Na era da informação, dados são poder. E no cenário político, metadados e inteligência artificial (IA) emergem como o novo petróleo, impulsionando campanhas, moldando mandatos e redefinindo a gestão de crises. À medida que nos aproximamos de 2026, fica claro que dominar essas tecnologias não é apenas uma vantagem – é uma necessidade para sobreviver e prosperar no turbulento mar da política moderna.
Imagine um cenário onde crises são antecipadas antes mesmo de eclodirem, onde cada mensagem ressoa perfeitamente com seu público-alvo, e onde recursos são alocados com precisão cirúrgica. Isso não é ficção científica; é a realidade que já está sendo construída por políticos visionários ao redor do mundo.
Barack Obama, em 2008, foi pioneiro ao utilizar metadados para uma segmentação precisa de eleitores, arrecadando impressionantes US$ 127 milhões online. Donald Trump, em 2016, levou essa abordagem ao extremo com o polêmico uso da Cambridge Analytica, explorando dados de milhões de usuários do Facebook para microtargeting eleitoral. Já Emmanuel Macron, na França, inovou em 2017 com o uso de IA para analisar propostas de políticas públicas e refinar sua plataforma de campanha.
No México, a candidata Xóchitl Gálvez demonstrou o poder da IA na preparação para debates, utilizando chatbots para simular cenários e aprimorar suas respostas. Essa abordagem inovadora não apenas melhorou seu desempenho, mas também revolucionou a forma como candidatos se preparam para o escrutínio público.
Ainda, nos Estados Unidos, vimos a campanha de Joe Biden em 2024 desmantelar um perigoso áudio deepfake em questão de horas, graças a algoritmos avançados de detecção. Na Europa, partidos alemães usaram IA para filtrar desinformação durante a crise migratória de 2023, protegendo a integridade do debate público.
Aqui no Brasil, o cenário não é diferente. O governador Tarcísio de Freitas demonstrou o poder dessas ferramentas ao reduzir o tempo de resposta a emergências em 18%, utilizando sistemas de reconhecimento facial e análise preditiva. Em Manaus, um caso de áudio falso atribuído ao prefeito David Almeida em 2023 levou a uma operação da Polícia Federal contra empresas suspeitas de usar IA para difamação eleitoral, mostrando os desafios éticos que enfrentamos.
Em Guarulhos, o prefeito Guti enfrentou problemas ao compartilhar um vídeo com imagens de multidão criadas por IA, resultando em ordem judicial para remoção por falta de indicação de conteúdo manipulado. Esses casos ilustram a necessidade urgente de regulamentação e transparência no uso dessas tecnologias.
Por outro lado, vemos exemplos promissores de uso institucional da IA. A Câmara dos Deputados utiliza desde 2018 para análise de emendas legislativas e interpretação de comentários públicos. O Senado Federal está finalizando testes de um “ChatGPT” especializado em normas brasileiras, enquanto a ONG Legisla Brasil desenvolve uma IA para assessores parlamentares. No Tocantins, já está sendo testado o Nomos, uma IA com consulta a legislação, elaboração de projetos de leis e outras funcionalidades para os municípios tocantinenses. Essas iniciativas mostram o potencial da IA para aprimorar processos democráticos e a eficiência legislativa.
A verdadeira revolução está na capacidade de personalizar estratégias em uma escala sem precedentes. Na Argentina, Javier Milei conquistou 72% de aprovação entre jovens urbanos com conteúdos hiperpersonalizados gerados por deep learning. No Brasil, ferramentas como o ChatGPT já estão sendo empregadas para criar discursos e materiais educativos, embora o TSE, sabiamente, exija transparência na identificação de conteúdos gerados por IA.
Claro, com grande poder, vem a grande responsabilidade. Os desafios éticos são imensos. Deepfakes, manipulação de áudio e vídeo, e o uso indevido de dados pessoais são ameaças reais à democracia. O TSE deu um passo importante ao proibir deepfakes e exigir identificação de conteúdos gerados por IA. A União Europeia também está na vanguarda com sua Lei de IA, que entrará em vigor em 2026.
Olhando para o futuro, é evidente que a política data-driven não é apenas uma tendência passageira, mas o novo normal. Análises preditivas, avatares multilíngues e simulações de crise em tempo real serão tão essenciais para um político quanto o aperto de mão e o sorriso fotogênico eram no passado.
No entanto, é crucial lembrar que a tecnologia é uma ferramenta, não um substituto para a liderança autêntica e a conexão humana. Os políticos que triunfarão no seus mandatos, nas eleições de 2026 e subsequentes, serão aqueles que conseguirem equilibrar a precisão algorítmica com empatia genuína, a velocidade da IA com a sabedoria da experiência humana.
Em um mundo onde cada tweet pode desencadear uma crise e cada vídeo viral pode mudar o rumo de uma eleição, metadados e IA são, de fato, o novo petróleo da política. Mas como todo recurso poderoso, seu valor real está em como é utilizado. Usado com ética e visão, pode elevar o debate público, aprimorar a governança e fortalecer nossa democracia. Usado irresponsavelmente, pode aprofundar divisões e minar a confiança nas instituições.
À medida que nos preparamos para as eleições de 2026, uma coisa é certa: o futuro pertence àqueles que souberem navegar neste novo mar de dados, sem perder de vista e o horizonte dos valores democráticos. O desafio está lançado. Quem responderá?
ROBERVAL MARCO RODRIGUES
É consultor em soluções estratégicas, relações institucionais e Governamentais