Todo início de ano o ser humano, na maioria das vezes, é tomado por um sentimento de otimismo. Uma das principais características do ser humano é possuir otimismo. Um sentimento que o acompanha desde muito cedo e por toda a vida. Basicamente, ser otimista é acreditar, de forma subjetiva, que algo pode dar certo. Ao acreditar, o indivíduo termina por canalizar forças para isso e, se o que ele almejou realmente der certo, ele acreditará que seu otimismo o ajudou.
[bs-quote quote=”O indivíduo ao ser otimista e projetar um futuro, não deveria jamais se distanciar das suas experiências passadas” style=”default” align=”right” author_name=”RAYLINN BARROS DA SILVA” author_job=”É doutorando e mestre em História” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2020/01/rallyn_barros_180.jpg”][/bs-quote]
Mas para que algo possa dar certo, o otimismo é a maior de todas as condições? Ou apenas uma das condições? Podemos, por outro lado, não sermos necessariamente otimistas? O campo das ciências humanas que lida com essas problemáticas com mais profundidade é a psicologia, mais especificamente, a chamada psicologia positiva. Para essa área de estudo, o otimismo está “associado a uma visão positiva da vida, especialmente diante de adversidades”. Ou seja, o otimismo representa uma saída diante dos problemas do dia a dia dos indivíduos.
De forma sintetizada, o otimismo se divide em aprendido ou disposicional. O otimismo aprendido foi teorizado por pesquisadores como Martin Seligman. Para ele, aprendemos a ser otimistas, simplesmente pelo fato de que nos sentimos desamparados após vivenciarmos experiências que não nos agradam, aprendemos inconscientemente a rejeitar e evitar estímulos ruins em nossas vidas, nosso otimismo seria então, aprendido, como respostas às adversidades da vida.
Já o otimismo disposicional, segundo Michael Scheier, tem relação com as expectativas que os indivíduos projetam sobre o que pode acontecer no futuro, próximo ou não. Para ele, otimistas disposicionais são os indivíduos que sempre esperam que algo de bom aconteça em suas vidas ou na vida dos outros. Essas expectativas de resultados podem envolver percepções em relação a sermos capazes de avançar em direção a objetivos desejáveis e se afastar dos não desejáveis. A ideia de disposição, parte do princípio de que, ao projetar que algo bom aconteça, o indivíduo tem a capacidade de se aproximar ou se afastar do que acredita que pode interferir no que projeta.
Em minha opinião particular, acredito que o otimismo está relacionado à outra questão, que também é de natureza psicológica: autoestima do indivíduo. Ou seja, se o indivíduo se encontra com baixa autoestima, ele naquele momento não estará otimista, do contrário, se estiver com autoestima, terá mais condições de desenvolver certo otimismo sobre si mesmo e o mundo a sua volta.
Por outro lado, acredito que o principal problema que pode residir em pessoas otimistas está no fato de que, no excesso de otimismo, o indivíduo distancia-se da realidade que está a sua volta. É esse distanciamento da realidade que desfigura as ações do indivíduo, ele pode agir, orientado pelo seu otimismo, no sentido de tomar decisões precipitadas ou equivocadas. O otimismo, nesse sentido, seria um deturpador da realidade a qual o indivíduo está inserido, comprometendo-o, em última instância, a alcançar o que projetou para o seu presente ou futuro.
No campo da história, já considerado um estudo clássico, é a noção de espaço de experiência e horizonte de expectativa, proposto por Reinhart Koselleck. As reflexões desse estudioso dos conceitos residem no fato de que o homem de forma individual e a humanidade no seu aspecto coletivo devem agir, em última instância, a partir das tensões que surgem do que já se tem como experiência passada e o que se projeta num horizonte de futuro. Essa reflexão serve para essa breve discussão sobre o otimismo porque se entende que o indivíduo ao ser otimista e projetar um futuro, não deveria jamais se distanciar das suas experiências passadas.
O otimismo, a partir desse ponto de vista, reside no espaço das expectativas do indivíduo (futuro), ao passo que as suas experiências (passado), está no campo da realidade em que ele viveu. O caminho, portanto, está no fato de que jamais deveríamos nos distanciar de nossas experiências, daquilo que já aprendemos ou deveríamos ter aprendido com o nosso passado ou, em última instância, a realidade que está em nossa volta.
Finalmente, o otimismo é bom e interessante. Ele até nos ajuda, no sentido de canalizarmos forças para enfrentar o que ainda está por vir, mas jamais ele deve ser colocado como único ou principal caminho em nossas vidas, afinal de contas, acredita-se que, no mundo real, a primazia deve ser da realidade, das nossas experiências em primeiro lugar para, depois, atribuirmos importância ao que está por vir, nossas expectativas, o futuro possível, mas não certo.
RAYLINN BARROS DA SILVA
É doutorando e mestre em História pela Universidade Federal de Goiás
raylinn_barros@hotmail.com