Em tempo de pandemia, a classificação “essencial” ganha contornos atípicos, em especial referente às profissões. Vozes ecoam a priorizar o “essencial”.
A vacina deve ser prioritária para os servidores e trabalhadores “essenciais”! O comércio deve ser fechado, exceto o “essencial”! Enfim, o que é essencial? E para quem?
Sendo a Literatura a arte da palavra, é correto afirmar ser ela um instrumento de comunicação e de interação social? Portanto, essencial no papel de transmitir os conhecimentos e a cultura de uma sociedade?
Crônicas e outros textos literários são resultados das relações dinâmicas entre escritor, público e sociedade. Nossas obras estimulam sentimentos e ideias do mundo, levando o leitor à reflexão e, até mesmo, à mudança de posição perante a realidade.
Podemos afirmar que o texto literário conduz o leitor a mundos imaginários, causando prazer aos sentidos e à sensibilidade do homem. Há, portanto, algo mais imprescindível, nos dias de hoje, do que a capacidade de estimular o prazer, a imaginação e a reflexão crítica? Historicamente, pandemias foram indutoras de profundas transformações na humanidade, mas sua principal aliada era a literatura, seja oral ou escrita.
É, nessa lógica, justo requerer prioridade e a classificação essencial para os escritores. Por curiosidade e prazer intelectual, seguem considerações de grandes escritores a respeito do porquê escrever.
Allen Ginsberg:
“(…) Eu escrevo poesia porque gosto de cantar quando estou só(…) Eu escrevo poesia porque não há razão, não há porquê. Eu escrevo poesia porque é a melhor forma de dizer tudo que me vem à cabeça”.
Fernando Pessoa:
“Eu escrevo para salvar a alma.”
Fernando Sabino:
“Tenho a impressão de que se eu soubesse responder a essa pergunta deixaria de ser escritor. Não haveria condição. Não saberia dizer, não. Está além da minha compreensão. Esta pergunta é tão grave como se perguntassem: ‘Por que vive? Por que ama? Por que morre? ’.
Gabriel García Márquez:
“Escrevo para que meus amigos me amem mais.”
João Cabral de Melo Neto:
“Eu tenho a impressão de que a gente escreve por dois motivos. Ou por excesso de ser ou por falta de ser. Eu sinto que me falta alguma coisa. Então, escrever é uma maneira que eu tenho de me completar. Sou como aquele sujeito que não tem perna e usa uma perna de pau, uma muleta. A poesia preenche um vazio existencial.”
William Faulkner:
“Escrevo para ganhar a vida.”
E você? Escreve, por quê?
EDSON CABRAL
É administrador e membro da Academia Palmense de Letras.
ecabral.to@gmail.com