis e obrigações com relação ao nosso contrato? Qual a segurança jurídica que nós temos, então, para seguir realizando os investimentos necessários para que se dê um passo importante para a universalização do serviço?
CT — Além das obras complementares e dos jetons que eram pagos ao comitê gestor, o que mais de importante previam esses dois aditivos extintos pela Câmara?
Thadeu Pinto — Do ponto de vista prático, esse decreto sobre os dois aditivos de Palmas, como as obras já tinham sido realizadas, sobre o passado não tem nenhum efeito. Sobre o repasse para o fundo cultural, aí sim, nós tivemos que suspender esse repasse por conta do que estabelece o decreto. Comunicamos, inclusive, a prefeitura sobre essa decisão.
CT — Mas do ponto de vista do saneamento, o que se perdeu com a extinção desses dois decretos?
Thadeu Pinto — Nada. Absolutamente nada. Porque essas obras complementares não impedem o que se propõe a BRK Ambiental, que tem um propósito muito firme de transformar a vida das pessoas, assegurando água e saneamento de qualidade. E, para isso, há a necessidade de se realizar os investimentos, e Palmas é bastante privilegiada nesse aspecto, e tem uma posição muito boa em relação a todas as capitais do Norte e Nordeste, por já estar praticamente universalizada — 90% de sua população hoje já tem acesso a esgotamento sanitário e 100% a abastecimento de água. Isso só foi possível pela realização dos investimentos. Essas obras complementares não trazem nenhuma influência nos investimentos previstos e que ainda precisam ser realizados para a melhoria do serviço.
CT— Então, por que a associação das empresas entrou com a Adin no TJ?
Thadeu Pinto — Foi nessa linha realmente de questionar provavelmente um vício de lei, pelo qual a Câmara Municipal, que tem, claro, o poder e o dever de fiscalizar o Executivo, desfez um ato do Executivo. Isso cria um vício de início que pode, se servir de incentivo nos 47 municípios para ações dessa natureza, trazer uma grande instabilidade regulatória.
CT — Então, a ação é mais para não criar um precedente?
Thadeu Pinto — A Associação das Empresas de Saneamento Estaduais, que envolve 25 ou 26 companhias…
CT — De todo o Brasil…
Thadeu Pinto — Sim, de todo o Brasil… Ela defende os interesses das companhias e quando vê uma ação nesse sentido, que vai de encontro à prestação regionalizada do serviço, que é o modelo adotado para poder evoluir no saneamento, para fazer com que a universalização chegue a todos os municípios, onde as empresas dessa associação atuam. A associação vê um risco muito grande dessa insegurança jurídica, a ponto de comprometer realmente a prestação regionalizada do serviço, que é importante, porque não beneficia somente os municípios pequenos, mas todos os que estão associados àquela prestação regionalizada.
CT — Agora, um questionamento que a Câmara de Palmas faz é que esses aditivos precisavam de autorização legislativa, e que isso não ocorreu. A empresa não vê assim? Avalia que não precisaria de autorização legislativa?
Thadeu Pinto — O que eu reporto é que a BRK, quando chegou ao Estado, em abril de 2017, encontrou essa obrigação constituída, assinada através de termo aditivo, com o poder concedente, e está cumprindo essa obrigação que foi formalizada.
CT — Há uma reclamação tanto da ARP [Agência de Regulação de Palmas], quanto da Câmara de Palmas, de prefeitos e também agora uma nota da Associação Tocantinense de Municípios, que fala até que não descarta a possibilidade de recomendar às prefeituras não que renovem contrato com a BRK, dizendo que a empresa não conversa com as autoridades. ARP e Câmara de Palmas se dizem ignoradas e os prefeitos afirmam que a BRK conversa muito pouco com as prefeituras. O que está ocorrendo em termos de diálogo com a sociedade?
Thadeu Pinto — Do nosso ponto de vista, todas as vezes que fomos convocados a participar de audiência pública, nós nos fizemos presentes, prestamos os esclarecimentos e, se houver necessidade de outros, nós estaremos presentes prestando os esclarecimentos exatamente com o espírito de contribuir para dirimir qualquer dúvida com relação à nossa atuação e principalmente na prestação de serviços nos 47 municípios em que a gente atua. Então, de nossa parte, estamos à disposição para contribuir com o debate.
CT — A Câmara fala que não consegue a planilha de custos, a ARP diz a mesma coisa, os vereadores e o prefeito de Colinas também dizem que tiveram que pedir a planilha e não conseguem; e até chegaram a falar de ingressar com um habeas data. Está havendo alguma dificuldade de fornecer essa planilha dos custos da empresa?
Thadeu Pinto — Olha, o modelo de prestação regionalizada pressupõe uma tarifa única aplicada nos locais onde você presta o serviços. Essa planilha de custo, portanto, vê o conjunto dos municípios e não apenas este ou aquele município, com todas as informações referentes a custos, receita, despesas, além da nossa obrigação de publicar anualmente, porque somos uma sociedade anônima e cumprimos com essa exigência legal. Em todo o ciclo regulatório, que acontece de quatro em quatro anos, junto à Agência Tocantinense de Regulação, que foi o modelo adotado pelo Estado até então para a regulação no Tocantins, para a prestação regionalizada dos serviços, a gente fornece todas as informações para a agência de uma maneira muito clara, muito transparente.
Então, não existe de nossa parte nenhuma resistência de fornecer a planilha. Só que, para o modelo de prestação regionalizada, não existe uma planilha de custos, para efeito de definições tarifárias, não é essa abordagem em separado do município de Palmas, ou de Araguaína, ou de Tocantinópolis, ou de Colinas… É no conjunto dos municípios. Isso é que possibilita a gente ter avançado muito com o saneamento aqui no Estado, principalmente Palmas, que já se beneficiou muito disso, pelo mecanismo de subsídio cruzado, que possibilita que você, dentro dessa conta de viabilidade global, avance com saneamento de uma forma regionalizada, através de uma agência fazendo a regulação.
[bs-quote quote=”A fiscalização é muito bem-vinda porque nos ajuda a melhorar os nossos serviços. Não tem problema nenhuma se essa regra for estabelecida entre as agências. O problema regulatório reside no fato de que neste modelo de prestação regionalizada de serviço, eu não posso ter dois entes regulando tarifa. Tem que ter apenas um” style=”default” align=”right” author_name=”THADEU PINTO” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/06/Thadeu-Pinto-60.jpg”][/bs-quote]
CT — Mas vocês trabalham com uma concessão pública, ou seja, é um serviço público, por mais que não tenha um número localizado, não era melhor deixar isso de forma permanente à disposição dos municípios?
Thadeu Pinto — Mas, como eu falei, esse modelo de prestação regionalizada pressupõe, para dar segurança jurídica a quem quer que seja, no caso, nós, tranquilidade para realizar os investimentos. Mas não é por isso. Essas informações, inclusive a própria Agência Reguladora de Palmas, quando se utiliza do Serviço Nacional de Informações de Saneamento [Snis], de informações sobre Palmas, é porque nós postamos essas informações lá. Então, não existe de maneira nenhuma de nossa parte a intenção de esconder qualquer informação.
Você precisa saber quais são as informações. Porque as informações para tarifa são essas que vão dentro do ciclo regulatório que são encaminhadas para a Agência Tocantinense de Regulação e as informações a respeito de custos e despesas de cada município estão nesse sistema, que é nacional e que estão lá claramente definidas. Então, não existe essa história de não querer dar a informação. Ao contrário. A própria agência [ARP] se utiliza dessas informações disponibilizadas por esse Sistema Nacional de Informação de Saneamento, que são alimentadas por cada concessionária. Então, quando ela chega na mídia e traz aquelas informações, que diz que a tarifa é tanto e custa tanto, ela tirou essas informações desse sistema. Portanto, há toda transparência nossa nesse aspecto.
Só que ela não pode fazer uma análise simplista com relação a essas informações, que foram apenas de um ano, de 2017. Ou seja, existem outras variáveis envolvidas no processo e não são só de um ano. O nosso ciclo regulatório é de quatro anos, já vendo os próximos quatro, que precisam ser levados em consideração para o estabelecimento da tarifa.
CT — Mas a ARP diz que teve que recorrer a esse sistema por falta de informação da BRK. Não era mais interessante a BRK abastecer a ARP de informações para evitar distorção?
Thadeu Pinto — Não é informação distorcida, é informação que está no sistema…
CT — Mas, como disse o senhor, a análise que a ARP fez acabou, segundo o senhor, dando uma informação distorcida. Diz que há margem para redução da tarifa de esgoto e vocês dizem que não…
Thadeu Pinto — Não é que dizemos que não. O que digo é que não dá para se chegar a essa conclusão com base nessa análise simplista que foi apresentada pela Agência Reguladora de Palmas, recém-criada. Mas estamos à disposição para, em qualquer fórum, contribuir com essa discussão e apresentando todas as informações…
CT – Mas, para insistir, a ARP tem dito que recorrem a esse sistema porque a BRK não passa informação, não contribui para fazer esses estudos…
Thadeu Pinto — Essas informações que interessam ao ciclo tarifário para a definição da tarifa única regionalizada, que pressupõe a manutenção do mecanismo do subsídio cruzado para possibilitar a prestação do serviço de uma forma igual em todos os 47 municípios, são feitas através da Agência Tocantinense de Regulação. Todas essas informações e todo o nosso ciclo tarifário, a gente encaminha de uma forma muito clara para a Agência Tocantinense de Regulação, que faz uma análise global e não deste ou daquele município.
Nós não temos nenhum problema em ser fiscalizado ou prestar contas a quem quer que seja. Deixo isso aqui muito claro. O que a gente não pode perder de vista é que, numa prestação regionalizada de serviço, esse olhar sobre a tarifa unificada e a viabilidade global da prestação do serviço nos 47 municípios não pode se dar apenas pela ótica deste ou daquele município. Então, o papel da Agência Tocantinense de Regulação é exatamente esse. Nós não estabelecemos tarifa. Nós submetemos as informações de custo, despesa, necessidade de investimento, de receita, de remuneração, e aí essa conta é feita sob uma ótica do conjunto dos municípios e não apenas deste ou daquele. E é estabelecido, então, a tarifa única regionalizada. Essa é uma prática que não é do Tocantins, mas de praticamente todos os Estados brasileiros.
CT — O Tribunal de Justiça reconheceu a autonomia da ARP para fiscalizar a BRK. Como vocês receberam essa decisão e como pretendem se relacionar a partir de agora com a ARP?
Thadeu Pinto — Nós não temos nenhum problema de nos relacionar com a ARP. Nós precisamos ter segurança jurídica, regulatória, no sentido de poder realizar os investimentos que são necessários para universalizar os serviços de água, que já estão universalizados, e esgotamento sanitário nos 47 municípios onde a gente atua. Com relação à regulação, repito, é importante nesse modelo que foi escolhido pelo Estado, e que não é um modelo só do Tocantins, mas de praticamente todos os Estados brasileiros, da prestação regionalizada de serviços, você ter um ente regulando sobre tarifa. Não significa que a ARP não possa, se houver uma negociação com agência estadual para ela nos fiscalizar. Não tem problema nenhum. Aliás, a fiscalização é muito bem-vinda porque nos ajuda a melhorar os nossos serviços. Não tem problema nenhum se essa regra for estabelecida entre as agências. O problema regulatório reside no fato de que neste modelo de prestação regionalizada de serviço, eu não posso ter dois entes regulando tarifa. Tem que ter apenas um. Por quê? Porque é o modelo de viabilidade global nos 47 municípios e não neste ou naquele.
CT — E como fica agora com essa decisão da Justiça?
Thadeu Pinto — A gente está respeitando a decisão da Justiça. Existe também uma ação no sentido de pedir a revisão, mas, enquanto não houver, vamos nos ater a ela.
CT — São cinco municípios que estão com CPI aberta para investigar o contrato da BRK. A OAB diz que vai entrar com uma ação contra vocês por má prestação de serviços, a própria ATM, como eu disse, acusa vocês também de má prestação de serviços, questiona tarifa, o não cumprimento de plano de investimentos. O que está acontecendo e como vocês estão vendo essas CPIs?
Thadeu Pinto — Nós entendemos que essas CPIs são um movimento natural de câmara de vereador. Nós estamos à disposição de ir a qualquer audiência em que sejamos convocados nesse sentido para prestar todos os esclarecimentos para contribuir com o entendimento. São inegáveis os avanços ocorridos não só em Palmas, mas em todos os municípios do Estado, principalmente no que se refere ao abastecimento de água, que está universalizado. Não há reclamação de falta de água, a não ser que seja um problema operacional, por falta de energia ou pane em equipamento. Mas a gente não tem registro de reclamação de falta de água. Com relação ao esgotamento sanitário, já avançamos muito em alguns municípios, precisamos caminhar em todos os municípios…
CT — Há uma reclamação muito grande sobre a tarifa de esgoto de 80%. Tocantinópolis conseguiu na Justiça reduzir para 50%, mas está ainda em discussão no TJ… Essa tarifa de 80% não está muito elevada? Toda Câmara questiona isso…
Thadeu Pinto — A não ser em Tocantinópolis, que conseguiu uma decisão ainda em primeira instância, todos os outros municípios onde a gente atua, a tarifa de esgoto é calculada em 80% sobre a tarifa de água. Em vários outros Estados do País, essa tarifa é de 100%. Todo o nosso esgoto coletado, ele é tratado. Não, a nossa tarifa não é cara. É preciso analisar a qualidade da prestação do serviço. Veja Palmas, por exemplo. No ranking das capitais do Norte e Nordeste é a uma das que atingiram índices de saneamento expressivos. Se considerar de 2013 para agora, saímos de 50% de coleta para 90%. Isso só foi possível com os investimentos realizados. Aí que pressupõe esse modelo de tarifa regionalizada, com órgão regulador.
CT — Por que dessa crise da BRK? Por que tanto movimento na sociedade contra a empresa? Se está tudo bem, se o serviço tem qualidade, a tarifa não é tão cara, o que está acontecendo então? Qual a explicação?
Thadeu Pinto — A gente não considera isso uma crise, mas um movimento natural. De 47 municípios, 5 estão com essa iniciativa [de CPI]. E a gente está à disposição da câmaras de vereadores para poder prestar as informações que forem necessárias e contribuir com esse debate. Eu tenho certeza que, com isso, a gente vai eliminar todo e qualquer desconforto que haja com relação a esse tema.