Ao singrar os mares da vida, em trajetórias retilíneas e inabaláveis, Vilobaldo, com seu olhar profundo e sábio, comportava-se com faróis da verdade.
Sempre certo, seguro e com resposta pronta para avaliar, julgar, condenar e, ao seu modo único de pensar, colocar as coisas nos “devidos eixos”. Com visão aguçada e predicados absorvidos nas experiências da vida, Vilobaldo era capaz de ver o que muitos de nós não vemos; identificador fugaz da corrupção de ações e de pensamentos com a naturalidade que os pulmões trocam e absorvem oxigênio. Era célere, inequívoco, inexorável.
Pobre Vilbaldo, da lembrança juvenil do apito singular das antigas embarcações que cortavam o Araguaia até os turbulentos dias da modernidade midiática, universal e incompreensível, tinha seus silêncios obscuros e estes sempre lhe geraram desconforto para reconhecer seus erros. Na vida, escolheu a facilidade de enaltecer as limitações dos outros, a ter coragem para encarar suas próprias verdades, seus conflitos. Assim, seguiu na infantilidade, na imaturidade e na incompletude.
Do ponto de vista “social”, Vilobaldo, de tanto ver um político discorrendo sobre boa gestão e combate à corrupção, sempre cedeu ao impulso de acreditar na narrativa forte, porém vazia, de caudilhos e justiceiros, personificando valores para ele e outros tantos vilobaldos, marias, pedros, brunos que passam a tratá-los como eles querem ser tratados. Tornam-se cavalheiros de causas fúteis, um exército de seguidores em frágeis naus a enfrentarem banzeiros reais e apocalípticos.
O que Vilobaldo não vê é que tal qual um rei, que pode ser deposto por súditos e servos a qualquer momento, esses que navegam as naus da correção podem ser destituídos de suas embarcações sumariamente, inclusive sem julgamento e sem medo de erro.
O passar das primaveras desconstrói a infalibilidade e afundam os luzeiros da perfeição.
É Vilobaldo uma pessoa hábil, sensível e sábia, portador do brandão da justeza ou apenas disseminador de discursos inflamados pelo archote da graciosidade?
Na pira de encanto nunca reconhecemos nossas falhas, nunca abrimos mão do papel de primazia nos julgamentos e, erroneamente, nunca submeteremos a forças maiores, como o bom senso.
Uma avaliação equilibrada, parcimoniosa e justa, abre caminho para o passo seguinte, no qual pode-se optar entre abandonar a nau, conviver com ela, reconhecendo seu limitado valor e toxicidade ou seguir aderindo à fantasia, comprando de novo e (de novo) passagens para uma viagem que, na verdade, nunca nem sai do porto. Há luz no fim das trevas. Vilobaldos, observem os faróis da sensatez.
EDSON CABRAL
É administrador e membro da Academia Palmense de Letras.
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