Caro senador Irajá,
Quero cumprimentá-lo pelo necessário discurso que fez na noite dessa terça-feira, 11, no Senado, sobre o risco de uma nova crise fiscal no Tocantins. Enfim, esse tema chegou a um Parlamento. Digo isso não é para me pôr contra o governo Wanderlei Barbosa, mas porque é um dos mais sérios problemas que o Estado está voltando a enfrentar e que tanto mal já nos causou. Vivemos, senador, 11 longos anos — entre 2007 e 2018 — sem liquidez, o que significa dizer sem a mínima capacidade de investimento e muitas dificuldades para bancar o custeio da máquina pública.
Servidores estaduais viram o pagamento de seus salários mudar para o dia 12, datas-base e progressões se acumularam sem perspectiva de serem quitadas, plano de saúde suspenso, fornecedores sem receber, a deterioração completa dos serviços públicos essenciais e estradas totalmente esburacadas. E não queremos voltar a essa situação de penúria total.
Contudo, Irajá, não há qualquer reação na sociedade. Não para se colocar contra o governador, não é isso. O que precisa ser feito é cobrar medidas urgentes de ajustes, antes que seja tarde demais. Além de não se ver absolutamente nada nesse sentido, o Palácio insiste em negar os sintomas claros de desarranjos. Melhor seria assumir que algo deu errado e rever a rota. Assim, Wanderlei teria o apoio de todos, não tenho dúvida. Mas negar o óbvio neste momento é de um absurdo sem precedentes e vai agravar o quadro.
Quando comemoro que, enfim, a discussão sobre a crise fiscal chegou a um Parlamento, senador, não é exagero. Tenho um capítulo enorme em um livro — “2018” — só sobre a crise fiscal passada. Cobri de dentro, pari passu, por isso, sei do que estou falando. Vivi como jornalista e experimentei como empresário os efeitos perversos da falta de liquidez do Estado. Porém, Irajá, apesar da gravidade, a Assembleia nunca falou do tema. Só depois dos ajustes promovidos por Carlesse a crise fiscal entrou na pauta do Legislativo, quando os parlamentares, para fazer média, passaram a cumprimentar servilmente o então governador.
Desta vez, não está sendo diferente. Nenhum deputado fala do assunto, apesar de sua gravidade. Nessa terça-feira mesmo, a sessão foi um espetáculo de horrores, com um puxa-saquismo inominável para defender o direito inalienável de Wanderlei de jogar bola, porque faz “o melhor governo da face da terra”. Simples, senador, os parlamentares, em sua maioria, foram cúmplices no passado e são cúmplices hoje novamente da crise fiscal pela ação — empregando inúmeros cabos eleitorais na máquina — e pela omissão — uma vez que se recusam a discutir essa situação. Mais uma vez: não se fala aqui de se pôr contra o governo, mas de ajudá-lo a desviar o Tocantins da rota que nos levará a um lamaçal do qual, se chafurdarmos, não nos limparemos sem enormes sacrifícios sociais.
Tudo em nome de empregar cabos eleitorais e do recebimento de emendas. Tenho uma lista de uma entidade nas minhas mãos, senador, que é a ponta desse iceberg. Só ela recebeu para os shows desse carnaval de Palmas R$ 1,570 milhão em emendas e também para shows, no ano passado, outros R$ 8,845 milhões, perfazendo um total de R$ 10,415 milhões. Só para uma entidade! Tenho a lista de todos os deputados que enviaram emendas, valores individuais e até ordens de pagamento. Irajá, reforçando, isso é de uma entidade apenas! A fonte me disse que são muitas dessas. Então, não estão preocupados mesmo com crise fiscal.
É uma triste realidade.
Já que a Assembleia não tem esse compromisso com o Estado, a sociedade, que é quem vai sofrer, precisa ter e cobrar medidas imediatas de ajuste. Outra vez, não é para fazer oposição e desestabilizar governo, ao contrário, é para garantir solidez ao Estado, da qual o atual mandatário será o principal beneficiado politicamente.
Parabéns pelo seu pronunciamento mais do que necessário.
Saudações democráticas,
CT