O riso parece muito mais próximo aos jovens e aos “loucos” do que às pessoas adultas. Seriedade é uma característica da maturidade, em oposição à conduta intuitiva, irracional e alegre das crianças, dos jovens e dos “dementes”.
Será? O que perturba o pensamento adulto convencional quanto ao riso? Em especial dos “loucos” e da juventude?
Era uma vez… (e são tantas as vezes por aí) uma menina, a Silvia (caloura do Curso de Filosofia) uma jovem a experimentar o sabor agridoce da independência em Palmas.
De sua kitnet, o mundo era pura alegria. A sorrir, entre quimeras e novas experiências, Silvia arquitetava seus sonhos, seus desejos e suas expectativas. A vida na Capital era um turbilhão de novidades.
Tudo tão diferente da vida subjugada pela normatização, pelo azedume e pela infelicidade adulta dentro da casa, na escola e nas ruas da distante, pacata e provinciana Augustinópolis.
Observava da sua janela as nuvens, o céu e o crepúsculo dourado quando foi surpreendida por uma risada gostosa, franca e angelical. Ficou curiosa ao observar a dança solitária e descompassada daquele tipo insólito na calçada, bem debaixo da sua varanda.
Algo comum, entre Silvia e o andarilho, era o riso, apesar da notória diferença de idade.
“É loucura jogar fora todas as chances de ser feliz porque uma tentativa não deu certo”. A frase de Saint-Exupéry, na obra “O Pequeno Príncipe”, aproximava Silvia do “louco da esquina” e – nesse bizarro encontro – hilárias e espontâneas gargalhadas completavam a sinfonia dos alegres pássaros a procurarem abrigo para a noite que se aproximava.
“…Ri-te da noite / do dia / da lua / ri-te das ruas / curvas da ilha / ri-te deste rapaz desajeitado que te ama / mas quando abro os olhos e os fecho / quando os meus passos se forem / quando meus passos voltarem / nega-me o pão / o ar / a luz / a primavera, mas o teu riso nunca / porque sem ele morreria”
Neruda, Neruda! – Suspirou Silvia. Que feliz convergência e que enormes hiatos existem entre risos e sonhos. Só a maturidade a dar sentido às nuances de vidas tão incomuns, unidas naquele esplendoroso entardecer.
O louco (na sua alegria) a dançar o amor, enquanto Silvia a buscar (na filosofia) as razões de uma vida futura de menos sorrisos.
EDSON CABRAL
É administrador e membro da Academia Palmense de Letras.
ecabral.to@gmail.com
A crônica em vídeo: