Caro Fábio Lopes,
Li atentamente a longa e dura nota pública da Regional Palmas do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sintet), presidida por você, em resposta a supostas afirmações da nova secretária da Educação da Capital, Débora Guedes. Foi a mais pesada nota que já vi sua entidade emitir nesses últimos anos. A impressão é de que a gestora estaria no cargo, no mínimo, há meses e que em todo esse período se recusou a dialogar com os trabalhadores e aprontou as mais absurdas estrepolias.
Por isso, revi minhas matérias e anotações e constatei que realmente ela só estava há seis míseros dias à frente da secretaria quando a nota foi divulgada. Então, fiquei sem entender. Por que tamanha ira do Sintet contra ela? Já aviso que sequer conversei uma única vez com Débora. Nem pessoalmente, nem por telefone. Nunca ouvi, inclusive, falar dela até que soube que se elegera vereadora.
Nas minhas intensas viagens das últimas semanas, não tomei conhecimento dessas afirmações que teriam sido feitas pela secretária — “a educação de Palmas está ferida, ela está sangrando” e que irá trabalhar por uma “educação imparcial” — mas percebi, pelo relato da nota de vocês, que foram proferidas dentro de um cenário administrativo caótico em que a pasta foi encontrada, não uma referência ao desempenho dos profissionais que fazem a educação de Palmas, como o texto de vocês leva a supor. O “imparcial” aí me soou uma alfinetada sobre o aparelhamento que os próprios educadores sempre me diziam que havia na secretaria.
Aliás, fui testemunha do caos da educação nos últimos meses da gestão passada, procurado diariamente por diretores de escolas desesperados com dinheiro da reforma das unidades que foi tomado, com a energia prestes a ser cortada, com o pagamento dos fornecedores de alimentos para a merenda, entre outros. Depois veio a fatídica eleição atabalhoada, no último dia de ano letivo, em que candidatos a diretor com ínfimos quatro, cinco e sete votos acabaram escolhidos, o que me levou à reflexão: para que raios, então, se gastou tanto com um processo eleitoral? Só para fingir para o MEC ou algo do tipo?
Prezado Fábio, creio que cada um desses problemas acima merecia uma nota dura como essa que vocês destinaram a Débora. Mas não ela, pelo menos neste início de trabalho. A secretária apanhou sem saber por quê. Não lhe foi dado tempo sequer de tomar pé detalhadamente da situação que terá que administrar.
Acredito que o sindicato tem cobrar mesmo resultados, bem como nós da imprensa, e o faremos sim. Agora, antes, é preciso aguardar um período para que os novos gestores se inteirem do quadro herdado e coloquem em prática suas políticas públicas, sua forma de gerir, seus programas, etc.
O Sintet tem uma importância enorme na construção de uma educação de qualidade, com profissionais valorizados, e temos a entidade como grande parceira para exigir eficiência dos agentes públicos e políticos. Contudo, caro Fábio, acirrar uma relação que pode ser saudável e edificante para a gestão e o sindicato de forma tão prematura não condiz com a postura que o magistério e seus líderes de classe adotaram com todos os governos que passaram. Pelo menos foi assim que acompanhei nesses últimos 20 e poucos anos.
Sucesso para você, feliz ano novo, e que nossos profissionais da educação possam ter muitas conquistas e alegrias em 2025. Vocês são essenciais para superarmos o obscurantismo que impera aí fora.
Saudações democráticas,
CT