Toda vez que novos governos estão iniciando, os holofotes, novamente, se viram para a educação. Quando se fala em mudanças, o jargão “ Não existe mudança efetiva sem investimento na educação” volta com força. E os questionamentos, as críticas e a busca por melhores soluções reiniciam, mesmo que por muitas vezes equivocadas.
Contextualizar o processo educacional na história recente e no momento em que estamos vivendo é fundamental para que novos rumos sejam dados e a educação possa realmente ser a mola propulsora do desenvolvimento socioeconômico do país e, principalmente, do sucesso e da felicidade das pessoas.
[bs-quote quote=”Que educação precisamos ter, para preparar as crianças, os jovens e as pessoas para esse mundo que não sabemos nem ao certo como vai ser?” style=”default” align=”right” author_name=”NILMAR RUIZ” author_job=”É escritora e palestrante” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/12/NilmarRuiz60.jpg”][/bs-quote]
Desde a Era Industrial, o foco era preparar e recrutar pessoas para o trabalho mecânico. O crescimento dos mercados consumidores e do país exigia que se fizesse o máximo de coisas no menor tempo possível. As máquinas passavam cada vez mais a compartimentar o trabalho e era necessário formação especializada de mão de obra. O ensino, e não podemos confundir ensino com educação, era, e em muitos casos ainda é, focado na memorização, no treinamento, na automatização e na robotização. A educação não era praticada no sentido amplo, de desenvolver pessoas para tudo o que elas poderiam ser, desenvolvendo as potencialidades de cada uma para uma vida plena e feliz. Era somente ensino com caráter laboral e profissional.
Com quatorze anos vivi a reforma para o ensino profissionalizante. O Programa de Preparação de Mão de Obra, fez com que eu, aos dezesseis anos, já estivesse no mercado de trabalho com os cursos de desenho técnico, de arquitetura, de instalações elétricas, de instalações hidráulicas e de publicidade. Bom ou mal? Bom ou mal, certo ou errado, é temporal e subjetivo.
Porém, se iniciava o momento de transição, e já se discutia a diferença entre ensinar e educar. Alguns educadores já defendiam que era necessário avançar. Que o ensino, produzia pessoas para repetir, para memorizar e para apertar parafusos, tão bem representado por Chaplin em “ Tempos Modernos”. Mas que a Educação precisava ir além, valorizar o que tem dentro de cada um, ser um processo de crescimento e de desenvolvimento individual, conduzir para o conhecimento, para a conscientização, para a criatividade, para a intuição, para o sucesso pessoal e coletivo.
Tive oportunidade como professora, há mais de trinta anos atrás, de verificar na prática, que o amor, que o afeto, que o desenvolvimento de habilidades sensoriais, emocionais e cognitivas, produzem efeitos surpreendentes no desempenho e na vida do aluno.
Agora, na Era do Conhecimento, o mundo vem mudando muito e numa rapidez impressionante. As informações que recebemos em um dia, levaríamos, há pouco tempo atrás, anos para obter. Estamos passando por um período, em que os avanços tecnológicos são imensuráveis e acontecem numa velocidade inatingível. O futuro das profissões e do mercado de trabalho é totalmente imprevisível. Porém, de uma coisa se tem certeza: o sistema de trabalho, a atividade mecânica e a forma de se aprender e de se ensinar da Era Industrial, estão definitivamente ultrapassadas.
Que educação precisamos ter, para preparar as crianças, os jovens e as pessoas para esse mundo que não sabemos nem ao certo como vai ser?
Estamos nos adaptando a uma situação histórica, que a maneira de pensar precisa ser diferente. Na era da informação, quanto mais se compartilha, mais se cresce, diferente da Industrial, em que a competição era foco. Os pensamentos anti-dialéticos, criativos, produtivos, imaginários e intuitivos são os que solucionam as questões atuais. O homem tem que aprender a criar, a inventar, a descobrir, a gerir os pensamentos e as emoções, e é nesse sentido que a educação tem que caminhar.
A especialização para o trabalho vem dando lugar a intelectualização, a desestruturação do tempo e do espaço, já que com a internet se pode, simultaneamente, fazer uma mesma coisa em tempos e lugares diferentes. A globalização incentiva a busca por melhor qualidade de vida.
E, assim, o principal papel da educação é motivar e dar liberdade para os alunos pensarem. Pensar não é repetir ou reproduzir, é sentir e intuir. É duvidar e criticar em benefício do bem comum. É aprender o que é ser honrado e responsável. É aprender a administrar os pensamentos e as emoções.
Impossível? Em 1996 fui conhecer a Escola do Futuro, no Canadá, que há mais de vinte anos, já trilhava esse caminho. Há várias iniciativas no Brasil e no mundo que tentam responder as exigências dessa era. Hoje estão surgindo em várias partes do mundo os Think Thanks, núcleos que congregam pessoas para pensar e discutir idéias, buscando uma sociedade mais saudável do ponto de vista social e econômico e em que se possa viver cada melhor.
A escola, física ou não, precisa se transformar numa grande central de idéias, em que se promova o domínio de vários conhecimentos, a polivalência e a predisposição as mudanças, a atualização contínua e, principalmente, a desenvolver o autoconhecimento e a evolução íntima na direção do bem comum.
Pode ser esse um caminho rumo a um Brasil melhor!
NILMAR GAVINO RUIZ
É professora, ex-secretária da educação, ex-prefeita de Palmas e ex-deputada federal. É co-autora da ARH – Auto Reprogramação Humana – e palestrante.
nilruiz@uol.com.br
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