Caro Vicentinho,
Com muito prazer e elevada dose de orgulho que o tenho por amigo especial. Esse sentimento de apreço por você se tornou ainda maior pela postura que tomou neste segundo turno da eleição presidencial. Diante de dois caminhos, caro senador, você optou pelo mais difícil, o dos mais pobres, dos injustiçados deste País terrivelmente injusto.
A maioria mais que absoluta dos nossos líderes tocantinenses virou as costas para o que seu povo apontou nas urnas no dia 2 e decidiu ficar na foto ao lado dos ricos e poderosos. Apropriando-me de uma figura bíblica, Vicentinho, entraram pela porta larga, de estrada ampla, mas que leva à destruição de nossa curta e sofrida Democracia, que relega às calendas gregas nossas necessárias lutas pela inclusão social e pela redução das nossas abismais desigualdades. O bom amigo tomou a porta estreita, que, retomando a metáfora do Livro Sagrado, é de apertado caminho, mas que leva à vida. São poucos os que a encontram, avisa o amoroso Mestre.
Caro Vicentinho, nessa difícil escolha, você ouviu a voz que ainda ecoa do saudoso Dom Pedro Casaldáliga, que dizia: “Na dúvida, fique do lado dos pobres”. É essa estrada esburacada que o amigo tomou, com coragem e fé.
Já havia me admirado quando você deixou o pomposo cargo de secretário nacional de Infraestrutura Turística, do Ministério do Turismo, em agosto do ano passado. Poderia ficar posando de bacana, curtindo as benesses do poder e de olhos fechados para um governo desumano e incompetente. Acho que o amigo, lúcido como é, não suportou se ver desambientado como estava em meio a doidos disparando pedradas na lua.
O interessante, senador, é que os outros líderes anunciaram apoio ao “inominável homem das trevas” e parece que foram cuidar de suas vidas. A impressão é que, levados pelo beiço para a campanha contra a Democracia capitaneada pelos ricos e poderosos deste Estado, cumpriram o protocolo e, como Pilatos, lavaram as mãos e mandaram o réu inocente – a Democracia – para ser executado longe de seus olhos. Enfim, emprestaram os nomes e os rostos para figurarem na mídia e redes sociais, para fazerem a média “com quem manda”, mas não quiseram se comprometer com a execução da pena capital.
Você não fez isso, meu querido amigo. Daí meu orgulho de tê-lo ao meu lado. Entrou pela porta estreita, saltando buracos, pedreiras e lamaçais, tomou as estradas tocantinas e está de corpo e alma pelo Estado em busca dos votos necessários para tentar impedir que nossa Democracia e a justiça social que defendemos sejam executadas por aqueles que pensam somente nos seus ganhos individuais, não no desenvolvimento coletivo, com a inclusão de todos, sem deixar ninguém para trás.
Amigo, vai ser uma disputa muito apertada e, apesar de manter a esperança acesa com a brasa quente soprada semana passada pelo querido Derval de Paiva, acho que tudo pode ocorrer. Inclusive, o pior, em que ignorância e a brutalidade destes tempos prevaleçam por outros longos quatro anos.
Sei que, como Derval, o senador está cheio de um otimismo até juvenil, talvez contaminado pelos jovens da Frente pela Democracia dos quais vem se cercando nos últimos dias de caminhadas intensas pelas diversas cidades do Tocantins. Neste momento não sou otimista nem pessimista, mas me inspiro no grande Ariano Suassuna para me classificar como um “realista esperançoso”.
Os próximos dias serão de muita apreensão, de incertezas quanto ao futuro do Brasil e de elevação da temperatura social que a todos sufoca. Mas o amigo, que me conhece bem, sabe que não tem pressão deste mundo que me tira desta trincheira até estar tudo consumado. Nem lista de boicotes que ando frequentando, nem o ódio exalado pelos autodeclarados “cristãos”, mas que, nas palavras certeiras do Divino Mestre, são sepulcros caiados, em que por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão. Se ficarmos aqui eu e uns poucos me lendo, será o suficiente para que continue com este trabalho de formiguinha, tentando apagar o fogo da floresta com pingo d’água.
Senador, nós conhecemos a história, pela leitura e pela vivência. Você, inicialmente, militando ao lado do gigante Leonel de Moura Brizola e eu nesta difícil missão de informar e formar opinião. Por isso, sabemos muito bem onde vão desembocar esses movimentos de massa às cegas, sem qualquer reflexão crítica, uma entrega meramente instintiva, figadal e com um desqualificado à frente. São cegos guiando cegos.
Tem um abismo bem ali à frente, Vicentinho, mas eles só olham para o lado para destilar ódio, preconceitos e reproduzir as falsificações com que se enganam e que se usa para mantê-los presos ao cabresto. Quando se derem conta, meu querido, precipitarão num despenhadeiro e nos tragarão juntos. Desse fosso levaremos décadas, talvez, para sair.
Mas vamos manter acesa a esperança na vitória da Democracia.
Manda um abraço ao Júnior, que está cumprindo seu papel, mas cujo coração sabe o que é melhor. Afinal, como diz o dito, o fruto não cai longe da árvore.
Saudações democráticas,
Cleber