Deixo registrada nesta crônica minha admiração e homenagem ao José Alencar Costa Aires, Conterrâneo-Primo-Confrade da Academia de Letras de Dianópolis e amigo inseparável nas aventuras da adolescência e juventude, em todo curso ginasial, nas serenatas improvisadas e tantos outros elos que sustentam nossa amizade até os dias de hoje.
Pelo menos para mim não é surpresa ele tornar-se um grande poeta, compositor e músico. Se não bastasse ser autor de hino da nossa cidade natal, também gravou inúmeras e belas músicas de sua própria autoria. Sempre viveu à frente do nosso tempo e dos costumes da época. Ainda adolescente tornou-se sócio do Clube da Rádio Bandeirantes de São Paulo; compunha e musicava excelentes canções e se não bastasse, foi através dele que ouvi falar pela primeira vez no aperfeiçoamento da forma física. Ele nos repassava os exercícios aprendidos via correspondências e ensinadas pelo fisioculturista canadense Joe Weider, e olha que isso se deu na dácada de 1960/70, sem contar que era o primeiro a receber os discos em vinil, LPs e compactos dos Beatles e toda jovem guarda.
Alencar apenas ratifica o que afirmava o inigualável Poeta Agusto dos Anjos: “Nasce-se poeta e não se muda mais!” E complementava o mestre Monsenhor Magalhães, nosso inesquecível “Padre Magalhães”, uma das pessoas mais importantes para muitas gerações em nossa terra natal e que inseriu a cultura da boa leitura e o gosto por músicas clássicas e sempre citava a velha máxima latina: “Poeta nascitur, orator fit!” (Poeta nasce, o orador se faz.)
E se não bastasse o caminho que sempre trilhei em busca de boas leituras e músicas, diga-se de passagem, também ecléticas, a vida colocou em meu caminho, o poeta Antônio Carlos Osório, que foi o primeiro advogado de Brasília, primeiro, primeiro presidente da OAB/DF e um dos fundadores da Academia de Letras do Distrito Federal, incentivador maior dos meus primeiros passos no mundo de escritores e da publicação de poesias e crônicas e que dentre inúmeros hai-kais escreveu o seguinte: “E de repente a gente percebe que a vida passou…Tão de repente e tão pertinho da gente.” E como tinha razão!
E no aproveitar essa felicidade do aprendizado de tudo que nos oferece a vida é que descobri que neste rastro de ser feliz, um estado de espírito que depende tão somente de cada um de nós, fui agraciado com mais essa dádiva de prescrutar e analisar os sentimentos transformando-os em poemas e formas outras e, assim, concluir que o poeta é irmão gêmeo do tempo, pois, embora trazendo consigo o desgaste que o mesmo tempo impõe à matéria, de forma progressiva e natural, isso não o incomoda pois tem o espírito transcendental e acima do apego ao material.
O poeta carrega as aflições impostas pelo tempo, em especial aos sonhadores. O poeta é a própria vida em si, às vezes indelicada, outras, afetiva, outras, apaixonada.
Para o poeta a vida é assim, sempre testando a sua emoção, mas como sonhador continua persistindo e percorrendo o mundo dos sentimentos que habitam e desafiam seu coração, mas que para ele acalma a sua alma.
O poeta é o ser necessário neste mundo áspero e com tantas desigualdades, quase todo dominado pelo escárnio, inerente à humanidade. Vive tentando entender a sordidez que fere a dignidade e a honradez. É o homem despido de vaidades e ama o que possui, com dignidade. Tem aversão aos que se intitulam de magnatas que desprezam quase todos em troca de seus bens e por quase nada.
Enfim, o poeta é esse ser que antes de compor poemas, versos, perfeitas rimas ou crônicas, procura compreender e curtir o poema de amor mais perfeito que existe e que se chama vida, composto pelo Supremo Criador e diuturnamente colocado ao nosso dispor.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com