Faz todo sentido a preocupação do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luiz Fux, com a interferência das fakes news (notícias falsas) no processo eleitoral. Elas têm, sim, o poder de influenciar a decisão do eleitorado, dependendo da dimensão que tomar, sobretudo nas retas finais das disputas. Se de um lado, as fakes news mostram desprezo de quem as utiliza pela democracia, de outro, revelam o despreparo dos eleitores para lidar com as redes sociais.
As fakes news são produzidas pela utilização de informações falsas sobre temas que acabam pautando o debate do processo eleitoral e, com isso, desequilibram as disputas, prejudicando candidatos. Soam ainda como uma espécie de fakes news matérias plantadas para atingir o adversário tanto em veículos regionais como naqueles de circulação nacional, uma prática, diga-se, muito comum nas eleições do Tocantins. Por aqui, nas retas finais de todos os pleitos, aparecem na última semana e dias matérias em jornais, sites e revistas de circulação por todo o País, que emprestam a credibilidade para interferir no processo eleitoral. Algumas vezes isso é feito pela amizade de políticos do Estado com dirigentes e jornalistas desses veículos de São Paulo, Rio e Brasília. Em outros casos, simplesmente paga-se pela publicação, e as denúncias ganham ares de jornalismo.
[bs-quote quote=”Denuncismo não me emociona, não me convence e não surfo nessa onda falsamente moralizadora de qualquer candidato que seja. Trata-se de mero pragmatismo e oportunismo eleitorais. Aguardo o pronunciamento das autoridades” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Já há várias eleições que, por esses motivos, o CT não repercute essas denúncias claramente plantadas. O site prefere ficar restrito ao pronunciamento direto das autoridades — Polícias, Ministérios Públicos e Poder Judiciário. O objetivo dessa política editorial é não integrar a estratégia meramente eleitoral de nenhuma campanha.
O uso de fakes news por candidato mostra total desapreço à democracia e uma disposição a tomar o poder a qualquer custo, o que é um mau sinal. Se o político faz isso para chegar lá, o que fará quando tomar posse? É uma questão que sempre me faço.
Nunca gostei dessas ações denuncistas de período eleitoral. É interessante que nos intervalos entre uma eleição e outra não se vê no Tocantins nenhuma denúncia de político contra político. Todos são silêncio absoluto, apesar de veem irregularidades diversas pelas importantes posições que ocupam. Mas não dizem nada, porque, afinal, não escolheram ainda quem será o adversário na eleição seguinte.
Geralmente, quando chega setembro do ano que antecede as eleições, o cenário de disputa começa a tomar forma, aí aparecem os defensores da moralidade na vida pública para apontar o dedo para o outro. E quanto mais se aproxima do período eleitoral, mais “coragem” tomam para denunciar.
Passadas as disputas, quando um chamou o outro de “corrupto”, “bandido”, “chefe de quadrilha”, depois de toda essa tormenta e com a chegada da calmaria, a vida segue em paz até o setembro que antecederá a outra eleição. Puro oportunismo.
Mas a questão não se resume a isso. Na eleição seguinte o que foi chamado e o que chamou o outro de “corrupto”, “bandido”, “chefe de quadrilha” se unem e esquecem tudo que foi dito. Então, surge uma dúvida: o que chamou o outro de todos esses nomes feios mentiu por conta do processo eleitoral, ou se conformou e aderiu ao bando?
Por isso, sempre aviso: denuncismo não me emociona, não me convence e não surfo nessa onda falsamente moralizadora de qualquer candidato que seja. Trata-se de mero pragmatismo e oportunismo eleitorais. Aguardo o pronunciamento das autoridades. Se falam, o CT fala, senão, fico nas movimentais normais e civilizadas das disputas.
Muitos anos atrás, no início dos trabalhos do CT, o candidato “corajoso” procurava o site para denunciar o adversário. De boa-fé, publicávamos, dando espaço ao outro lado. O denunciante imprimia panfletos para distribuir ao eleitorado e frisava no papel que o CT é quem estava fazendo a denúncia, quando só éramos o mediador. O caso ficava por aí, só na discussão eleitoreira, apesar dos ares de seriedade que o “escândalo” trazia.
Por isso, a partir de então, no período eleitoral, passamos a exigir que o denunciante vá ao Ministério Público faça uma representação para fazermos a matéria a partir dela. Isso é postura de gente séria, que realmente quer atacar as mazelas. Sumiram as denúncias. Ou seja, só querem instrumentalizar o veículo de comunicação para fins eleitoreiros. E o CT não participa desse circo, e podem criticar à vontade.
O eleitor também é cúmplice nas fakes news. Elas não teriam futuro se não fossem compartilhadas nas redes sociais aos milhares. A primeira medida que o cidadão deve tomar ao receber um link com denúncia é clicar e ler. Verificar as fontes, os indícios. Só com este ato de clicar, a maioria das fakes news não prospera. É igual fofoca: só vai para frente porque um conta para o outro.
Dias desses um amigo enviou um link de um jornal conhecido, mas com uma chamada sensacionalista à parte que, de cara, percebia-se que não tinha qualquer relação com a notícia. O cidadão que me encaminhou o fake se mostrava horrorizado com a “denúncia” do veículo contra um dos candidatos desta eleição suplementar. Cliquei no link e não havia no texto nada do que dizia a mensagem que vinha à parte. Avisei o amigo e ele ficou pasmo com a manipulação.
Não compartilhe notícias que atinja a integridade moral de alguém, ainda que não seja o seu candidato na eleição. Pesquise em veículos sérios o que se diz a respeito do assunto, vasculhe o Google, sites do TRE, TSE e outros que têm autoridade para falar sobre o assunto. Não seja cúmplice da má-fé, do vale-tudo eleitoral, que demonstra uma sede de poder fora do normal. Isso não é bom sinal.
Temos que dar civilidade e espírito de elevada democracia às disputas eleitorais neste Estado e neste País. Alguém preparado para representar seu eleitor deve ser respeitoso ao processo eleitoral, à integridade do outro, ainda que seja um ferrenho adversário.
Um bom candidato nem sempre será vitorioso, mas sempre demonstrará elevado espírito público, civilidade e hombridade ao vencer e ao perder.
CT, Palmas, 22 de junho de 2018.