Li e ouvi a notícia que o Vaticano autorizou o prosseguimento do processo que visa a beatificação do Padre Luso de Matos Barros, para torná-lo Santo de acordo com o contexto e os códigos da Igreja Católica. Nosso querido e inesquecível Padre Luso, íntimo da nossa fé e do respeito espiritual que inspirava e sobre quem trago, aqui, dentro do possível, um pouco da história daquele homem dedicado, literalmente , ao evangelho do Mestre dos mestres e que ficou marcada na minha memória de “coroinha “ (aquele que auxilia o sacerdote nos atos oficiais) e das celebrações da igreja e, especialmente, como filho que sou da Dona Estrela como ele se dirigia à minha mãe Stela, quando em nossa casa, onde, impreterivelmente fazia uma das primeiras, se não a primeira, quando das estadas em nossa terra. Padre Luso nasceu em 16/12/1906, em Balsas, Maranhão. Foi ordenado sacerdote na diocese de Porto Nacional em 1945 e faleceu em 03/08/1987.
“Padre luso chegou, padre luso chegou!” Era o anúncio geral quando chegava em nossa Dianópolis, de Porto Nacional e que a despeito das limitações físicas se mostrava um forte. Aquele homem pequenino, de estrutura física frágil, com o máximo 1,60m de altura, mancando de uma perna, de fisionomia também um pouco rústica, em vista da sua origem de nascimento. Só muito depois compreendi que era frágil aos olhos humanos e gigante aos olhos do Criador. Demonstrava no semblante, em qualquer circunstância, o retrato da humildade. Com a mão apoiando o queixo, como fazem os grandes sábios, pensadores e espiritualistas, ouvia a todos da mesma forma, dos mais humildes aos que se achavam importantes no contexto da sociedade da minha cidade e do nosso Tocantins. Na visão de menino adolescente eu tinha a impressão de sempre estar em frente de um passarinho, mais parecido com um beija-flor. Mas tinha na voz a suavidade de um canto suave que o pequenino beija-flor não possui, embora na visão dos que apreciam os valores essenciais espirituais tivessem a mesma beleza.
A igrejinha de São José superlotada a cada celebração por ele comandada. A comunhão por ele distribuída através da hóstia sagrada, repetindo a partilha do pão, como ensinou o Doutor dos doutores, que traziam os poderes do Espírito Santo, era concorrida e disputada pelos fiéis como o beija-flores à busca do néctar das flores. E eu, menino, ainda, imbuído de um estado espiritual que até hoje procuro melhorar, ouvia em cada palavra daquele pregador o incentivo a seguir na trilha da espiritualidade, que também exige e muito, um aprendizado desligado das passageiras benesses, prazeres e facilidades da vida material e puramente humanas. O Padre Luso era daqueles sacerdotes que, a exemplo de São Francisco de Assis, conversava, entendia e era entendido pelos animais. No silêncio, simplicidade e pureza da sua santidade curou enfermos e resgatou esperanças perdidas. Quando falava o nome de Jesus, demonstrava a intimidade que guardava com o Mestre.
E eu, ainda menino, além da honra de servir o vinho no cálice da celebração e derramar água para lavar aquelas mãos diferenciadas, sentava-me nos degraus do altar para ouvir o mais extraordinário depoimento sobre a vida de Jesus. Veio daí, em parte, minha vocação para ir para um seminário com 13/14 anos de idade, mas que meu coração de poeta apaixonado pela família me forçou a voltar para o convívio do paraíso que era meu lar. Mas a semente lançada por aquele semeador incomparável e regada por meus pais, irmãs e irmãos, ficou plantada, germinou e desde os 18 anos de idade, quando deixei meu lar transformou-se numa árvore com o tronco de valores que são sustentáculos da minha existência moral, espiritual e material.
E eu, coroinha e menino e por toda vida admirador de uma pessoa que eu já considerava um santo e agora, o Vaticano de dentro do luxo e riquezas que nada tem a ver com Padre Luso, tem que autorizar o processo para torná-lo santo. Mal eles sabem que Padre Luso é que teria que tinha que autorizar o Vaticano e exigir que aquela entidade cumprisse os princípios da humildade, caridade e amor. Mesmo sabendo que a santidade não tem pátria ou local preferido, pois mora no coração das pessoas de bem, será o primeiro santo do meu estado natal, o Tocantins. Ao tempo que agradeço ao criador a oportunidade que me deu de conhecer e servir uma pessoa de espírito tão elevado, lamentando que as novas gerações e muitos da minha, não tenham a mínima noção de quem foi aquele ser humano. Mas quem tiver a curiosidade necessária poderá pesquisar sobre o mesmo. A santidade é simples e perfeita como tudo na natureza. Salve, salve o nosso Santo Padre Luso!
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja.”
(Dedico este artigo a todos meus compatrícios, conterrâneos e minha família, em especial minha irmã Celeste e meu irmão Avim.)
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com