Cara senadora Dorinha,
Como afirmei logo após as campanhas do ano passado, você foi a grande vencedora das eleições municipais de 2024 entre todos os principais líderes tocantinenses. Isso não é só mera estatística para mostrar que o seu União Brasil terá o comando de mais de um terço da população do Estado, mas um fato que, somado à sua história, à confiança que tem dos prefeitos e ao reconhecimento nacional por sua atuação, aponta para uma pré-candidatura a governadora mais do que consolidada em 2026. Assim, a questão que se põe à sua frente não é se seu nome tem competitividade — é óbvio que tem –, mas quais os caminhos deve trilhar.
Nesse ponto, a senadora navega em mares tranquilos. Não tenho dúvida de que a vantagem competitiva de seu nome lhe garante a condição de escolher por onde seguir para construir essa candidatura, sem a necessidade de ficar a reboque do Palácio. Vejo justamente o contrário, que o governador Wanderlei Barbosa, caso queira fazer o sucessor, depende mais de você do que você dele. Se o governo tentar impor uma candidatura ao eleitorado vai naufragar de forma até pior do que ocorreu com aqueles que queria fazer a população engolir em outubro em Palmas, Araguaína, Porto Nacional, Paraíso e Nazaré, só para ficar em algumas cidades em que a derrota palaciana foi fragorosa.
Estamos vendo algumas mexidas de peças do governo que apontam para cenários possíveis, ainda que incipientes e meros ensaios para verificar se prosperam diante da opinião pública. Um deles é com o presidente da Assembleia, Amélio Cayres, que sombreia todas as fotos e os vídeos em que o governador aparece. Numa jogada que emite sinais de combinada entre os três, o deputado federal Alexandre Guimarães vem insistindo em vídeos e discursos na candidatura do presidente do Legislativo estadual.
Com essa vantagem de não depender do Palácio para cristalizar sua candidatura, você precisa considerar outras variáveis antes de — reforço — desnecessariamente correr atrás do governo implorando por seu apoio. Isso cabe a quem não tem condições de encarar a empreitada sem ser empurrado pela máquina. Não é o seu caso. Então, uma pergunta que a senadora precisa se fazer é para onde caminha o governo que aí está. Além do mais, considere a força que saiu das urnas do ano passado e que quer criar uma alternativa ao Tocantins baseado na necessidade de uma boa gestão — casos de Wagner Rodrigues, em Araguaína, Celso Morais, em Paraíso, Ronivon Maciel, Porto Nacional, entre outros –, e que conta com um líder de peso resgatado pela população, Eduardo Siqueira Campos, em Palmas.
Para ajudá-la nessa reflexão, digo-lhe ainda que o Wanderlei de 2025 não é aquele do início de 2024. Encontra-se muito desgastado perante importantes líderes pelas barbeiragens que cometeu nas articulações para as eleições municipais, e, por isso, acumulou derrotas estrondosas e converteu muitos aliados em adversários e até em inimigos. Ainda foi alvo de uma dura operação da Polícia Federal, cujo desfecho — apesar de dizerem nos bastidores que políticos com trânsito foram a Brasília e “seguraram” essa bomba — é uma incógnita. Refiro-me àquela história funesta de desvios de cestas básicas destinadas a pessoas humildes com fome na pandemia da covid-19, uma podridão que me embrulha o estômago só de pensar que pode ter realmente ocorrido. Nunca vi nada pior que isso em desvios de recursos. Reli toda a peça judicial para anotações no final de semana e meus olhos se encheram de lágrimas. Será que alguém realmente fez aquilo? Torço para não ser verdade.
A crise fiscal está à porta, senadora, e já mostra os dentes. Limite de alerta extrapolado e limite prudencial à beira de ser estourado. Prefeitos sem receber o Tocando em Frente, transporte escolar urbano cortado, Servir com prestadores de serviços atrasados. Pior: sem qualquer vislumbre de que alguma medida de ajuste será acionada. E teremos agora a vinculação do subteto do funcionalismo estadual ao salário do desembargador do Tribunal de Justiça e em maio chega a data-base dos servidores. Sem falar — e isso é muito preocupante — as possíveis contratações pré-eleitorais aos montes que tendem a ganhar força depois de abril.
Ou seja, Dorinha, caminhamos para a repetição do que vimos lá atrás em que, em período pré-eleitoral, vão pisar no acelerador da gastança, com um “dane-se” para as contas públicas. E fica a pergunta: que governo você ou Laurez Moreira vai herdar? Antes: até que ponto um governo que comprometeu todo o esforço da sociedade para ajustar as contas do Estado poderá ajudar na campanha?
Só algumas reflexões para a senadora lembrar que saiu grande das eleições municipais, como também um grupo fortalecido, de jovens e também de experientes, disposto a construir uma alternativa que pense em qualidade de gestão.
Saudações democráticas,
CT