Caros botafoguenses,
Meu coração rubro-negro se inflamou nessa inesquecível noite de quinta-feira, quando o time de vocês tirou do pedestal aquela que é considerada a melhor equipe do mundo hoje, o Paris Saint-Germain, o PSG. Até a partida, todos esperávamos uma derrocada brutal do Glorioso frente ao poderosíssimo clube da França. Foram dezenas de memes ao longo do dia que me chegavam assegurando que a Estrela nunca esteve tão solitária.
Nem tanto. Afinal, vocês, fiéis escudeiros, sempre acreditam que há coisas que só acontecem com o Botafogo, máxima imortalizada pelo ilustre cronista botafoguense Paulo Mendes Campos. E, digo eu, para o mal — caso da perda inacreditável do Brasileiro de 2023, depois de chegar a 13 pontos de frente — e para o bem, como nesse triunfo histórico sobre o PSG.
Sei que essa minha audaciosa afirmação tem o despudoramento de contradizer o mestre Nelson Rodrigues, outro insigne botafoguense, para quem “há, no alvinegro, a emanação específica de um pessimismo imortal”. Continua um dos nossos maiores escritores: “O torcedor do Botafogo é o único que, em vez de esperar a vitória, espera precisamente a derrota”. O autor de “Vestido de Noiva” ainda insiste: “Ele (o botafoguense) compra o seu ingresso como quem adquire o direito, que lhe parece sagrado e inalienável, de sofrer. No dia em que retirarem do torcedor alvinegro o inefável direito de sofrer e, sobretudo, o direito ainda mais inefável de descompor o seu técnico, ele ficará inconsolável, como um ser que perde, subitamente, a sua função e o seu destino”.
Contudo, a despeito do ânimo de seus torcedores, o que se viu dentro de campo foi um enorme nó tático de Renato Paiva sobre o incensado Luís Enrique. O Botafogo simplesmente anulou o PSG, com uma marcação perfeita, apostando nas oportunidades de contra-ataque, quando cravou o único gol da partida. O Fogão teve só 25% de posse de bola, mas, caros alvinegros, não se deixou ser amassado. Encantou os brasileiros, os sul-americanos, os estadunidenses, os asiáticos, os africanos e os europeus. Para voltar ao incontornável Nelson Rodrigues, o Glorioso venceu, acima de tudo, nosso complexo de vira-lata, e mostrou que o futebol nacional tem brilho e tem brio.
Verdade seja dita, amigos botafoguenses, o time de vocês nos deu a alegria que a seleção brasileira nos nega há muitos anos, o que tem tirado de nós o prazer de assistir nosso Brasil em campo e nos levado ao refúgio único e exclusivo de nossos clubes do coração, envergonhados pelo que nos tornamos no futebol mundial.
O que se viu nessa memorável noite de quinta-feira foram flamenguistas, corintianos, vascaínos, palmeirenses, fluzões, santistas e gente de todas as denominações quase religiosas se emocionarem com esse esporte sagrado, como não fazemos desde a conquista longeva da copa de 2002. Já a partir do primeiro tempo, a Estrela de vocês deixou de ser solitária para ser sustentada por toda uma nação de mais de 211 milhões de apaixonados.
Por isso, de novo retomo Nelson Rodrigues para parafraseá-lo e fechar este bilhete sob forte emoção: nessa inolvidável noite de quinta-feira, 19 de junho de 2025, o Botafogo foi a pátria de chuteiras!
Orgulhem-se de seu time!
Saudações democráticas,
CT