E para que esse tempo chegue é necessária muita paciência, aliás, uma das maiores, se não a maior virtude, como nos ensina a filosofia chinesa. E assim, a cada dia que passa, em vista das circunstâncias que nos cercam torna-se, sem dúvida, difícil de ser exercida.
Nos dias de hoje, principalmente, pelo fato da correria, da violência, do descrédito nas instituições, nas injustiças praticadas contra os mais fracos, nas cobranças intermináveis por comportamentos e atitudes, tudo isso gerando um estresse incomparável.
E se não bastasse, quase que a unanimidade da humanidade se desespera, como nunca, atrás do dinheiro e do sucesso, como se aí residisse a solução. E, assim, muitos transformam tal atitude numa busca sem fim, que aos poucos se transforma num martírio, pois acham que tudo que desejam faz parte, também, talvez por falta de conhecimento, do estágio que nosso espírito está vivendo nesta vida terrena, esquecendo que aqui não passa de um mundo da matéria e da ilusão.
Prova inconteste disso é que quando atingimos a meta desejada ou traçada, sempre queremos mais e quanto maior o poder aquisitivo, mais dinheiro e bens materiais se amontoam no caixa e na caixa da ganância, alimentando a roda viva da busca incessante do ter tudo e se achar o dono do mundo, o que na realidade jamais será atingida em plenitude, pois dessa forma nunca o desejado e sonhado estará lá.
E porque não desenvolvermos a paciência, dando a ela o tempo com a espera necessária, para podermos observar que existe um propósito e um tempo para tudo? É que não paramos para analisar a realidade que nos cerca. Sempre temos pressa de conseguir bens materiais, muitos bens materiais…
Mas nunca é tarde para dedicarmos atenção, aperfeiçoar e colocar em prática em nossa vida essa virtude tão importante e sublime: A paciência! E para tal, necessário se faz que organizemos nossos pensamentos, palavras e ações, antes que o tempo se esgote, tendo em mente que tudo tem seu tempo e tudo vem a seu tempo. Até no amor é assim…
Necessário que observemos os exemplos que nos apresenta a natureza. Nela, nada, absolutamente nada, foge ao seu ritmo. O óvulo após fecundado, tem o seu tempo de nascer; a semente após plantada, o seu tempo de germinar; a flor para desabrochar e o fruto para amadurecer. Na natureza nada acontece antes ou depois do que deve ser.
Recorramos ao que nos disse Mateus, um dos apóstolos precursores, digo precursor por entender que todos nós, cada um a seu jeito, somos apóstolos dos tempos modernos, anunciando e praticando uma vida desvencilhada de sentimentos menos nobres e menos mesquinhos. Ele disse: “Muitos profetas desejaram ver o que vedes e não viram; ouvir o que ouvis e não ouviram.” Complementado pelo que afirmou o Apóstolo João: “Disse-lhe Jesus: Porque Me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.” Podemos concluir que somos mais tão privilegiados como os discípulos que viram cara a cara e conviveram com o Mestre.
Cada dia torna-se mais difícil caminhar sem escutar essa voz interior que possuímos. Vinda, tenho certeza, desse mundo superior e desconhecido por muitos, que continuam insistindo em não constatar e comprovar todas as maravilhas que nos cercam e que são operadas, diuturnamente no nosso meio, independentes da intervenção humana.
Existem pessoas que vivem anos e anos dentro de um templo religioso, mas não conseguem ouvir o que a voz interior vinda do espírito diz todos os dias. Muitos são os que quase todos os dias dão esmolas e que nunca se dignaram tocar nas mãos dos mais necessitados ou dirigir-lhes uma palavra de conforto ou um cumprimento. É triste, muito triste, que seja assim.
Muitos são os que se prendem à própria limitação espiritual, cujo desenvolvimento exige aprofundados estudos e só conseguem ver as bênçãos lógicas, corriqueiras, que descem sobre todos nós, a exemplo da chuva, do sol, a comida, a noite de sono e tantos outros acontecimentos que parecem tão naturais.
Contemplar a grandeza e as maravilhas desse Ser Supremo, é enxergar além do simples mundo material que conseguimos ver nesta ínfima terceira dimensão em que vivemos. É ver e sentir o impossível, tocar o que parece inatingível, é crer naquilo que nem sempre se vê, mas que está aí ao nosso lado o tempo todo.
E como dissemos no início, para vermos, sentirmos e experimentarmos tudo isso, necessário se faz cultivar a paciência. Que saibamos inserir em nosso dia a dia, essa virtude imprescindível pois só assim poderemos, com certeza, constatar o bem que nos faz e fará. Seremos capazes de descobrir que ela traz consigo algo tão desejado e almejado por todos: a felicidade que é um dos sentimentos mais nobres e muito pessoal.
Cultivemos, então, a paciência e sejamos mais felizes. E não nos esqueçamos que o tempo é necessário até para que a paciência ocorra no tempo certo.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com